Eu juro que tenho tentado! Juro! Mas não tenho mesmo conseguido...
Juro que tenho tentado voltar aqui. E escrever. E tenho saudades de aqui escrever. Continuam a ser muitos os temas sobre os quais me apetece deixar um post. Mas o novo ritmo de trabalho impede-me completamente de o fazer.
Depois de férias, tem-me sido impossível arranjar tempo cronológico (e psicológico) para escrever neste blog (já que outras escritas me preenchem os dias)... Nem para ler os meus "vizinhos" preferidos tenho arranjado disponibilidade...
Neste momento, o ideal para nós (julgo que posso falar pelo Filipe, neste caso) seria provavelmente participar num blog a muitas vozes, no qual pudéssemos escrever apenas uma vez por semana, ou mesmo quinzenalmente, sem que o blog morresse por esta nossa falta de frequência...
De facto, num blog a dois, quando os dois não têm tempo para lhe dedicar, o blog acaba por parar. Foi o que nos aconteceu, por muito que a nossa vontade fosse contrária. Sei que quer eu, quer o Filipe, pensamos em aqui regressar todos os dias. E sei que nenhum de nós o tem conseguido fazer.
Não quero dizer adeus a a esta aventura, mas tenho que assumir, até perante mim própria, um até breve. Devo isso a quem nos leu ao longo destes meses. E devo-vos também um pedido de desculpas por só agora o conseguir dizer.
Poderei voltar ao Margem Esquerda pontualmente, mas sem a regularidade de outros tempos. Quanto à margem esquerda, dessa, prometo nunca sair.
19 de outubro de 2008
4 de julho de 2008
Ainda a entrevista de MFL
Tem havido muitas críticas, por essa blogosfera fora, ao facto de muitos de nós, a propósito da entrevista de MFL, nos termos limitado a comentar a sua brilhante tirada sobre os casamentos entre homossexuais, "questão de somenos importância", em vez de nos centrarmos nos aspectos económico-sociais, que "verdadeiramente interessam".
Eu justifico-me: não acho interessante comentar uma suposta oposição ao "pacote de obras públicas", quando quem se lhes opõe não as sabe sequer enumerar e até autorizou algumas delas. De facto, MFL é contra que obras concretamente? E se é contra um pacote deste género, porque deu o seu aval, enquanto ministra das Finanças, a, por exemplo, quatro linhas de TGV entre Portugal e Espanha?
Por estas e por outras, nada do que ela diz sobre este tema tem, para mim, qualquer credibilidade. E não acredito nem um milímetro que, se fosse primeira-ministra, não as executasse! Pelo contrário, seria tudo para levar até ao fim e nada deste paleio, que agora adoptou, seria para levar a sério.
Por outro lado, comentar as preocupações sociais da nova líder do PSD soa a comentar uma piada. Mas alguém acredita neste seu discurso?! Os "novos pobres" em muito devem a sua condição à actuação da própria MFL...
Mas, neste campo da assistência social, MFL até disse uma coisa que seria interessante comentar: que defende que o Estado deve apoiar as associações que "estão no terreno" e que "conhecem os verdadeiros problemas das pessoas". Sendo ou não contra este desígnio, MFL devia informar-se melhor: se há área em que o actual governo não se tem saído muito mal é exactamente esta. Centenas de IPSSs constroem actualmente centros de dia, lares, creches, serviços de apoio domiciliário, etc., pelo país inteiro, com recurso a estes subsídios estatais, que a grande chefe dos sociais-democratas agora se lembrou de defender.
Nem num caso nem noutro, MFL descobriu a pólvora. Pelo contrário, afirmou ser contra o que vai fazer se for primeira-ministra, e afirmou ser a favor do que já se faz com o actual primeiro-ministro. Vale a pena comentar isto?
No fim de tanto discurso vazio, afirmou a sua oposição aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Foi o final em beleza! Espero ansiosamente pela próxima entrevista!
Eu justifico-me: não acho interessante comentar uma suposta oposição ao "pacote de obras públicas", quando quem se lhes opõe não as sabe sequer enumerar e até autorizou algumas delas. De facto, MFL é contra que obras concretamente? E se é contra um pacote deste género, porque deu o seu aval, enquanto ministra das Finanças, a, por exemplo, quatro linhas de TGV entre Portugal e Espanha?
Por estas e por outras, nada do que ela diz sobre este tema tem, para mim, qualquer credibilidade. E não acredito nem um milímetro que, se fosse primeira-ministra, não as executasse! Pelo contrário, seria tudo para levar até ao fim e nada deste paleio, que agora adoptou, seria para levar a sério.
Por outro lado, comentar as preocupações sociais da nova líder do PSD soa a comentar uma piada. Mas alguém acredita neste seu discurso?! Os "novos pobres" em muito devem a sua condição à actuação da própria MFL...
Mas, neste campo da assistência social, MFL até disse uma coisa que seria interessante comentar: que defende que o Estado deve apoiar as associações que "estão no terreno" e que "conhecem os verdadeiros problemas das pessoas". Sendo ou não contra este desígnio, MFL devia informar-se melhor: se há área em que o actual governo não se tem saído muito mal é exactamente esta. Centenas de IPSSs constroem actualmente centros de dia, lares, creches, serviços de apoio domiciliário, etc., pelo país inteiro, com recurso a estes subsídios estatais, que a grande chefe dos sociais-democratas agora se lembrou de defender.
Nem num caso nem noutro, MFL descobriu a pólvora. Pelo contrário, afirmou ser contra o que vai fazer se for primeira-ministra, e afirmou ser a favor do que já se faz com o actual primeiro-ministro. Vale a pena comentar isto?
No fim de tanto discurso vazio, afirmou a sua oposição aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Foi o final em beleza! Espero ansiosamente pela próxima entrevista!
2 de julho de 2008
Como não ser retrógrada
Parece que Manuela Ferreira Leite defende que casais inférteis e de idade avançada não devem poder casar-se.
Segundo a nova Presidente do PSD, o Estado não tem que conceder o direito ao casamento a quem não vai "procriar". O casamento serve unicamente para constituir família e por família entende-se unicamente ter filhos. As pessoas casam-se para ter filhos. Quem não vai ter filhos não deve poder casar-se. É lógico!
O mais fantástico é que MFL começou a sua resposta à pergunta de Constança Cunha e Sá sobre os casamentos entre homossexuais dizendo "Eu não sou retrógrada...". Faria se fosse!!
(DN)
Segundo a nova Presidente do PSD, o Estado não tem que conceder o direito ao casamento a quem não vai "procriar". O casamento serve unicamente para constituir família e por família entende-se unicamente ter filhos. As pessoas casam-se para ter filhos. Quem não vai ter filhos não deve poder casar-se. É lógico!
O mais fantástico é que MFL começou a sua resposta à pergunta de Constança Cunha e Sá sobre os casamentos entre homossexuais dizendo "Eu não sou retrógrada...". Faria se fosse!!
(DN)
La Palisse
Parece que há muita gente chocada com o facto de Ana Jorge ter dito, no Parlamento, que, se sofresse um acidente grave, não recorreria a um hospital privado. Estranho tanta indignação: a ministra disse apenas o que o país inteiro pensa! Para fazer um raio-X, ir a uma consulta ou submeter-se a uma pequena cirurgia, tudo bem, a malta ainda pode optar pelo serviço privado, que não corre riscos. Mas para uma coisa séria?!
Por favor, quem fala verdade não merce castigo. Desta, Ana Jorge está mais do que desculpada.
Por favor, quem fala verdade não merce castigo. Desta, Ana Jorge está mais do que desculpada.
20 de junho de 2008
18 de junho de 2008
Notícia de última hora
Saíram perguntas sobre "Os Lusíadas" no exame de Português do 9º ano!!!
Espanta-me que ninguém, no Ministério, tenha achado que seria demasiado difícil para os pobres adolescentes...
Espanta-me que ninguém, no Ministério, tenha achado que seria demasiado difícil para os pobres adolescentes...
13 de junho de 2008
Beber uma Guinness para comemorar
"Governo irlandês reconhece a vitória do não no referendo sobre o Tratado de Lisboa." (Expresso)
Sei que o chumbo irlandês se deveu muito mais a razões conservadoras do que as quaisquer outras. Mas o que verdadeiramente me interessa é que no único local onde se perguntou à população a sua opinião sobre este Tratado, ela mostrou (como antes outras populações o haviam feito) que não é possível os líderes europeus continuarem o processo de integração europeia de costas voltadas para os cidadãos.
De facto, sempre que estes são chamados a pronunciarem-se, dizem não estar de acordo com o que é negociado pelas nossas elites entre gravatas e ares condicionados...
Senhores, habituem-se, como dizia o outro. E passem a respeitar-nos.
Façam eleger uma verdadeira Assembleia Constituinte ou referendem um futuro Tratado em todos os países. Só assim o elaborarão com e para as pessoas e não à sua margem, só assim saberão qual a Europa que os europeus verdadeiramente desejam, só assim teremos uma Europa de cidadãos e não de burocratas e só assim haverá verdadeira legitimidade democrática em todo este processo.
Obrigada, Irlanda.
Sei que o chumbo irlandês se deveu muito mais a razões conservadoras do que as quaisquer outras. Mas o que verdadeiramente me interessa é que no único local onde se perguntou à população a sua opinião sobre este Tratado, ela mostrou (como antes outras populações o haviam feito) que não é possível os líderes europeus continuarem o processo de integração europeia de costas voltadas para os cidadãos.
De facto, sempre que estes são chamados a pronunciarem-se, dizem não estar de acordo com o que é negociado pelas nossas elites entre gravatas e ares condicionados...
Senhores, habituem-se, como dizia o outro. E passem a respeitar-nos.
Façam eleger uma verdadeira Assembleia Constituinte ou referendem um futuro Tratado em todos os países. Só assim o elaborarão com e para as pessoas e não à sua margem, só assim saberão qual a Europa que os europeus verdadeiramente desejam, só assim teremos uma Europa de cidadãos e não de burocratas e só assim haverá verdadeira legitimidade democrática em todo este processo.
Obrigada, Irlanda.
10 de junho de 2008
Estou a ler bem?!
"Ministros europeus chegam a acordo para prolongar semana de trabalho até às 65 horas"
(Público)
A flexisegurança tem coisas fantásticas... A melhor de todas é o discurso político que a legitima acrescentar sempre que medidas deste género só serão implementadas se os trabalhadores assim o desejarem!
Se assim fosse, escusavam de tornar legalmente possível este novíssimo limite horário: não há nenhum trabalhador que deseje trabalhar mais de metade do dia (13h) durante 5 dias, ou que deseje abdicar dos dias de descanso para trabalhar "apenas" mais de 9h por dia durante os 7 dias da semana.
Civilizacionalmente, continuamos o retrocesso...
(Público)
A flexisegurança tem coisas fantásticas... A melhor de todas é o discurso político que a legitima acrescentar sempre que medidas deste género só serão implementadas se os trabalhadores assim o desejarem!
Se assim fosse, escusavam de tornar legalmente possível este novíssimo limite horário: não há nenhum trabalhador que deseje trabalhar mais de metade do dia (13h) durante 5 dias, ou que deseje abdicar dos dias de descanso para trabalhar "apenas" mais de 9h por dia durante os 7 dias da semana.
Civilizacionalmente, continuamos o retrocesso...
4 de junho de 2008
EU FUI!
Fui ao comício das esquerdas e aquilo a que assisti encheu-me de esperança num futuro melhor.
Um futuro sem medo da palavra esquerda, sem medo da palavra socialismo, um futuro em que não se aceitam como inevitáveis as desigualdades sociais e os retrocessos de direitos, em que não se aceita o funcionamento do mercado como poder divino, nem um Estado cada vez mais reduzido nas suas funções como solução única.
Que a experiência se repita e que as ideias floresçam, porque há cada vez mais espaço para elas na sociedade portuguesa, é o meu único desejo!
Um futuro sem medo da palavra esquerda, sem medo da palavra socialismo, um futuro em que não se aceitam como inevitáveis as desigualdades sociais e os retrocessos de direitos, em que não se aceita o funcionamento do mercado como poder divino, nem um Estado cada vez mais reduzido nas suas funções como solução única.
Que a experiência se repita e que as ideias floresçam, porque há cada vez mais espaço para elas na sociedade portuguesa, é o meu único desejo!
2 de junho de 2008
26 de maio de 2008
Pedido de desculpas
Eu e o Filipe temos andado loucos a terminar trabalhos académicos que queremos entregar na próxima semana... Por esse motivo, não temos escrito com a regularidade do costume! Pedimos desculpa aos leitores pela nossa falha e prometemos que a situação não se vai manter!
16 de maio de 2008
Congresso Feminista
Entre os dias 26 e 28 de Junho, a UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta) vai realizar, em Lisboa, o primeiro Congresso Feminista da nossa vida democrática. Aliás, o último congresso deste género (e que foi o segundo efectuado no nosso país) realizou-se há 80-anos-80. Sinais da sociedade em que vivemos...
Esta vai ser, então, a melhor oportunidade de sempre para se discutirem temas como Direitos Humanos e Igualdade de Género; Educação, Género e Cidadanias; Movimentos Sociais, Feminismos e Políticas Públicas; Violência de Género e nas relações de intimidade; Mulheres e Lideranças e muitos, muitos outros.
Eu já me inscrevi. Quem quiser fazê-lo ou saber mais informações, basta ir aqui.
Esta vai ser, então, a melhor oportunidade de sempre para se discutirem temas como Direitos Humanos e Igualdade de Género; Educação, Género e Cidadanias; Movimentos Sociais, Feminismos e Políticas Públicas; Violência de Género e nas relações de intimidade; Mulheres e Lideranças e muitos, muitos outros.
Eu já me inscrevi. Quem quiser fazê-lo ou saber mais informações, basta ir aqui.
14 de maio de 2008
Coisas estranhas III
Ainda bem que não sou advogada, porque, se fosse, teria votado neste senhor, que hoje me desiludiu bastante:
"O bastonário da Ordem dos Advogados (OA) surpreendeu ontem os deputados ao criticar o facto de a violência doméstica ser um crime público (desde o ano 2000) e não permitir à vítima desistir da queixa caso entenda ser a melhor solução." (Público, edição impresa, sem link directo).
Eis algumas das declarações:
"Há uma espécie de feminismo impertinente nestas leis",
"a vítima não quer justiça - quer vingança",
"É mau legislar de acordo com a moda e com os jornais"...
"O bastonário da Ordem dos Advogados (OA) surpreendeu ontem os deputados ao criticar o facto de a violência doméstica ser um crime público (desde o ano 2000) e não permitir à vítima desistir da queixa caso entenda ser a melhor solução." (Público, edição impresa, sem link directo).
Eis algumas das declarações:
"Há uma espécie de feminismo impertinente nestas leis",
"a vítima não quer justiça - quer vingança",
"É mau legislar de acordo com a moda e com os jornais"...
Coisas estranhas II
O preço dos combustíveis já aumentou 15 vezes este ano. Num país normal, perguntar-se-ia: "em que gasolineira?". Neste, a resposta é tão óbvia que nem merece referência. EM TODAS, pois claro.
Toda a gente sabe que, neste país, os preços dos combustíveis são tudo menos concorrenciais, mas este desplante, que chega ao ponto de TODAS AS GASOLINEIRAS aumentarem os preços no mesmo valor e à mesma hora, já começa a ser demais! Nós não pagamos uma coisa chamada Autoridade da Concorrência?!
E, a juntar à óbvia concertação de preços entre as empresas, aparecem jornalistas a entrevistar velhotes em bombas de gasolina, perguntando-lhes o que acham da situação, em vez de ouvirem quem realmente interessa! Já não digo fazerem investigação, já não digo fornecerem-nos informações adicionais, já não digo falarem com Abel Mateus... mas, pelo menos, tocarem levemente no assunto... talvez já não fosse mau...
