30 de abril de 2008

Definições ideológicas II

Pedro Passos Coelho veio também dar esclarecimentos sobre o seu posicionamento ideológico: não é de esquerda, nem de direita! Então é o quê?!

Definições ideológicas I

Manuela Ferreira Leite parece ter vindo ontem esclarecer algumas dúvidas: é social-democrata. Assim sendo, só falta alguém dizer-lhe que, nos dias que correm, devia ser militante do Bloco de Esquerda e não do PSD...

29 de abril de 2008

A direita portuguesa

Há uma semana, no programa Prós e Contras, Ângelo Correia disse que o PSD não podia "ter uma posição liberal numa sociedade que não tem liberais". Por liberal, entenda-se liberal no sentido económico e não no sentido civil...
Toda a gente pareceu concordar e não se gastou muito mais tempo a discutir aquilo que pareceu uma evidência. Mesmo Pedro Passos Coelho, enquanto enunciava propostas claramente liberais do ponto de vista económico (privatização da RTP e da CGD, por exemplo), fez questão de não discordar da afirmação.
Fora dos blogs, parece que, neste país, todos os defensores do Estado-mínimo e da economia de mercado desregulada têm medo de assumir a sua posição. Ora eu (que até sou adepta de uma economia mista e que não concordo com a maior parte das medidas ditas liberais que ultimamente se vão enunciando) acho estes receios muito estranhos...
A direita tem medo que, ao assumir o seu caminho natural - o do neo-liberalismo puro e duro - os votos lhe escapem. Será? Ao contrário do que se apregoa, o discurso liberalizante tem provavelmente muitos mais adeptos do que a esquerda gostaria e a direita imagina...

Em Portugal, as coisas chegam tarde e por vezes "ao contrário" relativamente a outros pontos da Europa. Em geral, foi o centro-esquerda que se redefiniu em função das transformações ocorridas primeiramente no centro-direita. Mais do que a queda do muro de Berlim, foram os governos de Tatcher, Reagan ou Khol que mais fizeram pelo despoletar de uma transformação ideológica profunda à esquerda. O "New Labour", por exemplo, só surgiu depois de os britânicos considerarem, por quatro vezes consecutivas, que eram as políticas dos tories as que mais lhes agradavam. Foi o inclinar das populações para a direita, visível nas sucessivas vitórias dos partidos liberais e conservadores, que levou a esquerda seguir o mesmo "caminho", aproximando-se cada vez mais do centro político.
A teoria tem, então, uma excepção: Portugal! Aqui, a direita não é conservadora, nem liberal, nem nada de muito específico, por isso o PS tratou de fazer o caminho de aproximação ao centro, à semelhança dos seus congéneres europeus, sem que houvesse uma pressão ideológica para isso.
O PSD viu-se expulso, pelo rival directo, do confortável espaço central em que se tinha instalado, estando agora naquela fase em que se poderá limitar a perder eleições. Tal como noutros países e durante as décadas de 80 e 90, os partidos de centro-esquerda se viram empurrados para fora do seu discurso e prática tradicionais pelos resultados eleitorais miseráveis que mantinham.

Em Portugal, é, então, o PSD (e o PP, caso ache que vale a pena continuar a existir) que tem de se esforçar por encontrar o seu novo discurso ideológico se quiser continuar a existir. Parece que os "barões" acham que o liberalismo é mau caminho... Mas têm eles outro por onde escolher?

25 de abril de 2008

Dia da Liberdade


Obrigado a todos os que, com a sua luta, pemitiram que, há 34 anos, se escrevesse a página mais bonita da nossa História colectiva.

24 de abril de 2008

Mais vale rir que chorar

Um partido em que é possível Alberto João Jardim pensar candidatar-se a líder, um partido em que Alberto João não avança para essa corrida, porque, afinal, avança Santana Lopes no seu lugar, um partido que tem uma tendência - agora diz-se "menezista", ao que parece... - representada por estas duas figuras, uma tendência que se sentiria órfã se nenhum deles avançasse para a corrida à liderança, um partido em que Santana ou Jardim têm este espaço e esta importância, não merecia ter o lugar que tem na nossa sociedade, pois não?