Daqui se concluem duas coisas: é fácil às empresas enganar consumidores, porque as instituições públicas, que existem para o evitar, não querem saber do assunto. E é fácil que toda esta situação vergonhosa e laxista se mantenha, porque nem o tradicional watchdog - os jornalistas (que nós também pagamos, na RTP e RDP...) - se dá ao trabalho de cumprir a sua função de vigilância.
É fácil dizer que se está a "investigar". O difícil é acreditar...
É fácil iniciar telejornais com "directos" da bombas do Jumbo (vá lá que não foi com Fátima!). O difícil é pensar...
Toda a gente sabe que, neste país, os preços dos combustíveis são tudo menos concorrenciais, mas este desplante, que chega ao ponto de TODAS AS GASOLINEIRAS aumentarem os preços no mesmo valor e à mesma hora, já começa a ser demais! Nós não pagamos uma coisa chamada Autoridade da Concorrência?!
E, a juntar à óbvia concertação de preços entre as empresas, aparecem jornalistas a entrevistar velhotes em bombas de gasolina, perguntando-lhes o que acham da situação, em vez de ouvirem quem realmente interessa! Já não digo fazerem investigação, já não digo fornecerem-nos informações adicionais, já não digo falarem com Abel Mateus... mas, pelo menos, tocarem levemente no assunto... talvez já não fosse mau...
Daqui se concluem duas coisas: é fácil às empresas enganar consumidores, porque as instituições públicas, que existem para o evitar, não querem saber do assunto. E é fácil que toda esta situação vergonhosa e laxista se mantenha, porque nem o tradicional watchdog - os jornalistas (que nós também pagamos, na RTP e RDP...) - se dá ao trabalho de cumprir a sua função de vigilância.
É fácil dizer que se está a "investigar". O difícil é acreditar...
É fácil iniciar telejornais com "directos" da bombas do Jumbo (vá lá que não foi com Fátima!). O difícil é pensar...
13 de maio de 2008
Coisas estranhas
Vi agora as imagens do tão falado encontro de Cavaco com os "jovens" (o tal para que não convidou os jovens do Bloco de Esquerda, continuando com o seu "mandato irrepreensível" que tantos admiram...).
Mas... bem... achei estranho que muitos desses "jovens", que se apresentaram em Belém, parecessem ter idade para ser meus pais... Hum...
Mas... bem... achei estranho que muitos desses "jovens", que se apresentaram em Belém, parecessem ter idade para ser meus pais... Hum...
A lei é igual para todos...
... mas uns são mais iguais que outros...
"O primeiro-ministro, José Sócrates, o ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho, e vários membros do gabinete do chefe do Governo violaram a proibição de fumar no voo fretado da TAP que ligou Portugal e Venezula e que chegou às cinco horas da manhã de ontem a Caracas (hora de Lisboa, 23h30 na capital venezuelana). O assunto foi muito comentado durante o voo por membros da comitiva empresarial que acompanha Sócrates e causou incómodo a algum pessoal de bordo." (Público)
E o prémio da desculpa brilhante vai para Luís Bernardo, assessor do grande líder:
"Um assessor do primeiro-ministro disse que «é costume» e que as pessoas [que iam a bordo] «não se importaram»." (Público)
Mesmo que esta malta que nos governa tivesse pedido autorização a todos os passageiros antes de acender o seu cigarrinho, a situação seria sempre nojenta. É que isto de fazer leis para apenas os outros cumprirem, cai mal... Porque significa que suas excelências acham simplesmente que estão acima dela - da lei. O que é grave (principalmente, quando já nem o disfarçam...).
Mas, ainda por cima, "o PÚBLICO não viu, nem ouviu em nenhuma ocasião durante as oito horas de voo algum membro do gabinete do primeiro-ministro questionar fosse quem fosse sobre a possibilidade de se fumar a bordo, num voo onde foi sempre claro que tal era proibido." (Público)
Não só acham que estão acima da lei, como acham que podem tratar o parceiro do lado como lixo. Muito bem.
"O primeiro-ministro, José Sócrates, o ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho, e vários membros do gabinete do chefe do Governo violaram a proibição de fumar no voo fretado da TAP que ligou Portugal e Venezula e que chegou às cinco horas da manhã de ontem a Caracas (hora de Lisboa, 23h30 na capital venezuelana). O assunto foi muito comentado durante o voo por membros da comitiva empresarial que acompanha Sócrates e causou incómodo a algum pessoal de bordo." (Público)
E o prémio da desculpa brilhante vai para Luís Bernardo, assessor do grande líder:
"Um assessor do primeiro-ministro disse que «é costume» e que as pessoas [que iam a bordo] «não se importaram»." (Público)
Mesmo que esta malta que nos governa tivesse pedido autorização a todos os passageiros antes de acender o seu cigarrinho, a situação seria sempre nojenta. É que isto de fazer leis para apenas os outros cumprirem, cai mal... Porque significa que suas excelências acham simplesmente que estão acima dela - da lei. O que é grave (principalmente, quando já nem o disfarçam...).
Mas, ainda por cima, "o PÚBLICO não viu, nem ouviu em nenhuma ocasião durante as oito horas de voo algum membro do gabinete do primeiro-ministro questionar fosse quem fosse sobre a possibilidade de se fumar a bordo, num voo onde foi sempre claro que tal era proibido." (Público)
Não só acham que estão acima da lei, como acham que podem tratar o parceiro do lado como lixo. Muito bem.
8 de maio de 2008
A liberalização do mercado de trabalho
Não deixa de ser engraçado que aqueles que defendem a liberalização do mercado de trabalho ainda não tenham percebido que os seus argumentos são do domínio da crença. Depois de tantas críticas ao materialismo histórico de Marx, deviam pelo menos ter aprendido que, em política, é melhor não profetizar demais...
Em vez de permitir um aumento do crescimento económico, uma maior estabilidade dos preços e até uma taxa de desemprego mais reduzida, o mercado de trabalho flexível e desregulado abre, muitas vezes, caminho à tendência contrária.
Veja-se o exemplo da Grã-Bretanha, pós-Thatcher. No final da era de maior liberalização económica a que já assitimos num país europeu, o desemprego atingia o seu ponto mais elevado desde o final da II Guerra Mundial, a inflação continuava elevada e o crescimento da economia nunca mais atingiu os valores das décadas de 50 e 60, a época em que era consensual a necessidade de existência de regulação e de um Estado Social.
Patrick Minford, um dos conselheiros da "dama de ferro", defendia que se intoduzisse legislação anti-greve, que as pequenas empresas fossem isentas da aplicação de leis de protecção do emprego, que a legislação sobre higiene e segurança no trabalho deixasse de ser vinculativa, defendia que o despedimento sem justa causa passasse ser livre, que indemnizações e pré-avisos, licenças de maternidade e direito de voltar ao trabalho depois do parto, tudo isso fosse abolido «de uma ponta à outra» [Unemployment: Cause and Cure]. (Donald Sassoon chama-nos a atenção para o facto de esta personagem não propor, no entanto, a reinrodução do trabalho infantil...)
Thatcher não foi tão longe, é certo. Apesar de "there is no such thing as society", a malta votava... No entanto, muitas das medidas liberalizantes propostas por Minford foram seguidas durante o seu governo. E, como consequência, no início dos anos 90, Finlândia, Suécia ou Noruega, com os seus mercados de trabalho «rígidos» e «altamente» regulados, apresentavam melhores resultados do que a Grã-Bretanha.
A ideia de que mercados totalmente liberalizados, são mais eficientes, é um logro. Aquilo a que passou a ser consensual chamar «obstáculos» ao crescimento da economia e à diminuição do desemprego é, pelo contrário, aquilo que ainda nos mantém numa sociedade minimamente coesa.
Em vez de permitir um aumento do crescimento económico, uma maior estabilidade dos preços e até uma taxa de desemprego mais reduzida, o mercado de trabalho flexível e desregulado abre, muitas vezes, caminho à tendência contrária.
Veja-se o exemplo da Grã-Bretanha, pós-Thatcher. No final da era de maior liberalização económica a que já assitimos num país europeu, o desemprego atingia o seu ponto mais elevado desde o final da II Guerra Mundial, a inflação continuava elevada e o crescimento da economia nunca mais atingiu os valores das décadas de 50 e 60, a época em que era consensual a necessidade de existência de regulação e de um Estado Social.
Patrick Minford, um dos conselheiros da "dama de ferro", defendia que se intoduzisse legislação anti-greve, que as pequenas empresas fossem isentas da aplicação de leis de protecção do emprego, que a legislação sobre higiene e segurança no trabalho deixasse de ser vinculativa, defendia que o despedimento sem justa causa passasse ser livre, que indemnizações e pré-avisos, licenças de maternidade e direito de voltar ao trabalho depois do parto, tudo isso fosse abolido «de uma ponta à outra» [Unemployment: Cause and Cure]. (Donald Sassoon chama-nos a atenção para o facto de esta personagem não propor, no entanto, a reinrodução do trabalho infantil...)
Thatcher não foi tão longe, é certo. Apesar de "there is no such thing as society", a malta votava... No entanto, muitas das medidas liberalizantes propostas por Minford foram seguidas durante o seu governo. E, como consequência, no início dos anos 90, Finlândia, Suécia ou Noruega, com os seus mercados de trabalho «rígidos» e «altamente» regulados, apresentavam melhores resultados do que a Grã-Bretanha.
A ideia de que mercados totalmente liberalizados, são mais eficientes, é um logro. Aquilo a que passou a ser consensual chamar «obstáculos» ao crescimento da economia e à diminuição do desemprego é, pelo contrário, aquilo que ainda nos mantém numa sociedade minimamente coesa.
6 de maio de 2008
Mas quando é que se põe cobro a esta vergonha?!
"No primeiro trimestre deste ano, morreram 17 mulheres em Portugal vítimas de violência doméstica ou conjugal." (DN)
1 de maio de 2008
Entrevista na Ágora
O Sérgio Costa tem no seu blog, A Ágora, um espaço de entrevistas regular. Uma vez por mês entrevista outros bloggers acerca do tema em que estes mais se destacam.
Este mês, o simpático convite foi aos autores aqui do Margem Esquerda. Sobre política, claro!
Para quem quiser, então, ler esta nossa entrevista, aqui está!
Este mês, o simpático convite foi aos autores aqui do Margem Esquerda. Sobre política, claro!
Para quem quiser, então, ler esta nossa entrevista, aqui está!
30 de abril de 2008
Definições ideológicas II
Pedro Passos Coelho veio também dar esclarecimentos sobre o seu posicionamento ideológico: não é de esquerda, nem de direita! Então é o quê?!
Definições ideológicas I
Manuela Ferreira Leite parece ter vindo ontem esclarecer algumas dúvidas: é social-democrata. Assim sendo, só falta alguém dizer-lhe que, nos dias que correm, devia ser militante do Bloco de Esquerda e não do PSD...
29 de abril de 2008
A direita portuguesa
Há uma semana, no programa Prós e Contras, Ângelo Correia disse que o PSD não podia "ter uma posição liberal numa sociedade que não tem liberais". Por liberal, entenda-se liberal no sentido económico e não no sentido civil...
Toda a gente pareceu concordar e não se gastou muito mais tempo a discutir aquilo que pareceu uma evidência. Mesmo Pedro Passos Coelho, enquanto enunciava propostas claramente liberais do ponto de vista económico (privatização da RTP e da CGD, por exemplo), fez questão de não discordar da afirmação.
Fora dos blogs, parece que, neste país, todos os defensores do Estado-mínimo e da economia de mercado desregulada têm medo de assumir a sua posição. Ora eu (que até sou adepta de uma economia mista e que não concordo com a maior parte das medidas ditas liberais que ultimamente se vão enunciando) acho estes receios muito estranhos...
A direita tem medo que, ao assumir o seu caminho natural - o do neo-liberalismo puro e duro - os votos lhe escapem. Será? Ao contrário do que se apregoa, o discurso liberalizante tem provavelmente muitos mais adeptos do que a esquerda gostaria e a direita imagina...
Em Portugal, as coisas chegam tarde e por vezes "ao contrário" relativamente a outros pontos da Europa. Em geral, foi o centro-esquerda que se redefiniu em função das transformações ocorridas primeiramente no centro-direita. Mais do que a queda do muro de Berlim, foram os governos de Tatcher, Reagan ou Khol que mais fizeram pelo despoletar de uma transformação ideológica profunda à esquerda. O "New Labour", por exemplo, só surgiu depois de os britânicos considerarem, por quatro vezes consecutivas, que eram as políticas dos tories as que mais lhes agradavam. Foi o inclinar das populações para a direita, visível nas sucessivas vitórias dos partidos liberais e conservadores, que levou a esquerda seguir o mesmo "caminho", aproximando-se cada vez mais do centro político.
A teoria tem, então, uma excepção: Portugal! Aqui, a direita não é conservadora, nem liberal, nem nada de muito específico, por isso o PS tratou de fazer o caminho de aproximação ao centro, à semelhança dos seus congéneres europeus, sem que houvesse uma pressão ideológica para isso.
O PSD viu-se expulso, pelo rival directo, do confortável espaço central em que se tinha instalado, estando agora naquela fase em que se poderá limitar a perder eleições. Tal como noutros países e durante as décadas de 80 e 90, os partidos de centro-esquerda se viram empurrados para fora do seu discurso e prática tradicionais pelos resultados eleitorais miseráveis que mantinham.
Em Portugal, é, então, o PSD (e o PP, caso ache que vale a pena continuar a existir) que tem de se esforçar por encontrar o seu novo discurso ideológico se quiser continuar a existir. Parece que os "barões" acham que o liberalismo é mau caminho... Mas têm eles outro por onde escolher?
Toda a gente pareceu concordar e não se gastou muito mais tempo a discutir aquilo que pareceu uma evidência. Mesmo Pedro Passos Coelho, enquanto enunciava propostas claramente liberais do ponto de vista económico (privatização da RTP e da CGD, por exemplo), fez questão de não discordar da afirmação.
Fora dos blogs, parece que, neste país, todos os defensores do Estado-mínimo e da economia de mercado desregulada têm medo de assumir a sua posição. Ora eu (que até sou adepta de uma economia mista e que não concordo com a maior parte das medidas ditas liberais que ultimamente se vão enunciando) acho estes receios muito estranhos...
A direita tem medo que, ao assumir o seu caminho natural - o do neo-liberalismo puro e duro - os votos lhe escapem. Será? Ao contrário do que se apregoa, o discurso liberalizante tem provavelmente muitos mais adeptos do que a esquerda gostaria e a direita imagina...
Em Portugal, as coisas chegam tarde e por vezes "ao contrário" relativamente a outros pontos da Europa. Em geral, foi o centro-esquerda que se redefiniu em função das transformações ocorridas primeiramente no centro-direita. Mais do que a queda do muro de Berlim, foram os governos de Tatcher, Reagan ou Khol que mais fizeram pelo despoletar de uma transformação ideológica profunda à esquerda. O "New Labour", por exemplo, só surgiu depois de os britânicos considerarem, por quatro vezes consecutivas, que eram as políticas dos tories as que mais lhes agradavam. Foi o inclinar das populações para a direita, visível nas sucessivas vitórias dos partidos liberais e conservadores, que levou a esquerda seguir o mesmo "caminho", aproximando-se cada vez mais do centro político.
A teoria tem, então, uma excepção: Portugal! Aqui, a direita não é conservadora, nem liberal, nem nada de muito específico, por isso o PS tratou de fazer o caminho de aproximação ao centro, à semelhança dos seus congéneres europeus, sem que houvesse uma pressão ideológica para isso.
O PSD viu-se expulso, pelo rival directo, do confortável espaço central em que se tinha instalado, estando agora naquela fase em que se poderá limitar a perder eleições. Tal como noutros países e durante as décadas de 80 e 90, os partidos de centro-esquerda se viram empurrados para fora do seu discurso e prática tradicionais pelos resultados eleitorais miseráveis que mantinham.
Em Portugal, é, então, o PSD (e o PP, caso ache que vale a pena continuar a existir) que tem de se esforçar por encontrar o seu novo discurso ideológico se quiser continuar a existir. Parece que os "barões" acham que o liberalismo é mau caminho... Mas têm eles outro por onde escolher?
25 de abril de 2008
Dia da Liberdade
24 de abril de 2008
Mais vale rir que chorar
Um partido em que é possível Alberto João Jardim pensar candidatar-se a líder, um partido em que Alberto João não avança para essa corrida, porque, afinal, avança Santana Lopes no seu lugar, um partido que tem uma tendência - agora diz-se "menezista", ao que parece... - representada por estas duas figuras, uma tendência que se sentiria órfã se nenhum deles avançasse para a corrida à liderança, um partido em que Santana ou Jardim têm este espaço e esta importância, não merecia ter o lugar que tem na nossa sociedade, pois não?
22 de abril de 2008
Levada em ombros
Parece que a salvação do PSD está numa pessoa cujas ideias sobre tudo o que não sejam finanças públicas ninguém conhece. Ninguém sabe verdadeiramente se Manuela Ferreira Leite é social-democrata, liberal ou conservadora. Ninguém a ouviu falar sobre justiça, cultura, saúde...
Sabe-se apenas que foi "cavaquista", que é apoiada pelos "barrosistas", que também vai buscar votos de alguns "santanistas" e, nesta salganhada de facções que nada têm de ideológico, sabemos apenas como se posiciona internamente e quais os apoios partidários que conquista.
Valores? Ideias a pôr em prática? Não se lhe conhecem. Mas ao PSD não interessam estas questões que dignificam a vida política, já se sabe.
Por outro lado, parece que a mesma pessoa, encarada por qualquer um como a melhor posicionada para roubar votos a Sócrates, falhou no único grande objectivo que ela própria apontou para o país e que Sócrates, bem ou mal, atingiu...
Manuela Ferreira Leite, que toda a gente elogia por tanto saber de finanças, mas que não conseguiu fazer o défice reduzir até 3%, vai encarar, em 2009, um adversário que foi competente, onde ela foi incompetente.
No entanto, Manuela Ferreira Leite é o melhor que podia acontecer ao PSD neste momento. Porque não é populista nem demagógica, porque é inteligente e faz os "trabalhos de casa", porque não entra em provincianismos nem em operações de cosmética. O facto de, apesar das suas grandes fragilidades, estas qualidades simples fazerem dela o supra-sumo da barbatana dentro do seu partido, diz muito sobre o estado a que o PSD chegou...
Sabe-se apenas que foi "cavaquista", que é apoiada pelos "barrosistas", que também vai buscar votos de alguns "santanistas" e, nesta salganhada de facções que nada têm de ideológico, sabemos apenas como se posiciona internamente e quais os apoios partidários que conquista.
Valores? Ideias a pôr em prática? Não se lhe conhecem. Mas ao PSD não interessam estas questões que dignificam a vida política, já se sabe.
Por outro lado, parece que a mesma pessoa, encarada por qualquer um como a melhor posicionada para roubar votos a Sócrates, falhou no único grande objectivo que ela própria apontou para o país e que Sócrates, bem ou mal, atingiu...
Manuela Ferreira Leite, que toda a gente elogia por tanto saber de finanças, mas que não conseguiu fazer o défice reduzir até 3%, vai encarar, em 2009, um adversário que foi competente, onde ela foi incompetente.
No entanto, Manuela Ferreira Leite é o melhor que podia acontecer ao PSD neste momento. Porque não é populista nem demagógica, porque é inteligente e faz os "trabalhos de casa", porque não entra em provincianismos nem em operações de cosmética. O facto de, apesar das suas grandes fragilidades, estas qualidades simples fazerem dela o supra-sumo da barbatana dentro do seu partido, diz muito sobre o estado a que o PSD chegou...
18 de abril de 2008
Correia de Campos
Quem já tiver tido contacto com uma das novas Unidades de Saúde Familiar, com um serviço de urgência fora de um hospital (SAP ou SUB), ou com um dos novos Centros de Cuidados Continuados, já percebeu por que razão Correia de Campos vai ser considerado, daqui por uns tempos, o melhor ministro da Saúde de que há memória.
As diferenças são abissais e não me lembro de se ter mexido tanto em tão pouco tempo. E também não me lembro de mudanças deste tipo virem beneficiar tanto quem usufrui (e paga) os serviços.
Adenda: Não acho que tenha sido tudo perfeito, atenção. A instituição de taxas de internamento, por exemplo, foi (é) uma péssima medida. Mas que acho que o saldo é positivo, coisa rara no sector, isso acho.
As diferenças são abissais e não me lembro de se ter mexido tanto em tão pouco tempo. E também não me lembro de mudanças deste tipo virem beneficiar tanto quem usufrui (e paga) os serviços.
Adenda: Não acho que tenha sido tudo perfeito, atenção. A instituição de taxas de internamento, por exemplo, foi (é) uma péssima medida. Mas que acho que o saldo é positivo, coisa rara no sector, isso acho.
17 de abril de 2008
Aniversários blogosféricos!
Um dos melhores blogs portugueses, o Ladrões de Bicicletas, faz hoje um ano.
Parabéns aos autores pela persistência e, principalmente, pela qualidade dos textos.
Parabéns aos autores pela persistência e, principalmente, pela qualidade dos textos.
15 de abril de 2008
O mandato irrepreensível...
Não é a mim, que nunca nele votarei, que Cavaco tem que convencer estar a fazer um bom mandato. Mas acho que esta falta de reacção aos impropérios de Jardim já está a criar desconforto até nos seus eleitores mais acérrimos...
Relaxem! Isto é a leitura política do nosso extraordinário Presidente da República: um presidente de um governo regional, chamar "bando de loucos" aos deputados regionais da oposição (insultando, assim, de uma forma nunca vista, o principal órgão político regional) mais não é do que "o regular funcionamento das instituições democráticas".
Eu, por mim, vou chamar "bando de loucos" a quem, daqui por uns tempos, vier falar do "mandato irrepreensível" de Cavaco Silva como Presidente.
Relaxem! Isto é a leitura política do nosso extraordinário Presidente da República: um presidente de um governo regional, chamar "bando de loucos" aos deputados regionais da oposição (insultando, assim, de uma forma nunca vista, o principal órgão político regional) mais não é do que "o regular funcionamento das instituições democráticas".
Eu, por mim, vou chamar "bando de loucos" a quem, daqui por uns tempos, vier falar do "mandato irrepreensível" de Cavaco Silva como Presidente.
Diferenças
As imagens de um governo totalmente paritário - nove ministros e nove ministras -, de uma ministra da Defesa grávida a passar revista às tropas, de um membro de um governo com 31 anos, fez-me voltar a pensar no fosso civilizacional que efectivamente nos separa de Espanha.
Dois países católicos, que passaram metade do século passado sob regimes autoritários conservadores, que entraram na democracia com poucos anos de diferença... e, deste lado da fronteira, as imagens de ontem, não só nunca foram possíveis, como não se prevê que o sejam brevemente.
Dois países católicos, que passaram metade do século passado sob regimes autoritários conservadores, que entraram na democracia com poucos anos de diferença... e, deste lado da fronteira, as imagens de ontem, não só nunca foram possíveis, como não se prevê que o sejam brevemente.
14 de abril de 2008
A ler
Mário Crespo, hoje, no Jornal de Notícias:
"Claro que a Mota-Engil tem hoje interesses no estrangeiro, mas não me parece que Jorge Coelho tenha sido contratado para dar o seu parecer sobre a estrada entre Perote e Banderilla, que está agora a construir no México. A vantagem de ter um presidente executivo como Jorge Coelho é local. Só pode ter sido a sua agenda de contactos que a Mota-Engil adquiriu porque essa é a sua grande mais-valia. É nesta capacidade única de fazer rede entre o Estado, interesses privados, políticos e público-privados que reside o nexo de causalidade da escolha de um operador político para um lugar de gestão. Este acto, conjuntamente com o caso BCP, assinala uma capitulação a uma realidade insofismável.
A maior parte do sector privado lusitano só quer e, se calhar, só pode subsistir associado à tutela estatal e não tem pejo em subordinar-se aos operadores puramente políticos, abandonando a evolução de culturas de empresas inovadoras desenvolvidas por gestores profissionais que pusessem, finalmente, o mercado a funcionar em Portugal. No curto prazo, este hesitante sector privado nascido dos cravos de Abril parece ver mais ganhos incorporando governos em si próprio do que emancipando-se de tutelas constrangedoras. Claro que daqui para a frente não haverá concurso que a Mota-Engil ganhe (ou perca) onde não se detecte a impressão digital de Jorge Coelho e não se fique com a sensação de que o mercado não está a funcionar."
"Claro que a Mota-Engil tem hoje interesses no estrangeiro, mas não me parece que Jorge Coelho tenha sido contratado para dar o seu parecer sobre a estrada entre Perote e Banderilla, que está agora a construir no México. A vantagem de ter um presidente executivo como Jorge Coelho é local. Só pode ter sido a sua agenda de contactos que a Mota-Engil adquiriu porque essa é a sua grande mais-valia. É nesta capacidade única de fazer rede entre o Estado, interesses privados, políticos e público-privados que reside o nexo de causalidade da escolha de um operador político para um lugar de gestão. Este acto, conjuntamente com o caso BCP, assinala uma capitulação a uma realidade insofismável.
A maior parte do sector privado lusitano só quer e, se calhar, só pode subsistir associado à tutela estatal e não tem pejo em subordinar-se aos operadores puramente políticos, abandonando a evolução de culturas de empresas inovadoras desenvolvidas por gestores profissionais que pusessem, finalmente, o mercado a funcionar em Portugal. No curto prazo, este hesitante sector privado nascido dos cravos de Abril parece ver mais ganhos incorporando governos em si próprio do que emancipando-se de tutelas constrangedoras. Claro que daqui para a frente não haverá concurso que a Mota-Engil ganhe (ou perca) onde não se detecte a impressão digital de Jorge Coelho e não se fique com a sensação de que o mercado não está a funcionar."
9 de abril de 2008
À mulher de César...
(Há uns dias perguntaram-me por que é que não tinha escrito aqui sobre a ida de Jorge Coelho para a Mota-Engil. É, de facto, o típico tema sobre o qual eu me iria debruçar. A razão para não o ter feito é simples: mal tenho tido tempo para respirar... Hoje, dia mais calmo, aqui vai!)
Jorge Coelho foi ministro do Equipamento Social (vulgo, Obras Públicas) há mais de 8 anos. Deste período de "luto", há quem conclua (com alguma lógica) que essa passagem pelo governo já não o deve impedir de aceitar agora o cargo de CEO da maior empresa de construção do país.
O argumento até poderia ser verdadeiro se, desde então, Jorge Coelho não se tivesse mantido à tona da vida política. Mas, mesmo não tendo voltado para o executivo, mesmo não desempenhando, no momento, cargos públicos, Jorge Coelho é, todos o sabemos, uma das vozes mais ouvidas dentro do PS, uma das personagens com mais influência junto de Sócrates.
Temos, pois, um conselheiro do chefe do governo, um dos "peixes" que melhor sabe nadar nas "águas" do partido no governo, a candidatar-se, a partir de agora, a concursos lançados por esse governo. Concursos imparciais, já se sabe... Vence o mérito, claro... Mesmo que estas intenções venham a ser verdade, a dúvida estará instalada, daqui para a frente, em qualquer concurso ganho pela Mota-Engil. Justificadamente instalada. É que à mulher de César, já se sabe, não lhe basta ser séria...
Jorge Coelho, dias depois de inflamar um comício de PS, aceita passar a presidir a uma empresa que será uma das maiores clientes do Estado, actualmente governado pelo PS. Suponho que o visado se refugie na legalidade da sua acção, na ultimamente tão badalada "ética republicana", que se vê, assim, reduzida a quase nada...
Moralmente, esta é mais uma das palhaçadas a que a nossa classe política nos vai habituando. São atitudes deste género que originam o clima de desconfiança dos cidadãos relativamente ao poder público.
Onde muitos não vêem qualquer problema na aceitação da presidência da Mota-Engil por Jorge Coelho, dado o longo período de "nojo" que já percorreu, eu vejo mais uma das várias razões que, paulatinamente, levam à falta de respeito pelos titulares de cargos políticos, ao afastamento entre eleitos e eleitores, à descrença na vida democrática.
Jorge Coelho foi ministro do Equipamento Social (vulgo, Obras Públicas) há mais de 8 anos. Deste período de "luto", há quem conclua (com alguma lógica) que essa passagem pelo governo já não o deve impedir de aceitar agora o cargo de CEO da maior empresa de construção do país.
O argumento até poderia ser verdadeiro se, desde então, Jorge Coelho não se tivesse mantido à tona da vida política. Mas, mesmo não tendo voltado para o executivo, mesmo não desempenhando, no momento, cargos públicos, Jorge Coelho é, todos o sabemos, uma das vozes mais ouvidas dentro do PS, uma das personagens com mais influência junto de Sócrates.
Temos, pois, um conselheiro do chefe do governo, um dos "peixes" que melhor sabe nadar nas "águas" do partido no governo, a candidatar-se, a partir de agora, a concursos lançados por esse governo. Concursos imparciais, já se sabe... Vence o mérito, claro... Mesmo que estas intenções venham a ser verdade, a dúvida estará instalada, daqui para a frente, em qualquer concurso ganho pela Mota-Engil. Justificadamente instalada. É que à mulher de César, já se sabe, não lhe basta ser séria...
Jorge Coelho, dias depois de inflamar um comício de PS, aceita passar a presidir a uma empresa que será uma das maiores clientes do Estado, actualmente governado pelo PS. Suponho que o visado se refugie na legalidade da sua acção, na ultimamente tão badalada "ética republicana", que se vê, assim, reduzida a quase nada...
Moralmente, esta é mais uma das palhaçadas a que a nossa classe política nos vai habituando. São atitudes deste género que originam o clima de desconfiança dos cidadãos relativamente ao poder público.
Onde muitos não vêem qualquer problema na aceitação da presidência da Mota-Engil por Jorge Coelho, dado o longo período de "nojo" que já percorreu, eu vejo mais uma das várias razões que, paulatinamente, levam à falta de respeito pelos titulares de cargos políticos, ao afastamento entre eleitos e eleitores, à descrença na vida democrática.
8 de abril de 2008
Publicidade
Gostei muito da ideia. Fui "espreitar" e gostei do que li.
Chama-se Vírus e é uma revista editada pelo Bloco de Esquerda (apenas disponível on-line). Originalmente, em vez de se dedicar à mera propaganda eleitoral, apresenta textos políticos em moldes académicos.
Como acho que projectos destes não são demais, aqui fica a referência.
Chama-se Vírus e é uma revista editada pelo Bloco de Esquerda (apenas disponível on-line). Originalmente, em vez de se dedicar à mera propaganda eleitoral, apresenta textos políticos em moldes académicos.
Como acho que projectos destes não são demais, aqui fica a referência.
4 de abril de 2008
Geração à rasca II
"O ministro da Ciência e Ensino Superior está convencido de que quase não há licenciados desempregados em Portugal" (Público)
Das duas uma: ou Mariano Gago acredita no que afirmou e, assim sendo, é atrasado mental, ou Mariano Gago não acredita, por saber não ser verdade, e está, desta forma, a humilhar milhares de jovens portugueses.
Seja qual for a hipótese verdadeira, o ministro devia ter vergonha...