22 de abril de 2008

Levada em ombros

Parece que a salvação do PSD está numa pessoa cujas ideias sobre tudo o que não sejam finanças públicas ninguém conhece. Ninguém sabe verdadeiramente se Manuela Ferreira Leite é social-democrata, liberal ou conservadora. Ninguém a ouviu falar sobre justiça, cultura, saúde...
Sabe-se apenas que foi "cavaquista", que é apoiada pelos "barrosistas", que também vai buscar votos de alguns "santanistas" e, nesta salganhada de facções que nada têm de ideológico, sabemos apenas como se posiciona internamente e quais os apoios partidários que conquista.
Valores? Ideias a pôr em prática? Não se lhe conhecem. Mas ao PSD não interessam estas questões que dignificam a vida política, já se sabe.

Por outro lado, parece que a mesma pessoa, encarada por qualquer um como a melhor posicionada para roubar votos a Sócrates, falhou no único grande objectivo que ela própria apontou para o país e que Sócrates, bem ou mal, atingiu...
Manuela Ferreira Leite, que toda a gente elogia por tanto saber de finanças, mas que não conseguiu fazer o défice reduzir até 3%, vai encarar, em 2009, um adversário que foi competente, onde ela foi incompetente.

No entanto, Manuela Ferreira Leite é o melhor que podia acontecer ao PSD neste momento. Porque não é populista nem demagógica, porque é inteligente e faz os "trabalhos de casa", porque não entra em provincianismos nem em operações de cosmética. O facto de, apesar das suas grandes fragilidades, estas qualidades simples fazerem dela o supra-sumo da barbatana dentro do seu partido, diz muito sobre o estado a que o PSD chegou...

18 de abril de 2008

Correia de Campos

Quem já tiver tido contacto com uma das novas Unidades de Saúde Familiar, com um serviço de urgência fora de um hospital (SAP ou SUB), ou com um dos novos Centros de Cuidados Continuados, já percebeu por que razão Correia de Campos vai ser considerado, daqui por uns tempos, o melhor ministro da Saúde de que há memória.
As diferenças são abissais e não me lembro de se ter mexido tanto em tão pouco tempo. E também não me lembro de mudanças deste tipo virem beneficiar tanto quem usufrui (e paga) os serviços.

Adenda: Não acho que tenha sido tudo perfeito, atenção. A instituição de taxas de internamento, por exemplo, foi (é) uma péssima medida. Mas que acho que o saldo é positivo, coisa rara no sector, isso acho.

17 de abril de 2008

Aniversários blogosféricos!

Um dos melhores blogs portugueses, o Ladrões de Bicicletas, faz hoje um ano.
Parabéns aos autores pela persistência e, principalmente, pela qualidade dos textos.

15 de abril de 2008

O mandato irrepreensível...

Não é a mim, que nunca nele votarei, que Cavaco tem que convencer estar a fazer um bom mandato. Mas acho que esta falta de reacção aos impropérios de Jardim já está a criar desconforto até nos seus eleitores mais acérrimos...
Relaxem! Isto é a leitura política do nosso extraordinário Presidente da República: um presidente de um governo regional, chamar "bando de loucos" aos deputados regionais da oposição (insultando, assim, de uma forma nunca vista, o principal órgão político regional) mais não é do que "o regular funcionamento das instituições democráticas".

Eu, por mim, vou chamar "bando de loucos" a quem, daqui por uns tempos, vier falar do "mandato irrepreensível" de Cavaco Silva como Presidente.

Diferenças

As imagens de um governo totalmente paritário - nove ministros e nove ministras -, de uma ministra da Defesa grávida a passar revista às tropas, de um membro de um governo com 31 anos, fez-me voltar a pensar no fosso civilizacional que efectivamente nos separa de Espanha.
Dois países católicos, que passaram metade do século passado sob regimes autoritários conservadores, que entraram na democracia com poucos anos de diferença... e, deste lado da fronteira, as imagens de ontem, não só nunca foram possíveis, como não se prevê que o sejam brevemente.

14 de abril de 2008

A ler

Mário Crespo, hoje, no Jornal de Notícias:

"Claro que a Mota-Engil tem hoje interesses no estrangeiro, mas não me parece que Jorge Coelho tenha sido contratado para dar o seu parecer sobre a estrada entre Perote e Banderilla, que está agora a construir no México. A vantagem de ter um presidente executivo como Jorge Coelho é local. Só pode ter sido a sua agenda de contactos que a Mota-Engil adquiriu porque essa é a sua grande mais-valia. É nesta capacidade única de fazer rede entre o Estado, interesses privados, políticos e público-privados que reside o nexo de causalidade da escolha de um operador político para um lugar de gestão. Este acto, conjuntamente com o caso BCP, assinala uma capitulação a uma realidade insofismável.