Um ministério que há anos segue uma política sectorial mais do que errada, mesmo que não tenha a responsabilidade total relativamente aos números do desemprego jovem em Portugal - para não falar dos números (obviamente inexistentes) do emprego não pago, ou do emprego pago abaixo dos valores legalmente permitidos; para não falar dos números (também inexistentes) do emprego não qualificado desempenhado por gente mais do que qualificada -, um ministério assim devia, pelo menos, não negar a realidade.
Porque agir de acordo com a realidade, que no fundo é aquilo que se deveria exigir a quem governa, isso já é algo que quase ninguém espera que aconteça no sector do Ensino Superior...
Das duas uma: ou Mariano Gago acredita no que afirmou e, assim sendo, é atrasado mental, ou Mariano Gago não acredita, por saber não ser verdade, e está, desta forma, a humilhar milhares de jovens portugueses.
Seja qual for a hipótese verdadeira, o ministro devia ter vergonha...
Um ministério que há anos segue uma política sectorial mais do que errada, mesmo que não tenha a responsabilidade total relativamente aos números do desemprego jovem em Portugal - para não falar dos números (obviamente inexistentes) do emprego não pago, ou do emprego pago abaixo dos valores legalmente permitidos; para não falar dos números (também inexistentes) do emprego não qualificado desempenhado por gente mais do que qualificada -, um ministério assim devia, pelo menos, não negar a realidade.
Porque agir de acordo com a realidade, que no fundo é aquilo que se deveria exigir a quem governa, isso já é algo que quase ninguém espera que aconteça no sector do Ensino Superior...
29 de março de 2008
Anedota do fim-de-semana
"Não houve mentiras porque Bush e Blair estavam convencidos de que as armas de destruição maciça existiam no Iraque.", diz Pacheco Pereira, hoje, no Público (sem link).
Será que acredita mesmo nisto?!
Será que acredita mesmo nisto?!
27 de março de 2008
Balanço
Eu e o Filipe iniciámos esta "aventura" que é o Margem Esquerda há seis meses.
Meio ano, 218 posts, dezenas de comentários e quase 20.000 page views depois, tenho que dizer que, para mim, o saldo é mais do que positivo!
Gosto deste acto de escrita regular e gosto principalmente de ler quem nos comenta.
Obrigada a todos os que nos têm visitado!
Meio ano, 218 posts, dezenas de comentários e quase 20.000 page views depois, tenho que dizer que, para mim, o saldo é mais do que positivo!
Gosto deste acto de escrita regular e gosto principalmente de ler quem nos comenta.
Obrigada a todos os que nos têm visitado!
14 de março de 2008
E que tal cada um de nós decidir sobre isso?
"PS quer proibir colocação de “piercings” na língua" (Público)
E ainda hão-de conseguir chegar à alimentação. Havemos de ter todos o corpo que este governo achar ser o melhor para nós. O nosso físico traçado a régua e esquadro. E a liberdade individual no meio disto?
E ainda hão-de conseguir chegar à alimentação. Havemos de ter todos o corpo que este governo achar ser o melhor para nós. O nosso físico traçado a régua e esquadro. E a liberdade individual no meio disto?
12 de março de 2008
Nojo...
Esta é a campanha publicitária a uma colecção sobre o Estado Novo distribuída com o Correio da Manhã e com a Sábado.
A campanha televisiva diz qualquer coisa como "Será a História exactamente como lha pintam?". Claro que não, claro que não é. É pior. Foi muito pior. E quem o tenta escamotear, mesmo que com insinuações e frases ambíguas, devia ter vergonha.
E pensar que houve tanta gente a lutar e a sofrer para que agora um publicitário(zeco) tenha a liberdade de escrever este nojo...
Os "PPRs do Estado"
Não tenho nada contra o facto de o Estado lançar um produto equivalente a um Plano de Poupança Reforma. Não acho que seja concorrência desleal para com as instituições privadas; acho que é simplesmente concorrência (apesar do Estado negar...) e que já era altura de o poder público perceber que este era um bom caminho a percorrer.
Mas não percebo por que é que o produto lançado foi ESTE especificamente! Eu explico: com as desvantagens que os cerificados de reforma públicos apresentam relativamente aos PPRs, relativamente aos concorrentes privados, qual é que pode ser o interesse em subscrever os primeiros e não os segundos?
Em primeiro lugar, reduziu-se o âmbito de potenciais interessados ao aceitar-se apenas quem desconta para a Segurança Social como potenciais contraentes destes certificados. Há muita boa alminha trabalhadora que nunca poderá aceder a este produto, o que só prejudica quem o põe no mercado. Mas isso ainda é o menos...
Por outro lado, a rendibilidade não é garantida. Claro que há quem prefira correr riscos neste tipo de investimentos, mas também há quem deteste incertezas ao nível financeiro... Por que não oferecer as duas possibilidades?
E, se não pudessem dar aos subscritores a escolha entre rendibilidade garantida e inexistência de garantias, se só pudessem oferecer uma das duas hipóteses, então, mais valia terem optado pela oferta de uma taxa garantida, mesmo que ligeiramente mais baixa do que a oferecida pelos PPRs privados.
É verdade que o governo acredita que a rendibilidade média destes certificados públicos será semelhante ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social nos últimos cinco anos (5,8%). É uma taxa boa quando comparada com as dos privados (entre 3% e 4%). Mas não há quaisquer certezas. Dir-me-ão que as taxas oferecidas pelos privados também podem não bater certo com as previsões. Sim, podem, mas só se eu escolher essa modalidade. Na banca, opto por ter capital garantido ou não e rendibilidade garantida ou não. Com o Estado, não tenho escolha.
Por falar em não ter escolha, isso também acontece relativamente às contribuições exigidas. Com estes novos certificados de reforma, há que entregar mensalmente 2% ou 4% do salário. Pronto. Nada de diversificar a coisa e adequar o produto às várias condições pessoais, às várias vontades... Enfim...
A falta de liberdade que estes certificados impõem também é visível no facto de não permitir ao cliente transferir o SEU dinheiro para outra instituição. Ou seja, se a tal taxa de rendibilidade não garantida mostrar ser uma pobreza, nada há a fazer.
Do mesmo modo também não se pode de forma alguma levantar o dinheiro antes de tempo. Nem mesmo com penalizações, como acontece com os PPRs privados. Ou seja, se necessitarmos do dinheiro antes do tempo, também nada há a fazer.
Mas alguém aceita isto de boa vontade?
Para terminar o rol, esta espécie de PPRs públicos não são herdados pela família em caso de morte precoce do titular. Isso mesmo, se morrermos antes de chegarmos à reforma, o montante que tivermos dispendido mensalmente nestes certificados fica para o Estado.
A ideia é, julgo, que esse dinheiro sirva para pagar as tranches - digamos - "extra" àqueles que, pelo contrário, viverem para além do período em que garantiram o rendimento atarvés dos seus descontos. A ideia até seria boa se não contássemos as desvantagens anteriores...
Resumindo, parece-me que estes certificados de reforma públicos serão bons se a taxa de rendibilidade for, de facto, aquela em que o governo crê, se o subscritor nunca quiser, por algum motivo, transferir ou levantar o dinheiro ao longo dos anos, se não morrer antes de chegar à reforma...
E isto, claro, se, previamente, descontar para a Segurança Social e se achar boa ideia investir sem rendibilidade garantida aquela percentagem específica do salário...
Os 1000 subscritores do produto, durante a primeira semana em vigor, devem achar que vão ter uma vida óptima, pelo menos até aos 65 anos, para terem aderido. Eu não tenho essa certeza e,(também) por isso, prefiro algo que me dê mais liberdade.
Tenho pena que uma ideia tão boa seja desvirtuada por estas condicionantes.
Mas não percebo por que é que o produto lançado foi ESTE especificamente! Eu explico: com as desvantagens que os cerificados de reforma públicos apresentam relativamente aos PPRs, relativamente aos concorrentes privados, qual é que pode ser o interesse em subscrever os primeiros e não os segundos?
Em primeiro lugar, reduziu-se o âmbito de potenciais interessados ao aceitar-se apenas quem desconta para a Segurança Social como potenciais contraentes destes certificados. Há muita boa alminha trabalhadora que nunca poderá aceder a este produto, o que só prejudica quem o põe no mercado. Mas isso ainda é o menos...
Por outro lado, a rendibilidade não é garantida. Claro que há quem prefira correr riscos neste tipo de investimentos, mas também há quem deteste incertezas ao nível financeiro... Por que não oferecer as duas possibilidades?
E, se não pudessem dar aos subscritores a escolha entre rendibilidade garantida e inexistência de garantias, se só pudessem oferecer uma das duas hipóteses, então, mais valia terem optado pela oferta de uma taxa garantida, mesmo que ligeiramente mais baixa do que a oferecida pelos PPRs privados.
É verdade que o governo acredita que a rendibilidade média destes certificados públicos será semelhante ao Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social nos últimos cinco anos (5,8%). É uma taxa boa quando comparada com as dos privados (entre 3% e 4%). Mas não há quaisquer certezas. Dir-me-ão que as taxas oferecidas pelos privados também podem não bater certo com as previsões. Sim, podem, mas só se eu escolher essa modalidade. Na banca, opto por ter capital garantido ou não e rendibilidade garantida ou não. Com o Estado, não tenho escolha.
Por falar em não ter escolha, isso também acontece relativamente às contribuições exigidas. Com estes novos certificados de reforma, há que entregar mensalmente 2% ou 4% do salário. Pronto. Nada de diversificar a coisa e adequar o produto às várias condições pessoais, às várias vontades... Enfim...
A falta de liberdade que estes certificados impõem também é visível no facto de não permitir ao cliente transferir o SEU dinheiro para outra instituição. Ou seja, se a tal taxa de rendibilidade não garantida mostrar ser uma pobreza, nada há a fazer.
Do mesmo modo também não se pode de forma alguma levantar o dinheiro antes de tempo. Nem mesmo com penalizações, como acontece com os PPRs privados. Ou seja, se necessitarmos do dinheiro antes do tempo, também nada há a fazer.
Mas alguém aceita isto de boa vontade?
Para terminar o rol, esta espécie de PPRs públicos não são herdados pela família em caso de morte precoce do titular. Isso mesmo, se morrermos antes de chegarmos à reforma, o montante que tivermos dispendido mensalmente nestes certificados fica para o Estado.
A ideia é, julgo, que esse dinheiro sirva para pagar as tranches - digamos - "extra" àqueles que, pelo contrário, viverem para além do período em que garantiram o rendimento atarvés dos seus descontos. A ideia até seria boa se não contássemos as desvantagens anteriores...
Resumindo, parece-me que estes certificados de reforma públicos serão bons se a taxa de rendibilidade for, de facto, aquela em que o governo crê, se o subscritor nunca quiser, por algum motivo, transferir ou levantar o dinheiro ao longo dos anos, se não morrer antes de chegar à reforma...
E isto, claro, se, previamente, descontar para a Segurança Social e se achar boa ideia investir sem rendibilidade garantida aquela percentagem específica do salário...
Os 1000 subscritores do produto, durante a primeira semana em vigor, devem achar que vão ter uma vida óptima, pelo menos até aos 65 anos, para terem aderido. Eu não tenho essa certeza e,(também) por isso, prefiro algo que me dê mais liberdade.
Tenho pena que uma ideia tão boa seja desvirtuada por estas condicionantes.
11 de março de 2008
Zapatero, Sócrates, humildade e maioria absoluta
Já conhecíamos as diferenças políticas entre Zapatero e Sócrates: apesar de serem da mesma família política, Zapatero tem governado mais à esquerda do que o nosso primeiro (e do que a maioria dos chefes de governo sociais-democratas por essa Europa fora).
Ao ouvir o discurso de vitória de Zapatero, no domingo, reforcei também a certeza das diferenças de estilo entre os dois.
Quem diz que a conquista de mais votos e mais assentos parlamentares farão com que governe com mais humildade, quem diz que percebe este novo mandato como uma obrigação para governar melhor, quem diz que irá governar tendo sempre presente o caminho do diálogo, não se confunde, de facto, com Sócrates.
É certo que a existência ou não de maioria absoluta pode fazer mudar tudo, que não sabemos como falaria ou agiria Zapatero se tivesse as mesmas condições políticas que o congénere português. Mas acho que nunca teria o mesmo estilo autoritário e crispado. De qualquer forma, nunca o saberemos.
Resta-me, então, esperar que Sócrates, em 2009, receba uma lição de humildade que o leve a inflectir o estilo e as políticas.
As maiorias absolutas unipartidárias fazem mal ao ego. E, na minha opinião, ao país.
Ao ouvir o discurso de vitória de Zapatero, no domingo, reforcei também a certeza das diferenças de estilo entre os dois.
Quem diz que a conquista de mais votos e mais assentos parlamentares farão com que governe com mais humildade, quem diz que percebe este novo mandato como uma obrigação para governar melhor, quem diz que irá governar tendo sempre presente o caminho do diálogo, não se confunde, de facto, com Sócrates.
É certo que a existência ou não de maioria absoluta pode fazer mudar tudo, que não sabemos como falaria ou agiria Zapatero se tivesse as mesmas condições políticas que o congénere português. Mas acho que nunca teria o mesmo estilo autoritário e crispado. De qualquer forma, nunca o saberemos.
Resta-me, então, esperar que Sócrates, em 2009, receba uma lição de humildade que o leve a inflectir o estilo e as políticas.
As maiorias absolutas unipartidárias fazem mal ao ego. E, na minha opinião, ao país.
10 de março de 2008
Faço minhas as palavras de Rocard
"Com efeito, nos últimos 25 anos, a proporção de salários directos e indirectos em percentagem do PIB caiu entre 8% e 11% em todos estes países. Consequentemente, os empregos precários e a insegurança laboral, que pouco se faziam sentir entre 1940 e 1970, afectam, actualmente, mais de 15% da população do mundo desenvolvido.
O salário médio real tem-se mantido estável nos últimos 20 anos nos Estados Unidos, com 1% da população a captar todos os ganhos resultantes do crescimento de 50% do PIB no mesmo período. (...)
A remuneração dos líderes das empresas atinge actualmente 300 a 500 vezes o salário médio dos colaboradores intermédios, contra 40 vezes no século XX e 50 vezes antes de 1980. Um pouco por todo o mundo, o número de empresas que enfrenta problemas legais por vários tipos de fraude está a aumentar fortemente.
O pior, infelizmente, está ainda para vir. Atendendo a que os rendimentos da maioria das pessoas estão estagnados e a serem delapidados pelo aumento das prestações dos seus empréstimos à habitação, o consumo deverá diminuir, levando a um menor crescimento e menor emprego. Uma recessão só contribuirá para intensificar a precaridade dos empregos e o desemprego, criando tensões sociais que, obviamente, não ajudarão a aliviar a crise financeira. Parece que temos todos os ingredientes para uma demorada e intensa tempestade perfeita do declínio económico e da agitação social. (...)
Mas é agora perfeitamente óbvio que o capitalismo está demasiado instável para sobreviver sem uma forte regulação pública. É por isso que, depois de anos e anos a ser negligenciado como uma opção viável, é altura de delinear um projecto social-democrata para o palco político."
(Michel Rocard, no Jornal de Negócios)
O salário médio real tem-se mantido estável nos últimos 20 anos nos Estados Unidos, com 1% da população a captar todos os ganhos resultantes do crescimento de 50% do PIB no mesmo período. (...)
A remuneração dos líderes das empresas atinge actualmente 300 a 500 vezes o salário médio dos colaboradores intermédios, contra 40 vezes no século XX e 50 vezes antes de 1980. Um pouco por todo o mundo, o número de empresas que enfrenta problemas legais por vários tipos de fraude está a aumentar fortemente.
O pior, infelizmente, está ainda para vir. Atendendo a que os rendimentos da maioria das pessoas estão estagnados e a serem delapidados pelo aumento das prestações dos seus empréstimos à habitação, o consumo deverá diminuir, levando a um menor crescimento e menor emprego. Uma recessão só contribuirá para intensificar a precaridade dos empregos e o desemprego, criando tensões sociais que, obviamente, não ajudarão a aliviar a crise financeira. Parece que temos todos os ingredientes para uma demorada e intensa tempestade perfeita do declínio económico e da agitação social. (...)
Mas é agora perfeitamente óbvio que o capitalismo está demasiado instável para sobreviver sem uma forte regulação pública. É por isso que, depois de anos e anos a ser negligenciado como uma opção viável, é altura de delinear um projecto social-democrata para o palco político."
(Michel Rocard, no Jornal de Negócios)
Por todas as razões e mais esta
Uma classe profissional que consegue pôr 100 mil pessoas na rua é uma grande classe!
6 de março de 2008
Mas o que é que isto quer dizer?!
"O comício nacional do PS marcado para o dia 15 de Março no Porto, que levará José Sócrates ao reencontro com as bases, foi transferido da Praça de D. João I para o Pavilhão do Académico, uma mudança que “protegerá” o líder socialista de qualquer imprevisto vindo da rua." (Público)
5 de março de 2008
Eheh!
My blog is worth $22,581.60.
How much is your blog worth?
Oh Filipe, isto bem dividido ainda rendia... ;)
(via O Reino dos Fins)
4 de março de 2008
Novo partido
"O antigo alto-comissário para a Imigração Rui Marques anunciou hoje que pretende criar um novo partido, denominado "Movimento Esperança Portugal", situado ideologicamente ao centro...
'... entre o PS e o PSD, para que a partir daí seja possível construir pontes e sublinhar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa', adiantou Rui Marques" (Público)
Portugal precisava mesmo de um partido ao centro! Entre o PS e o PSD, sim senhor! Bem pensado!
PS - Alguém diz a este senhor que ninguém faz partidos com o objectivo de "construir pontes", mas sim para divergir dos adversários? Que a ideia é, exactamente, realçar, não as semelhanças, mas aquilo que o separa dos outros partidos?
'... entre o PS e o PSD, para que a partir daí seja possível construir pontes e sublinhar mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separa', adiantou Rui Marques" (Público)
Portugal precisava mesmo de um partido ao centro! Entre o PS e o PSD, sim senhor! Bem pensado!
PS - Alguém diz a este senhor que ninguém faz partidos com o objectivo de "construir pontes", mas sim para divergir dos adversários? Que a ideia é, exactamente, realçar, não as semelhanças, mas aquilo que o separa dos outros partidos?
Como é que Bush foi possível? É fácil...
"Que mania é esta que temos de falar e negociar com toda a gente? No tempo de Kennedy ou Lyndon Johnson, os Estados Unidos avisavam os russos que lhes rebentavam com os submarinos e não negociavam. Os Estados Unidos não têm nada que negociar." - eleitor democrata.
"Da maneira que eu vejo as coisas, as guerras são inevitáveis. Depois do Iraque, há de ser o Irão, ou outro lugar qualquer. Antes lá do que aqui." - eleitora republicana.
"Se os democratas vencerem estas eleições, vamos ter outro 11 de Setembro. Não se pode ter complacências com os terroristas, temos de os bombardear." - eleitor republicano.
(hoje, no Público)
"Da maneira que eu vejo as coisas, as guerras são inevitáveis. Depois do Iraque, há de ser o Irão, ou outro lugar qualquer. Antes lá do que aqui." - eleitora republicana.
"Se os democratas vencerem estas eleições, vamos ter outro 11 de Setembro. Não se pode ter complacências com os terroristas, temos de os bombardear." - eleitor republicano.
(hoje, no Público)
Razões para as dificuldades de Hillary?
"A mim não me agrada nada votar por uma mulher..." - eleitor democrata.
"Eu acho que as mulheres não têm nada que se candidatar a cargos políticos." - eleitora (sim, mulher...) republicana.
"Acho que o país está quase preparado para ter uma mulher presidente, mas ainda não..." - outro eleitor democrata.
(hoje, no Público)
Independentemente da avaliação do passado político e dos actuais projectos dos dois candidatos democratas, não tenho dúvidas de que esta é uma das verdadeiras razões para as dificuldades que Hillary Clinton enfrenta: o machismo ainda entranhado nas sociedades ocidentais. Há muita gente a não votar Hillary, simplesmente porque se trata de uma mulher, por se considerar que, por ser mulher, não está preparada para exercer o cargo.
PS - Sim, Obama é negro e também deve haver quem deixe de votar nele por essa outra ignóbil razão. Mas também não tenho dúvidas que o machismo está muito mais enraizado do que o racismo. Daí que o caso de Hillary seja, desse ponto de vista, mais acentuado, logo, mais preocupante.
"Eu acho que as mulheres não têm nada que se candidatar a cargos políticos." - eleitora (sim, mulher...) republicana.
"Acho que o país está quase preparado para ter uma mulher presidente, mas ainda não..." - outro eleitor democrata.
(hoje, no Público)
Independentemente da avaliação do passado político e dos actuais projectos dos dois candidatos democratas, não tenho dúvidas de que esta é uma das verdadeiras razões para as dificuldades que Hillary Clinton enfrenta: o machismo ainda entranhado nas sociedades ocidentais. Há muita gente a não votar Hillary, simplesmente porque se trata de uma mulher, por se considerar que, por ser mulher, não está preparada para exercer o cargo.
PS - Sim, Obama é negro e também deve haver quem deixe de votar nele por essa outra ignóbil razão. Mas também não tenho dúvidas que o machismo está muito mais enraizado do que o racismo. Daí que o caso de Hillary seja, desse ponto de vista, mais acentuado, logo, mais preocupante.
29 de fevereiro de 2008
O primeiro caso
"Um agrupamento escolar em Leiria está a usar como critério na avaliação dos seus professores o facto de verbalizarem a insatisfação face a mudanças no sistema educativo, denunciou hoje o líder do Bloco de Esquerda.
“Verbaliza a sua insatisfação/ satisfação face a mudanças ocorridas no Sistema Educativo/ na Escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares” é um dos indicadores incluídos no critério da “dimensão ética” para a avaliação dos professores no agrupamento escolar Correia Mateus, em Leiria, segundo Francisco Louçã." (Público)
Começa a oficialização da censura à liberdade de expressão... Se, até aqui, havia clima, agora o medo começa a ter reais razões de ser.
E - perdoem-me o desabafo - tinha que começar em Leiria...
“Verbaliza a sua insatisfação/ satisfação face a mudanças ocorridas no Sistema Educativo/ na Escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares” é um dos indicadores incluídos no critério da “dimensão ética” para a avaliação dos professores no agrupamento escolar Correia Mateus, em Leiria, segundo Francisco Louçã." (Público)
Começa a oficialização da censura à liberdade de expressão... Se, até aqui, havia clima, agora o medo começa a ter reais razões de ser.
E - perdoem-me o desabafo - tinha que começar em Leiria...
O mundo de pernas para o ar
"O líder do CDS-PP escolheu o advogado Garcia Pereira para o defender no processo judicial contra o ministro da Agricultura, Jaime Silva..." (Público)
27 de fevereiro de 2008
Pagar e pouco mais
Há dois-anos-dois, fui multada pela EMEL. Até aqui nada de especial, que quase todos os lisboetas já foram agraciados pela mais amada das empresas municipais. O problema, neste caso, é que eu tinha tirado bilhete...
Estacionei, pus as moedas no parquímetro e retirei um ticket válido para cerca de 2 horas. Quando voltei ao carro, 1 hora e pouco depois, tinha o carro bloqueado, com a enervante fita amarela à volta e... 60€ para pagar.
Dirigi-me ao funcionário (vou tentar não fazer piadas sobre os fatos verdes que usam...), que reconheceu o erro, mas... não me retirou a multa! Que não, que não podia, que eu tinha que pagar a multa para me desbloquearem o carro e, se quisesse, poderia depois reclamar para os serviços da DGV.
Claro que me custou a acreditar que, mesmo provando-se ter eu pago pelo estacionamento, tendo eu o ticket no tablier a sorrir-nos, mesmo assim, tinha não só que pagar a multa, como, posteriormente, tinha que ser eu a impugná-la (num prazo de 15 dias) para que o valor me fosse reembolsado. Mas parece que é mesmo assim que as coisas se processam em Portugal: com o Estado, primeiro pagamos, depois, reclamamos. Depois esperamos uma vida pela resposta à reclamação... Até hoje, ainda nem a minha testemunha ouviram!
Na última passagem de ano, estavam cerca de 150 mil pessoas na praia da Nazaré, terra que não terá nem 30 mil lugares de estacionamento. Carros estacionados em cima dos passeios e nas rotundas, carros estacionados em canaviais, carros estacionados nas bermas estradas municipais vindas de ALcobaça e da Marinha Grande... via-se de tudo!
Houve uma "sortuda" que arranjou um lugar fantástico no dia 31 à tarde: eu! Era um lugar de estacionamento normal, apenas reservado ao Tribunal, que já estava encerrado e que não iria abrir no dia seguinte. Pensamento: ninguém vai passar multas nesta noite, nesta terra, muito menos ao meu carro, que não está a empatar o trânsito, nem irá incomodar ninguém. Certo? Errado! No dia 1 de Janeiro de 2008, tinha a multa à minha espera.
Os julgamentos sumários do pessoal apanhado a conduzir sem carta de condução e com alcoolémia só se realizaram no dia 2, nenhum funcionário ou magistrado entrou no Tribunal no primeiro dia do ano, mas a polícia, competente e eficiente, tratou de entrar no novo ano com o pé direito.
Estas são as minhas histórias. Conheço muitas outras de muitas outras pessoas (o que é bom, para não me sentir pessoalmente preseguida). Eu própria tenho mais, embora não de trânsito (ficam para a próxima)!
Se antes vigorava o laxismo, agora caímos no extremo oposto. Não é possível que continue a vigorar esta cultura em que o Estado nos trata como meros pagadores e não como cidadãos, sendo desrespeitados e tratados como potenciais criminosos, mesmo quando cumprimos as regras (primeiro caso, em que tirei bilhete) ou quando não as cumprimos porque o poder público não o permite (segundo caso, em que não há estacionamento suficiente para os turistas que visitam a vila).
O Estado devia perceber que cada um de nós é um "bocadinho" mais do que contibuinte, é o dono do espaço público, que se finge zelar com tanta intransigência.
Estacionei, pus as moedas no parquímetro e retirei um ticket válido para cerca de 2 horas. Quando voltei ao carro, 1 hora e pouco depois, tinha o carro bloqueado, com a enervante fita amarela à volta e... 60€ para pagar.
Dirigi-me ao funcionário (vou tentar não fazer piadas sobre os fatos verdes que usam...), que reconheceu o erro, mas... não me retirou a multa! Que não, que não podia, que eu tinha que pagar a multa para me desbloquearem o carro e, se quisesse, poderia depois reclamar para os serviços da DGV.
Claro que me custou a acreditar que, mesmo provando-se ter eu pago pelo estacionamento, tendo eu o ticket no tablier a sorrir-nos, mesmo assim, tinha não só que pagar a multa, como, posteriormente, tinha que ser eu a impugná-la (num prazo de 15 dias) para que o valor me fosse reembolsado. Mas parece que é mesmo assim que as coisas se processam em Portugal: com o Estado, primeiro pagamos, depois, reclamamos. Depois esperamos uma vida pela resposta à reclamação... Até hoje, ainda nem a minha testemunha ouviram!
Na última passagem de ano, estavam cerca de 150 mil pessoas na praia da Nazaré, terra que não terá nem 30 mil lugares de estacionamento. Carros estacionados em cima dos passeios e nas rotundas, carros estacionados em canaviais, carros estacionados nas bermas estradas municipais vindas de ALcobaça e da Marinha Grande... via-se de tudo!
Houve uma "sortuda" que arranjou um lugar fantástico no dia 31 à tarde: eu! Era um lugar de estacionamento normal, apenas reservado ao Tribunal, que já estava encerrado e que não iria abrir no dia seguinte. Pensamento: ninguém vai passar multas nesta noite, nesta terra, muito menos ao meu carro, que não está a empatar o trânsito, nem irá incomodar ninguém. Certo? Errado! No dia 1 de Janeiro de 2008, tinha a multa à minha espera.
Os julgamentos sumários do pessoal apanhado a conduzir sem carta de condução e com alcoolémia só se realizaram no dia 2, nenhum funcionário ou magistrado entrou no Tribunal no primeiro dia do ano, mas a polícia, competente e eficiente, tratou de entrar no novo ano com o pé direito.
Estas são as minhas histórias. Conheço muitas outras de muitas outras pessoas (o que é bom, para não me sentir pessoalmente preseguida). Eu própria tenho mais, embora não de trânsito (ficam para a próxima)!
Se antes vigorava o laxismo, agora caímos no extremo oposto. Não é possível que continue a vigorar esta cultura em que o Estado nos trata como meros pagadores e não como cidadãos, sendo desrespeitados e tratados como potenciais criminosos, mesmo quando cumprimos as regras (primeiro caso, em que tirei bilhete) ou quando não as cumprimos porque o poder público não o permite (segundo caso, em que não há estacionamento suficiente para os turistas que visitam a vila).
O Estado devia perceber que cada um de nós é um "bocadinho" mais do que contibuinte, é o dono do espaço público, que se finge zelar com tanta intransigência.
25 de fevereiro de 2008
O "país moderno" II
"Em Portugal o risco de pobreza e as desigualdades na distribuição dos rendimentos são dos mais elevados da União Europeia, segundo o Relatório Conjunto de 2008 sobre Protecção e Inclusão Social divulgado esta segunda-feira em Bruxelas." (Expresso)
O "país moderno"
"Portugal é um dos oito países da União Europeia (UE) onde se registam níveis mais elevados de pobreza nas crianças, nomeadamente nas que vivem com adultos empregados, segundo um relatório da Comissão Europeia." (Público)
Eis os "resultados" que realmente importam.
Eis os "resultados" que realmente importam.
19 de fevereiro de 2008
A entrevista que o PSD tornou boa
Todas as críticas à entrevista de ontem passaram a ser relativas depois de ouvir a análise do PSD sobre a mesma... Zita Seabra, vice-presidente escalada para botar discurso sobre o tema, mostrou por que esteve com Santana e por que está agora com Menezes: porque todos adoram ser anedota nacional. Mais valia o PSD emigrar do que manter estas tristes figuras.
Sócrates não falou das razões políticas para as suas medidas. E o PSD? Já se esqueceu do que quer dizer política.
Sócrates saiu-se mal a falar do insucesso escolar (que não é sinónimo de estatísticas, mas sim de falta de conhecimentos). E o PSD? Tornou-se um exemplo vivo desse insucesso.
Sócrates não foi inquirido sobre a reforma da Administração Pública nem sobre a Justiça (o sector onde reinam os principais problemas do nosso país). E o PSD? Não tem opinião sobre nada disto, por isso é melhor não chamar a atenção para o facto.
O PSD já não se limita a não fazer oposição: está agora definitivamente apostado a incrementar a depressão nacional...
Sócrates não falou das razões políticas para as suas medidas. E o PSD? Já se esqueceu do que quer dizer política.
Sócrates saiu-se mal a falar do insucesso escolar (que não é sinónimo de estatísticas, mas sim de falta de conhecimentos). E o PSD? Tornou-se um exemplo vivo desse insucesso.
Sócrates não foi inquirido sobre a reforma da Administração Pública nem sobre a Justiça (o sector onde reinam os principais problemas do nosso país). E o PSD? Não tem opinião sobre nada disto, por isso é melhor não chamar a atenção para o facto.
O PSD já não se limita a não fazer oposição: está agora definitivamente apostado a incrementar a depressão nacional...