A maior parte do sector privado lusitano só quer e, se calhar, só pode subsistir associado à tutela estatal e não tem pejo em subordinar-se aos operadores puramente políticos, abandonando a evolução de culturas de empresas inovadoras desenvolvidas por gestores profissionais que pusessem, finalmente, o mercado a funcionar em Portugal. No curto prazo, este hesitante sector privado nascido dos cravos de Abril parece ver mais ganhos incorporando governos em si próprio do que emancipando-se de tutelas constrangedoras. Claro que daqui para a frente não haverá concurso que a Mota-Engil ganhe (ou perca) onde não se detecte a impressão digital de Jorge Coelho e não se fique com a sensação de que o mercado não está a funcionar."

9 de abril de 2008

À mulher de César...

(Há uns dias perguntaram-me por que é que não tinha escrito aqui sobre a ida de Jorge Coelho para a Mota-Engil. É, de facto, o típico tema sobre o qual eu me iria debruçar. A razão para não o ter feito é simples: mal tenho tido tempo para respirar... Hoje, dia mais calmo, aqui vai!)

Jorge Coelho foi ministro do Equipamento Social (vulgo, Obras Públicas) há mais de 8 anos. Deste período de "luto", há quem conclua (com alguma lógica) que essa passagem pelo governo já não o deve impedir de aceitar agora o cargo de CEO da maior empresa de construção do país.
O argumento até poderia ser verdadeiro se, desde então, Jorge Coelho não se tivesse mantido à tona da vida política. Mas, mesmo não tendo voltado para o executivo, mesmo não desempenhando, no momento, cargos públicos, Jorge Coelho é, todos o sabemos, uma das vozes mais ouvidas dentro do PS, uma das personagens com mais influência junto de Sócrates.
Temos, pois, um conselheiro do chefe do governo, um dos "peixes" que melhor sabe nadar nas "águas" do partido no governo, a candidatar-se, a partir de agora, a concursos lançados por esse governo. Concursos imparciais, já se sabe... Vence o mérito, claro... Mesmo que estas intenções venham a ser verdade, a dúvida estará instalada, daqui para a frente, em qualquer concurso ganho pela Mota-Engil. Justificadamente instalada. É que à mulher de César, já se sabe, não lhe basta ser séria...

Jorge Coelho, dias depois de inflamar um comício de PS, aceita passar a presidir a uma empresa que será uma das maiores clientes do Estado, actualmente governado pelo PS. Suponho que o visado se refugie na legalidade da sua acção, na ultimamente tão badalada "ética republicana", que se vê, assim, reduzida a quase nada...
Moralmente, esta é mais uma das palhaçadas a que a nossa classe política nos vai habituando. São atitudes deste género que originam o clima de desconfiança dos cidadãos relativamente ao poder público.
Onde muitos não vêem qualquer problema na aceitação da presidência da Mota-Engil por Jorge Coelho, dado o longo período de "nojo" que já percorreu, eu vejo mais uma das várias razões que, paulatinamente, levam à falta de respeito pelos titulares de cargos políticos, ao afastamento entre eleitos e eleitores, à descrença na vida democrática.

8 de abril de 2008

Publicidade

Gostei muito da ideia. Fui "espreitar" e gostei do que li.
Chama-se Vírus e é uma revista editada pelo Bloco de Esquerda (apenas disponível on-line). Originalmente, em vez de se dedicar à mera propaganda eleitoral, apresenta textos políticos em moldes académicos.
Como acho que projectos destes não são demais, aqui fica a referência.

4 de abril de 2008

Geração à rasca II

"O ministro da Ciência e Ensino Superior está convencido de que quase não há licenciados desempregados em Portugal" (Público)

Das duas uma: ou Mariano Gago acredita no que afirmou e, assim sendo, é atrasado mental, ou Mariano Gago não acredita, por saber não ser verdade, e está, desta forma, a humilhar milhares de jovens portugueses.
Seja qual for a hipótese verdadeira, o ministro devia ter vergonha...

Um ministério que há anos segue uma política sectorial mais do que errada, mesmo que não tenha a responsabilidade total relativamente aos números do desemprego jovem em Portugal - para não falar dos números (obviamente inexistentes) do emprego não pago, ou do emprego pago abaixo dos valores legalmente permitidos; para não falar dos números (também inexistentes) do emprego não qualificado desempenhado por gente mais do que qualificada -, um ministério assim devia, pelo menos, não negar a realidade.
Porque agir de acordo com a realidade, que no fundo é aquilo que se deveria exigir a quem governa, isso já é algo que quase ninguém espera que aconteça no sector do Ensino Superior...