18 de fevereiro de 2008
O "caso Emeralda"
Para quem se interessa pelo tema, aconselho uma ida ao blog "Esmeralda Sim", que nos dá a conhecer o "outro lado" da história, aquele que a comunicação social fez questão de esquecer.
Apoiado!
"... [Alegre] vai convidar os dirigentes socialistas para uma espécie de "congresso da esquerda" que decidiu organizar extra-muros do partido. Além do PS, também o PCP e o Bloco de Esquerda serão desafiados a aparecer na grande convenção sobre o estado da esquerda. E, claro, serão convidados cidadãos independentes.
Manuel Alegre está imparável no seu objectivo de travar dentro e fora do Partido Socialista, "um intenso combate político e ideológico"..." (DN)
Nuno Ramos de Almeida, no 5 Dias:
"Era positivo que pessoas oriundas das várias esquerdas tivessem a capacidade de pensar em conjunto. Conseguissem construir um terreno de encontro de todos que permitisse a criação de uma agenda comum para a mudança que batalhasse para alterar a hegemonia no terreno das propostas.
No fundo, seria construir uma sala e um programa de conversas que não privilegiasse nenhum partido de esquerda, mas que fornecesse livremente ideias e reflexões. Um lugar que não pudesse ser instrumentalizado por nenhum partido que excluisse a ambição de ser mais do que uma local de conversa, mas que servisse como criador de ideias para uso comum de toda a esquerda que queira um política de transformação económica, social, política e cultural."
João Rodrigues, no Ladrões de Bicicletas:
"...é preciso criar condições para que a prazo possa emergir um espaço permanente de encontro, debate e proposta no campo da esquerda socialista que esteja para além dos partidos (que não contra eles) e que contribua, através de um envolvimento sério e sem concessões na luta das ideias, para quebrar o consenso neoliberal que ainda continua a definir os termos do possível em Portugal. Um «colectivo intelectual», organizado e consequente, que junte académicos, jornalistas, dirigentes políticos e activistas para elaborar argumentos e propostas robustas."
Manuel Alegre está imparável no seu objectivo de travar dentro e fora do Partido Socialista, "um intenso combate político e ideológico"..." (DN)
Nuno Ramos de Almeida, no 5 Dias:
"Era positivo que pessoas oriundas das várias esquerdas tivessem a capacidade de pensar em conjunto. Conseguissem construir um terreno de encontro de todos que permitisse a criação de uma agenda comum para a mudança que batalhasse para alterar a hegemonia no terreno das propostas.
No fundo, seria construir uma sala e um programa de conversas que não privilegiasse nenhum partido de esquerda, mas que fornecesse livremente ideias e reflexões. Um lugar que não pudesse ser instrumentalizado por nenhum partido que excluisse a ambição de ser mais do que uma local de conversa, mas que servisse como criador de ideias para uso comum de toda a esquerda que queira um política de transformação económica, social, política e cultural."
João Rodrigues, no Ladrões de Bicicletas:
"...é preciso criar condições para que a prazo possa emergir um espaço permanente de encontro, debate e proposta no campo da esquerda socialista que esteja para além dos partidos (que não contra eles) e que contribua, através de um envolvimento sério e sem concessões na luta das ideias, para quebrar o consenso neoliberal que ainda continua a definir os termos do possível em Portugal. Um «colectivo intelectual», organizado e consequente, que junte académicos, jornalistas, dirigentes políticos e activistas para elaborar argumentos e propostas robustas."
História de encantar
Parece que, até Santana Lopes chegar a primeiro-ministro e animar as hostes com o seu chorrilho de disparates, os edifícios onde funcionavam casinos, no final das respectivas concessões (qual final?), revertiam para o Estado.Todas as empresas que decidiram investir no negócio do jogo sabiam isto de antemão, não houve nenhuma que tenha gasto o seu dinheiro desconhecendo este facto. Todas jogavam segundo as regras.
Era, então, esta lei que regia o sector quando a Estoril-Sol decidiu apostar no Casino de Lisboa. Ou seja, quando a empresa pagou uns belos milhões à Parque Expo pelo antigo Pavilhão do Futuro e quando gastou mais uma bela maquia a reformar as instalações, sabia que, quando a concessão chegasse ao fim (qual fim?), o Pavilhão voltaria para as mãos do Estado. (O que, neste caso, até seria mais do que justo, dado que o edifício era propriedade de uma empresa pública, que não o vendeu.)
Mas, vai daí, a Estoril-Sol, que ninguém obrigou a entrar no negócio do Casino de Lisboa, passou a achar que esta lei era de uma injustiça extrema e tratou de mandar uma simpática cartinha ao ministro do Turismo, o honesto trabalhador Telmo Correia, fazendo, nada mais nada menos, do que a mais desavergonhada das pressões para que este revogasse a lei (favorecendo, obviamente, a empresa).
Na missiva, a Estoril-Sol sugeria claramente que o futuro decreto-lei consignasse claramente, num dos seus artigos, que "Não são reversíveis para o Estado, no termo da concessão, os casinos que ainda não se encontrem em funcionamento à data de entrada em vigor do presente diploma” (por “casinos que não se encontrem em funcionamento”, leia-se “Casino de Lisboa”…).
E afirmava ainda que a mudança no regime da reversibilidade dos equipamentos seria “totalmente imperceptível quer pela simultaneidade da sua publicação com as demais alterações de artigos do mesmo decreto-lei, quer pela sua formulação genérica e abstracta, insusceptível de ser interpretada como relacionável com a clarificação da situação concreta" (por “situação concreta”, entenda-se “Casino de Lisboa”).
Mas o mundo moderno já quase não comunica por meio das velhas epístolas e a Estoril-Sol tratou também de recorrer também à comunicação telefónica para pressionar todos quantos pudessem puxar a brasa à sua sardinha.
Há escutas telefónicas a provarem as pressões do presidente da Estoril-Sol, Mário Assis Ferreira, sobre Abel Pinheiro (sim, aquele outro honesto dirigente popular, arguido no caso Portucale, e, à época, responsável pelo departamento financeiro do partido que recebeu os financiamentos mais transparentes que se possa imaginar). Julgo (mas não posso jurar) que é nesses telefonemas que surge a famosa frase sobre Telmo Correia: “ele assina qualquer merda!”.
As pressões foram profícuas: o regime de reversibilidade dos equipamentos dos casinos foi alterado pelo governo em Dezembro de 2004. Tcharan!
No parecer emitido com a lei anterior ainda em vigor, a Inspecção Geral de Jogos tinha, muito naturalmente, afirmado que o edifício do casino de Lisboa iria reverter para o Estado no final da concessão.
Num parecer emitido já com a nova lei a bombar, ou seja, depois de Dezembro de 2004, a Inspecção Geral de Jogos afirmou, muito naturalmente, que o edifício do Casino de Lisboa iria passar a ser propriedade privada da Estoril-Sol. Tcharan!
Telmo Correia põe um visto neste parecer na véspera de levantar arraiais do ministério, numa noite de grande trabalho, e Paulo Portas, apesar de também estar extremamente atarefado, avisa Abel Pinheiro que o visto já foi posto (supõe-se que Abel Pinheiro tenha avisado seguidamente o amigalhaço presidente da Estoril-Sol).
Telmo Correia põe um visto num parecer que vem dizer aquilo que a lei diz. Lei que foi por ele levada a aprovação. Depois de ter sido pressionado para isso pela empresa que lucrou com a nova lei.
Posto isto, Telmo Correia veio desmentir exactamente o quê?!
Devia ter vergonha e limitar-se a arranjar um advogado de defesa. E daí, talvez não venha a precisar de advogado. Era necessário que Portugal fosse um país a sério para que esta gente fosse julgada, condenada e acabasse com os costados na cadeia.
Era, então, esta lei que regia o sector quando a Estoril-Sol decidiu apostar no Casino de Lisboa. Ou seja, quando a empresa pagou uns belos milhões à Parque Expo pelo antigo Pavilhão do Futuro e quando gastou mais uma bela maquia a reformar as instalações, sabia que, quando a concessão chegasse ao fim (qual fim?), o Pavilhão voltaria para as mãos do Estado. (O que, neste caso, até seria mais do que justo, dado que o edifício era propriedade de uma empresa pública, que não o vendeu.)
Mas, vai daí, a Estoril-Sol, que ninguém obrigou a entrar no negócio do Casino de Lisboa, passou a achar que esta lei era de uma injustiça extrema e tratou de mandar uma simpática cartinha ao ministro do Turismo, o honesto trabalhador Telmo Correia, fazendo, nada mais nada menos, do que a mais desavergonhada das pressões para que este revogasse a lei (favorecendo, obviamente, a empresa).
Na missiva, a Estoril-Sol sugeria claramente que o futuro decreto-lei consignasse claramente, num dos seus artigos, que "Não são reversíveis para o Estado, no termo da concessão, os casinos que ainda não se encontrem em funcionamento à data de entrada em vigor do presente diploma” (por “casinos que não se encontrem em funcionamento”, leia-se “Casino de Lisboa”…).
E afirmava ainda que a mudança no regime da reversibilidade dos equipamentos seria “totalmente imperceptível quer pela simultaneidade da sua publicação com as demais alterações de artigos do mesmo decreto-lei, quer pela sua formulação genérica e abstracta, insusceptível de ser interpretada como relacionável com a clarificação da situação concreta" (por “situação concreta”, entenda-se “Casino de Lisboa”).
Mas o mundo moderno já quase não comunica por meio das velhas epístolas e a Estoril-Sol tratou também de recorrer também à comunicação telefónica para pressionar todos quantos pudessem puxar a brasa à sua sardinha.
Há escutas telefónicas a provarem as pressões do presidente da Estoril-Sol, Mário Assis Ferreira, sobre Abel Pinheiro (sim, aquele outro honesto dirigente popular, arguido no caso Portucale, e, à época, responsável pelo departamento financeiro do partido que recebeu os financiamentos mais transparentes que se possa imaginar). Julgo (mas não posso jurar) que é nesses telefonemas que surge a famosa frase sobre Telmo Correia: “ele assina qualquer merda!”.
As pressões foram profícuas: o regime de reversibilidade dos equipamentos dos casinos foi alterado pelo governo em Dezembro de 2004. Tcharan!
No parecer emitido com a lei anterior ainda em vigor, a Inspecção Geral de Jogos tinha, muito naturalmente, afirmado que o edifício do casino de Lisboa iria reverter para o Estado no final da concessão.
Num parecer emitido já com a nova lei a bombar, ou seja, depois de Dezembro de 2004, a Inspecção Geral de Jogos afirmou, muito naturalmente, que o edifício do Casino de Lisboa iria passar a ser propriedade privada da Estoril-Sol. Tcharan!
Telmo Correia põe um visto neste parecer na véspera de levantar arraiais do ministério, numa noite de grande trabalho, e Paulo Portas, apesar de também estar extremamente atarefado, avisa Abel Pinheiro que o visto já foi posto (supõe-se que Abel Pinheiro tenha avisado seguidamente o amigalhaço presidente da Estoril-Sol).
Telmo Correia põe um visto num parecer que vem dizer aquilo que a lei diz. Lei que foi por ele levada a aprovação. Depois de ter sido pressionado para isso pela empresa que lucrou com a nova lei.
Posto isto, Telmo Correia veio desmentir exactamente o quê?!
Devia ter vergonha e limitar-se a arranjar um advogado de defesa. E daí, talvez não venha a precisar de advogado. Era necessário que Portugal fosse um país a sério para que esta gente fosse julgada, condenada e acabasse com os costados na cadeia.
13 de fevereiro de 2008
Timor
Timor foi o banho de democracia da minha geração.
Quem teve a sorte de já nascer em liberdade sabe o que Setembro de 1999 significou em termos de ganho de consciência política, de solidariedade internacional, de responsabilidade social.
Por isso, a pena que sinto, de cada vez que nos chega mais uma triste notícia daquele lado do mundo, é a dobrar relativamente a todas as outras desgraças do planeta.
É que nós acreditámos mesmo naquilo!...
Quem teve a sorte de já nascer em liberdade sabe o que Setembro de 1999 significou em termos de ganho de consciência política, de solidariedade internacional, de responsabilidade social.
Por isso, a pena que sinto, de cada vez que nos chega mais uma triste notícia daquele lado do mundo, é a dobrar relativamente a todas as outras desgraças do planeta.
É que nós acreditámos mesmo naquilo!...
Dúvidas
Juro que gostava de perceber por que razão aqueles que, há um ano, votaram "não" no referendo que despenalizou a IVG estão felizes por, nos seis meses em que a lei esteve até agora em vigor, se terem realizado cerca de metade dos abortos previstos.
Nas suas palavras, isso significa que ainda há muitas mulheres que continuam a recorrer ao aborto clandestino, o que retira a razão a quem defendeu a despenalização. Primeiro, não nos retira razão nenhuma. Segundo, não me parece que a manutenção da prática abortos clandestinos seja tema que deva causar felicidade...
PS - Eu, pelo contrário, estou contente por já viver num país onde, em seis meses, mais de 6000 mulheres puderam interromper a gravidez em condições de higiene, de dignidade e sem a possibilidade de virem a ser julgadas como criminosas.
Nas suas palavras, isso significa que ainda há muitas mulheres que continuam a recorrer ao aborto clandestino, o que retira a razão a quem defendeu a despenalização. Primeiro, não nos retira razão nenhuma. Segundo, não me parece que a manutenção da prática abortos clandestinos seja tema que deva causar felicidade...
PS - Eu, pelo contrário, estou contente por já viver num país onde, em seis meses, mais de 6000 mulheres puderam interromper a gravidez em condições de higiene, de dignidade e sem a possibilidade de virem a ser julgadas como criminosas.
8 de fevereiro de 2008
O multiculturalismo a propósito do arcebispo da Cantuária
"The Archbishop of Canterbury has been widely criticised after he called for aspects of Islamic sharia law to be adopted in Britain.
(...)
The Archbishop provoked the row by saying Britain had to "face up to the fact" that some citizens did not relate to this country's legal system and argued that officially sanctioning sharia law would improve community relations.
He said there was an argument that aspects of sharia law, such as those involving divorce, financial transactions and the settling of disputes, could be accommodated with British legislation." (Telegraph)
Portugal não tem (ainda?) os problemas levantados pelo multiculturalismo que já se vivem noutras partes do mundo. Na Grã-Bretanha, há muito que se debatem com eles. Agora, até um arcebispo acha que se deve introduzir a lei islâmica no país, que ela até tem muitas virtudes! Vá lá que não referiu a morte por lapidação ou as chibatadas como algumas das ditas vantagens...
A verdade é que este tipo de discurso não é novo e, parecendo ser inclusivo e tolerante, tem o efeito oposto e torna-se em muitos casos perigoso.
Em primeiro lugar, impõe com toda a força o relativismo e, consequentemente, assume que há questões em que os nossos (leia-se, ocidentais) valores podem ser postos entre parenteses e até altamente contrariados em nome da tolerância e da aceitação do Outro. Exemplo: "Eu já considero que é crime bater numa mulher. Tu achas que não? Então, está à vontade!" (Note-se que fui suave, porque podia ter escolhido a excisão como exemplo...).
Direitos diferentes para culturas diferentes não é sinónimo de tolerância, nem de inclusão, é antes a negação da importância e da dignidade da nossa lei, que levou milhares de anos a construir.
Nos países ocidentais, advogamos uma série de práticas e proibimos outras tantas. Proibimo-las. Ponto. Não as proibimos aos cidadãos ocidentais com ascendência judaico-cristã. Proibimo-las a todos, porque nos parecem inadmissíveis. E isto não pode nunca ser posto em causa. Por um lado, porque isso significaria pôr em causa a nossa própria base cultural (seria isso justo?), por outro lado, porque levantaria problemas práticos inacreditáveis e de impossível resolução.
Imaginemos que uma mulher britânica se casa com um homem muçulmano. Qual a lei que regerá um hipotético divórcio? Imaginemos um caso de violência doméstica. Deixa de ser crime se o casal for muçulmano?
O multiculturalismo é das coisas mais positivas que as nossas sociedades apresentam nos dias de hoje. É um fenómeno social que merece um olhar político verdadeiramente inclusivo e tolerante, não políticas multiculturalistas que, em seu nome, intoduzam leis e princípios contrários à cultura que nos deu tanto trabalho a construir.
(...)
The Archbishop provoked the row by saying Britain had to "face up to the fact" that some citizens did not relate to this country's legal system and argued that officially sanctioning sharia law would improve community relations.
He said there was an argument that aspects of sharia law, such as those involving divorce, financial transactions and the settling of disputes, could be accommodated with British legislation." (Telegraph)
Portugal não tem (ainda?) os problemas levantados pelo multiculturalismo que já se vivem noutras partes do mundo. Na Grã-Bretanha, há muito que se debatem com eles. Agora, até um arcebispo acha que se deve introduzir a lei islâmica no país, que ela até tem muitas virtudes! Vá lá que não referiu a morte por lapidação ou as chibatadas como algumas das ditas vantagens...
A verdade é que este tipo de discurso não é novo e, parecendo ser inclusivo e tolerante, tem o efeito oposto e torna-se em muitos casos perigoso.
Em primeiro lugar, impõe com toda a força o relativismo e, consequentemente, assume que há questões em que os nossos (leia-se, ocidentais) valores podem ser postos entre parenteses e até altamente contrariados em nome da tolerância e da aceitação do Outro. Exemplo: "Eu já considero que é crime bater numa mulher. Tu achas que não? Então, está à vontade!" (Note-se que fui suave, porque podia ter escolhido a excisão como exemplo...).
Direitos diferentes para culturas diferentes não é sinónimo de tolerância, nem de inclusão, é antes a negação da importância e da dignidade da nossa lei, que levou milhares de anos a construir.
Nos países ocidentais, advogamos uma série de práticas e proibimos outras tantas. Proibimo-las. Ponto. Não as proibimos aos cidadãos ocidentais com ascendência judaico-cristã. Proibimo-las a todos, porque nos parecem inadmissíveis. E isto não pode nunca ser posto em causa. Por um lado, porque isso significaria pôr em causa a nossa própria base cultural (seria isso justo?), por outro lado, porque levantaria problemas práticos inacreditáveis e de impossível resolução.
Imaginemos que uma mulher britânica se casa com um homem muçulmano. Qual a lei que regerá um hipotético divórcio? Imaginemos um caso de violência doméstica. Deixa de ser crime se o casal for muçulmano?
O multiculturalismo é das coisas mais positivas que as nossas sociedades apresentam nos dias de hoje. É um fenómeno social que merece um olhar político verdadeiramente inclusivo e tolerante, não políticas multiculturalistas que, em seu nome, intoduzam leis e princípios contrários à cultura que nos deu tanto trabalho a construir.
6 de fevereiro de 2008
Lá vamos nós, cantando e rindo
«A Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) quer que a perda de capacidades do trabalhador reflectida numa redução de produtividade seja justa causa para o despedimento.
(...)
“Um trabalhador que esteja cansado física ou psicologicamente – porque está mais velho, porque tem problemas familiares, porque trabalhar naquela empresa não era exactamente o que pretendia ou porque se desinteressou do trabalho – deve poder ser despedido por justa causa”, defendeu em conversa com o Correio da Manhã Gregório Rocha Novo, membro da direcção da CIP.» (Correio da Manhã)
Cansaço, velhice, problemas familiares, descontentamento = despedimento por justa causa?!
Comentários para quê?...
(...)
“Um trabalhador que esteja cansado física ou psicologicamente – porque está mais velho, porque tem problemas familiares, porque trabalhar naquela empresa não era exactamente o que pretendia ou porque se desinteressou do trabalho – deve poder ser despedido por justa causa”, defendeu em conversa com o Correio da Manhã Gregório Rocha Novo, membro da direcção da CIP.» (Correio da Manhã)
Cansaço, velhice, problemas familiares, descontentamento = despedimento por justa causa?!
Comentários para quê?...
5 de fevereiro de 2008
As vergonhas do PP
Telmo Correia assinou 300 despachos na sua última madrugada como ministro (já há muito) apenas em gestão. Com um desses despachos, concedeu um edifício público à empresa detentora de um casino, porque, coitadinha, teve que fazer obras no edifício, que é de todos nós, para que aí pudesse ganhar uma fortuna com o negócio do jogo.
À mesma hora, Paulo Portas fotocopiava afincadamente documentos ministeriais, como se a Defesa Nacional fosse a sua coutada.
Uns dias antes, Nobre Guedes aprovava projectos para zonas protegidas. Sobreiros abatidos em troca de financiamentos partidários e viva o Ambiente.
Fica aqui o ponto da situação da falta de vergonha na cara da nossa direita partidária... Sim, aquela que depois fala de qualquer tema com ar moralista, com tom de superioridade, com sorriso arrogante.
À mesma hora, Paulo Portas fotocopiava afincadamente documentos ministeriais, como se a Defesa Nacional fosse a sua coutada.
Uns dias antes, Nobre Guedes aprovava projectos para zonas protegidas. Sobreiros abatidos em troca de financiamentos partidários e viva o Ambiente.
Fica aqui o ponto da situação da falta de vergonha na cara da nossa direita partidária... Sim, aquela que depois fala de qualquer tema com ar moralista, com tom de superioridade, com sorriso arrogante.
3 de fevereiro de 2008
A bronquidão...
«O Presidente da República apelou hoje "à descontracção" e a que "não se fale de política por ser Carnaval", escusando-se a comentar as notícias do PÚBLICO sobre o primeiro-ministro.
"É bom que tenhamos agora quatro dias em que não se fala de política para os portugueses não pensarem nisso e os próprios políticos poderem gozar com tranquilidade", disse Cavaco Silva aos jornalistas.» (Público)
Ainda temos direito a vomitar, não temos?
"É bom que tenhamos agora quatro dias em que não se fala de política para os portugueses não pensarem nisso e os próprios políticos poderem gozar com tranquilidade", disse Cavaco Silva aos jornalistas.» (Público)
Ainda temos direito a vomitar, não temos?
2 de fevereiro de 2008
"É a Cultura, estúpido!"
Era óptimo que se aproveitasse a mudança de ministros da Cultura para se começar a levar a cabo uma verdadeira política cultural. Por verdadeira, entendo uma política estruturada, com pés e cabeça. E, já agora, que possa ser-nos revelada.
No que à cultura diz respeito, os últimos anos têm sido inexistentes... Para além da instalação da Colecção Berardo no CCB e de uma pequena parte da colecção do Hermitage ter vindo fazer turismo a Lisboa, estes anos são marcados por uma sucessão de disparates, ora trágicos, ora risíveis.
Está na altura de sabermos, então, o que é que este governo pretende como política cultural. Ao longo dos anos, habituámo-nos a ver o ministério da Cultura como a secção que dá subsídios. Ora a uma clientela, ora a outra, consoante o ministro e os seus amigos.
Há quem defenda que esses subsídios devem ser maioritariamente canalizados para obras de autor, de vanguarda, mesmo que sejam susceptíveis de atrair pouquíssimo público; há quem defenda que devem ser atribuídos a La Féria e Companhia, porque esses enchem as salas; há quem ache que vale a pena abrir museus com acervos vergonhosos e horários de fecho às 17 horas; há quem pense que museus é coisa do passado... Há de tudo! Só não sabemos o que há no ministério...
Estaria talvez na altura de se clarificar se se pretende que a Cultura continue presa à ideia de subsídio como esmola e não como resultado do mérito dos projectos; se se pretende continuar a investir sectorialmente, ou avançar para uma política transversal; se se pretende que a Cultura continue a ser um tema de duas cidades, ou algo que diz respeito a todo o país...
Desde há uns tempos para cá que o discurso positivo acerca das "ciências e tecnologias" tem, como outra face, a desvalorização daquilo que conhecemos, de forma geral, por Cultura. Desde o desinvestimento no ensino superior das áreas humanísticas e artísticas até à inexistência de políticas culturais coerentes, tudo se conjuga para que História, Filosofia, Letras, Artes sejam consideradas áreas elitistas que não devem ser promovidas ou incentivadas (muito menos, pagas...), porque em nada irão beneficiar o país, o crescimento do país, o progresso do país, a diminuição do défice do país... O que interessa, nos dias de hoje, é criar riqueza, sendo que riqueza é número, é mensurável, contabilizável...
É também contra este discurso e os seus pré-conceitos que se deve guiar uma política cultural. Porque este é um discurso que apenas nos empurra para o embrutecimento, para o (espante-se!) empobrecimento enquanto seres humanos.
No que à cultura diz respeito, os últimos anos têm sido inexistentes... Para além da instalação da Colecção Berardo no CCB e de uma pequena parte da colecção do Hermitage ter vindo fazer turismo a Lisboa, estes anos são marcados por uma sucessão de disparates, ora trágicos, ora risíveis.
Está na altura de sabermos, então, o que é que este governo pretende como política cultural. Ao longo dos anos, habituámo-nos a ver o ministério da Cultura como a secção que dá subsídios. Ora a uma clientela, ora a outra, consoante o ministro e os seus amigos.
Há quem defenda que esses subsídios devem ser maioritariamente canalizados para obras de autor, de vanguarda, mesmo que sejam susceptíveis de atrair pouquíssimo público; há quem defenda que devem ser atribuídos a La Féria e Companhia, porque esses enchem as salas; há quem ache que vale a pena abrir museus com acervos vergonhosos e horários de fecho às 17 horas; há quem pense que museus é coisa do passado... Há de tudo! Só não sabemos o que há no ministério...
Estaria talvez na altura de se clarificar se se pretende que a Cultura continue presa à ideia de subsídio como esmola e não como resultado do mérito dos projectos; se se pretende continuar a investir sectorialmente, ou avançar para uma política transversal; se se pretende que a Cultura continue a ser um tema de duas cidades, ou algo que diz respeito a todo o país...
Desde há uns tempos para cá que o discurso positivo acerca das "ciências e tecnologias" tem, como outra face, a desvalorização daquilo que conhecemos, de forma geral, por Cultura. Desde o desinvestimento no ensino superior das áreas humanísticas e artísticas até à inexistência de políticas culturais coerentes, tudo se conjuga para que História, Filosofia, Letras, Artes sejam consideradas áreas elitistas que não devem ser promovidas ou incentivadas (muito menos, pagas...), porque em nada irão beneficiar o país, o crescimento do país, o progresso do país, a diminuição do défice do país... O que interessa, nos dias de hoje, é criar riqueza, sendo que riqueza é número, é mensurável, contabilizável...
É também contra este discurso e os seus pré-conceitos que se deve guiar uma política cultural. Porque este é um discurso que apenas nos empurra para o embrutecimento, para o (espante-se!) empobrecimento enquanto seres humanos.
A I República e o final da monarquia
A historiografia de esquerda, que tem sido predominante desde o 25 de Abril, tem passado a mensagem de que a I República foi uma era dourada, que se seguiu à fase de inacreditável afundamento nacional que foi a monarquia constitucional.
Efectivamente, durante estes anos, o que aprendemos nas escolas escamoteava o facto de, a partir de 1910, se ter proibido o direito à greve; o facto de se ter reduzido significativamente o corpo de eleitores, ao retirar-se o direito de voto aos analfabetos, que já o exerciam na recta final da monarquia; o facto de ter vigorado censura na imprensa (durante a Primeira Guerra, os jornais apareciam mesmo com espaços em branco, com cruzes por cima, nas zonas que deviam ser ocupadas por notícias sobre a participação portuguesa na guerra), depois de se ter vivido, durante o período monárquico, uma fase de bastante liberdade de expressão (era possível a Bordalo Pinheiro caricaturar rei e ministros nas páginas dos jornais); o facto de se viver num regime de partido dominante, que impedia manifestações e reprimia opositores.
Durante todos estes anos, a verdade é que as maiores críticas que ouvimos à I República tiveram que ver com o facto de ter sido um período de grande instabilidade política, em que os Presidentes se sucederam à velocidade da luz, e de incapacidade para resolver os problemas que herdou da monarquia e os novos que lhe surgiram.
Porém, agora, parece que assistimos ao nascer da tendência oposta! Agora, é a historiografia de direita que parece querer escamotear a verdade dos factos relativos ao final da monarquia. A propósito dos 100 anos sobre o assassinato do rei D. Carlos, tudo se pode dizer de positivo sobre o seu reinado!
D. Carlos gozava, é certo, de prestígio na Europa e era um bom diplomata (o que lhe permitiu interceder com sucesso junto de alguns dos nossos credores internacionais), o que claramente não é (não foi) suficiente para garantir que os destinos políticos do país iam no bom sentido.
Para além disto, o rei - que, na época, "reina, mas não governa" - tinha que se interessar suficientemente pelo país político, de forma a saber "lê-lo" e "interpretá-lo". Ou seja, um rei "constitucional" (agora usa-se o adjectivo como sendo um grande elogio... não percebo porquê...) não conduzia o poder executivo, mas escolhia o chefe de governo de acordo com a ideia que tinha sobre quem seria a pessoa mais indicada para enfrentar os problemas do país no momento, pelo que tinha que conhecer os problemas e as soluções. Eram escolhas pessoais. Foi aqui que D. Carlos falhou. E isto significa que foi um mau chefe de Estado!
Portugal vivia, desde o ínicio da monarquia constitucional, com um sistema eleitoral que favorecia (e aplaudia) o "caciquismo" (expressão que dura até hoje...) e as suas "chapeladas", vivia em constante bancarrota, governado por ministros incompetentes... A corrupção, as "luvas", a crise financeira não surgiram com a I República.
Mas a tudo isto, D. Carlos somou a nomeação de João Franco como primeiro-ministro e a concessão da possibilidade de este governar em "ditadura", isto é, sem o Parlamento. Somou ainda a sua falta de tacto na gestão da crise do "mapa cor-de-rosa" e do Ultimatum inglês.
Foram escolhas pessoais de D. Carlos que se deveram a uma má leitura dos factos... Podem tentar dizer agora que o rei era altamente preparado para o cargo. De que serviu, se não soube agir em conformidade? D. Carlos não soube ser chefe de Estado de um país europeu pobre e em convulsão, no início do séc. XX. Se o rei tivesse sabido estar à altura do que lhe era exigido, todos lhe perdoariam os gastos, as caçadas em Vila Viçosa, a oceanografia militante...
A verdade é que D. Carlos era um Saxe-Coburgo Gotha, um espírito artístico, culto, curioso e bon vivant, que pouco tinha que ver com a "piolheira" nacional... Mas nada disto serve para dourar o seu reinado e, consequentemente, o final da monarquia.
Num país tendencialmente monárquico, como é o nosso, foi necessário que a monarquia tivesse batido no fundo, tivesse escancarado a sua incompetência, o seu desinteresse, a sua falta de coragem, para que se pudesse implantar um regime republicano.
E é isto que a nova (velha?) historiografia parece agora querer fazer esquecer...
Efectivamente, durante estes anos, o que aprendemos nas escolas escamoteava o facto de, a partir de 1910, se ter proibido o direito à greve; o facto de se ter reduzido significativamente o corpo de eleitores, ao retirar-se o direito de voto aos analfabetos, que já o exerciam na recta final da monarquia; o facto de ter vigorado censura na imprensa (durante a Primeira Guerra, os jornais apareciam mesmo com espaços em branco, com cruzes por cima, nas zonas que deviam ser ocupadas por notícias sobre a participação portuguesa na guerra), depois de se ter vivido, durante o período monárquico, uma fase de bastante liberdade de expressão (era possível a Bordalo Pinheiro caricaturar rei e ministros nas páginas dos jornais); o facto de se viver num regime de partido dominante, que impedia manifestações e reprimia opositores.
Durante todos estes anos, a verdade é que as maiores críticas que ouvimos à I República tiveram que ver com o facto de ter sido um período de grande instabilidade política, em que os Presidentes se sucederam à velocidade da luz, e de incapacidade para resolver os problemas que herdou da monarquia e os novos que lhe surgiram.
Porém, agora, parece que assistimos ao nascer da tendência oposta! Agora, é a historiografia de direita que parece querer escamotear a verdade dos factos relativos ao final da monarquia. A propósito dos 100 anos sobre o assassinato do rei D. Carlos, tudo se pode dizer de positivo sobre o seu reinado!
D. Carlos gozava, é certo, de prestígio na Europa e era um bom diplomata (o que lhe permitiu interceder com sucesso junto de alguns dos nossos credores internacionais), o que claramente não é (não foi) suficiente para garantir que os destinos políticos do país iam no bom sentido.
Para além disto, o rei - que, na época, "reina, mas não governa" - tinha que se interessar suficientemente pelo país político, de forma a saber "lê-lo" e "interpretá-lo". Ou seja, um rei "constitucional" (agora usa-se o adjectivo como sendo um grande elogio... não percebo porquê...) não conduzia o poder executivo, mas escolhia o chefe de governo de acordo com a ideia que tinha sobre quem seria a pessoa mais indicada para enfrentar os problemas do país no momento, pelo que tinha que conhecer os problemas e as soluções. Eram escolhas pessoais. Foi aqui que D. Carlos falhou. E isto significa que foi um mau chefe de Estado!
Portugal vivia, desde o ínicio da monarquia constitucional, com um sistema eleitoral que favorecia (e aplaudia) o "caciquismo" (expressão que dura até hoje...) e as suas "chapeladas", vivia em constante bancarrota, governado por ministros incompetentes... A corrupção, as "luvas", a crise financeira não surgiram com a I República.
Mas a tudo isto, D. Carlos somou a nomeação de João Franco como primeiro-ministro e a concessão da possibilidade de este governar em "ditadura", isto é, sem o Parlamento. Somou ainda a sua falta de tacto na gestão da crise do "mapa cor-de-rosa" e do Ultimatum inglês.
Foram escolhas pessoais de D. Carlos que se deveram a uma má leitura dos factos... Podem tentar dizer agora que o rei era altamente preparado para o cargo. De que serviu, se não soube agir em conformidade? D. Carlos não soube ser chefe de Estado de um país europeu pobre e em convulsão, no início do séc. XX. Se o rei tivesse sabido estar à altura do que lhe era exigido, todos lhe perdoariam os gastos, as caçadas em Vila Viçosa, a oceanografia militante...
A verdade é que D. Carlos era um Saxe-Coburgo Gotha, um espírito artístico, culto, curioso e bon vivant, que pouco tinha que ver com a "piolheira" nacional... Mas nada disto serve para dourar o seu reinado e, consequentemente, o final da monarquia.
Num país tendencialmente monárquico, como é o nosso, foi necessário que a monarquia tivesse batido no fundo, tivesse escancarado a sua incompetência, o seu desinteresse, a sua falta de coragem, para que se pudesse implantar um regime republicano.
E é isto que a nova (velha?) historiografia parece agora querer fazer esquecer...
30 de janeiro de 2008
Mudança de ministro ou de política?
Ontem, após a exoneração de Correia de Campos, a oposição afadigou-se em declarações que davam a entender que Sócrates teria demitido o ministro da Saúde por pretender uma inversão nas políticas da área.
Desde Luís Filipe Menezes a afirmar que a remodelação significava que o governo reconhecia ter falhado na Saúde, até Manuel Alegre a considerar que "o primeiro-ministro compreendeu as consequências negativas desta política", passando por António Arnaud, que acha que o primeiro-ministro foi "sensível à revolta generalizada", quase todos julgaram que os acontecimentos de ontem se tratavam de uma inflexão na prática política e não apenas uma mudança de nomes.
Eu acho que vai acontecer o contrário: tudo vai ficar igual. Quer dizer, muda a cara, talvez mude o discurso, muda certamente o estilo, mas a política, essa, manter-se-á.
Em primeiro lugar, não nos esqueçamos, foi Correia de Campos quem se demitiu, não foi Sócrates que o mandou embora. O primeiro-ministro não estava descontente com o trabalho do seu ministro. Ministro que que seguia a política do governo: Correia de Campos não se pôs a fechar maternidades e urgências, ou a criar taxas de internamento, sem dar contas a Sócrates; todas estas medidas impopulares eram avalizadas (senão iniciadas...) pelo "chefe".
Assim sendo, a verdade é que Sócrates não deu, neste processo, nenhum sinal de querer mudar o rumo, de estar arrependido, de querer travar a avalanche de mudanças. A bem dizer, ele não deu sequer sinal de querer mudar o titular da pasta...
De facto, o primeiro-ministro já deu provas de que se está nas tintas para as polémicas surgidas em torno das políticas do governo. E também de que não muda ministros no auge das contestações (pelo contrário, nesse aspecto até tem demonstrado mais lealdade do que os seus antecessores...).
Se Sócrates se preocupasse com as contestações aos seus ministros, pelo menos Maria de Lurdes Rodrigues e Mário Lino (para não falar de Manuel Pinho e Alberto Costa) tinham acompanhado os ministros da Saúde e da Cultura nesta remodelação. Mas Sócrates não se preocupa com isso (talvez porque acredite que "medidas impopulares são populares", isto é, que este regime de "cinto apertado" e reformas constantes acaba por conquistar votos. E talvez não se engane!).
Correia de Campos preocupou-se por ele... e saiu.
A partir de amanhã, teremos o mesmo presente, embora com outro papel de embrulho. Poderão vir os históricos do PS dizer o que quiserem (e achar que têm alguma importância nas decisões do primeiro-ministro... pois sim... era bom!), que aquilo que temos tido é a política de Saúde do governo PS. Oficial. E continuará a ser certamente. Com um bocadinho de "sorte", Sócrates manda fechar já qualquer coisita para a semana para percebermos como é...
Desde Luís Filipe Menezes a afirmar que a remodelação significava que o governo reconhecia ter falhado na Saúde, até Manuel Alegre a considerar que "o primeiro-ministro compreendeu as consequências negativas desta política", passando por António Arnaud, que acha que o primeiro-ministro foi "sensível à revolta generalizada", quase todos julgaram que os acontecimentos de ontem se tratavam de uma inflexão na prática política e não apenas uma mudança de nomes.
Eu acho que vai acontecer o contrário: tudo vai ficar igual. Quer dizer, muda a cara, talvez mude o discurso, muda certamente o estilo, mas a política, essa, manter-se-á.
Em primeiro lugar, não nos esqueçamos, foi Correia de Campos quem se demitiu, não foi Sócrates que o mandou embora. O primeiro-ministro não estava descontente com o trabalho do seu ministro. Ministro que que seguia a política do governo: Correia de Campos não se pôs a fechar maternidades e urgências, ou a criar taxas de internamento, sem dar contas a Sócrates; todas estas medidas impopulares eram avalizadas (senão iniciadas...) pelo "chefe".
Assim sendo, a verdade é que Sócrates não deu, neste processo, nenhum sinal de querer mudar o rumo, de estar arrependido, de querer travar a avalanche de mudanças. A bem dizer, ele não deu sequer sinal de querer mudar o titular da pasta...
De facto, o primeiro-ministro já deu provas de que se está nas tintas para as polémicas surgidas em torno das políticas do governo. E também de que não muda ministros no auge das contestações (pelo contrário, nesse aspecto até tem demonstrado mais lealdade do que os seus antecessores...).
Se Sócrates se preocupasse com as contestações aos seus ministros, pelo menos Maria de Lurdes Rodrigues e Mário Lino (para não falar de Manuel Pinho e Alberto Costa) tinham acompanhado os ministros da Saúde e da Cultura nesta remodelação. Mas Sócrates não se preocupa com isso (talvez porque acredite que "medidas impopulares são populares", isto é, que este regime de "cinto apertado" e reformas constantes acaba por conquistar votos. E talvez não se engane!).
Correia de Campos preocupou-se por ele... e saiu.
A partir de amanhã, teremos o mesmo presente, embora com outro papel de embrulho. Poderão vir os históricos do PS dizer o que quiserem (e achar que têm alguma importância nas decisões do primeiro-ministro... pois sim... era bom!), que aquilo que temos tido é a política de Saúde do governo PS. Oficial. E continuará a ser certamente. Com um bocadinho de "sorte", Sócrates manda fechar já qualquer coisita para a semana para percebermos como é...
23 de janeiro de 2008
O feminismo ainda faz sentido
"... embora representem 59 por cento dos diplomados universitários e possuam um melhor nível de estudos, as mulheres continuam a ter uma taxa de emprego 14,4 por cento inferior à dos homens e ganham, em média, menos 15 por cento do que os seus colegas masculinos por cada hora de trabalho.
O documento [relatório anual da UE sobre a igualdade entre homens e mulheres] revela igualmente que as mulheres se deparam com maiores dificuldades para atingir postos de decisão, na medida em que a proporção de mulheres dirigentes nas empresas progride muito lentamente e não ultrapassa os 33 por cento.
O equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada é outro domínio em que subsistem diferenças entre mulheres e homens, sendo de assinalar que a taxa de emprego das mães de crianças pequenas é de apenas 62,4 por cento, contra 91,4 por cento dos pais." (PortugalDiário)
Perante estes factos, pergunto eu: por que razão tanta gente se escandaliza quando afirmo que sou feminista?
É que enquanto houver diferenças de direitos entre sexos (e estas diferenças não são apenas formais, são também - e mais importantes - reais), faz todo o sentido continuar a lembrar a injustiça que isso representa e a reivindicar igualdade. Igualdade de acesso ao emprego, igualdade na progressão na carreira, igualdade na partilha das tarefas domésticas...
Tem sido esse esforço que faz com que estejamos melhor agora do que há 2500 anos, no berço da nossa civilização.
O documento [relatório anual da UE sobre a igualdade entre homens e mulheres] revela igualmente que as mulheres se deparam com maiores dificuldades para atingir postos de decisão, na medida em que a proporção de mulheres dirigentes nas empresas progride muito lentamente e não ultrapassa os 33 por cento.
O equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada é outro domínio em que subsistem diferenças entre mulheres e homens, sendo de assinalar que a taxa de emprego das mães de crianças pequenas é de apenas 62,4 por cento, contra 91,4 por cento dos pais." (PortugalDiário)
Perante estes factos, pergunto eu: por que razão tanta gente se escandaliza quando afirmo que sou feminista?
É que enquanto houver diferenças de direitos entre sexos (e estas diferenças não são apenas formais, são também - e mais importantes - reais), faz todo o sentido continuar a lembrar a injustiça que isso representa e a reivindicar igualdade. Igualdade de acesso ao emprego, igualdade na progressão na carreira, igualdade na partilha das tarefas domésticas...
Tem sido esse esforço que faz com que estejamos melhor agora do que há 2500 anos, no berço da nossa civilização.
As leis que aí vêm
"O presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), José Luís Medina, defendeu esta quarta-feira, no Porto, ser urgente que Portugal adopte medidas de saúde pública «agressivas» para combater a obesidade. (...)
«Tem que se mudar as mentalidades e a própria cultura, acabar com a ingestão de gorduras, de álcool, com o assado de domingo, os rissóis e o pão com manteiga à entrada das refeições. Tem que se mudar», avisou." (Diário Digital)
Querem apostar que qualquer dia ainda haverá leis a determinar tudo isto?
É inacreditável o estado a que isto chegou... Por muito grave que seja o problema da obesidade em Portugal, é absurdo que alguém faça este tipo de declarações deteministas e arrogantes.
Uma coisa são campanhas de sensibilização, outra é afirmar que há uma série de hábitos que têm que acabar porque fazem mal à saúde!
Nós ainda temos liberdade, não?!
via: 31 da Armada
«Tem que se mudar as mentalidades e a própria cultura, acabar com a ingestão de gorduras, de álcool, com o assado de domingo, os rissóis e o pão com manteiga à entrada das refeições. Tem que se mudar», avisou." (Diário Digital)
Querem apostar que qualquer dia ainda haverá leis a determinar tudo isto?
É inacreditável o estado a que isto chegou... Por muito grave que seja o problema da obesidade em Portugal, é absurdo que alguém faça este tipo de declarações deteministas e arrogantes.
Uma coisa são campanhas de sensibilização, outra é afirmar que há uma série de hábitos que têm que acabar porque fazem mal à saúde!
Nós ainda temos liberdade, não?!
via: 31 da Armada
22 de janeiro de 2008
Manuel Alegre
Eu gosto do Alegre. Admiro-o intelectual e politicamente. E tenho pena que não aproveite o capital social e político, que merecidamente conquistou, para formar um novo partido. Oskar Lafontaine, ex-líder do SPD, fê-lo na Alemanha e o seu "Die Linke" é já a terceira força política. Não é por acaso: muito do eleitorado que se identifica com o socialismo democrático, não se revê hoje nos partidos sociais-democratas (em Portugal, o partido social-democrata é, obviamente, o PS e não o PSD) existentes.
Provocação esquerdista do dia
Rosa Luxemburgo dizia que o sistema de crédito, longe de actuar contra as crises, acentuava-as, extremava-as.
"Um pouco mais de rigor S.F.F."
Na notícia a propósito do debate entre os candidatos democratas, relaizado pela CNN, o PortugalDiário diz, a certa altura, que "Convém, contudo, não esquecer que ainda faltam duas semanas para disputa final.".
Que eu saiba, as votações só terminam no dia 7 de Junho, com a eleição dos delegados democratas no Estado de Porto Rico... Daqui a duas semanas, teremos a "Super 3ª Feira", em que tudo pode, obviamente, ficar resolvido, mas não se trata da disputa final...
É caso para dizer: "um pouco mais de rigor, S.F.F."!
Que eu saiba, as votações só terminam no dia 7 de Junho, com a eleição dos delegados democratas no Estado de Porto Rico... Daqui a duas semanas, teremos a "Super 3ª Feira", em que tudo pode, obviamente, ficar resolvido, mas não se trata da disputa final...
É caso para dizer: "um pouco mais de rigor, S.F.F."!
18 de janeiro de 2008
"Problems, problems" - a culpa é tua!
Pedro Boucherie Mendes (PBM), no Atlântico, respondeu ao post da sua colega de blog que linkámos aqui em baixo.
Ora, segundo PBM, a culpa dos problemas que os jovens portugueses enfrentam é dos próprios jovens. Mal habituados, não querem trabalhar, uma vez que isso significa perder mordomias, nomeadamente, verem-se obrigados a vender os seus Smarts e a abandonarem as viagens mensais a Nova Iorque!!!
Absolutamente fantástico!
Claro que o desemprego jovem é culpa dos jovens e dos maus hábitos que os papás sustentaram. Claro que a inexistência de bolsas para quem se dedica a mestrados e doutoramentos é culpa dos jovens, todos eles ricos e cheios de luxos. Claro que trabalhar sem direito sequer a salário, durante meses e meses a fio, é culpa dos jovens, essa cambada que se acha digna de direitos.
Como é que ninguém tinha percebido que o problema era este?
Num outro post, posterior, PBM vem ainda acrescentar que andou de 2 cavalos muito tempo e que não foi a Nova Iorque. Que espectáculo! Realmente, já não se fazem jovens como antigamente... No tempo dele é que era!
Por favor, vamos falar a sério: os jovens portugueses não são, na sua esmagadora maioria, como PBM os pinta! E, mesmo que o fossem, isso não seria causa dos problemas que enfrentam quando chega a hora de entrarem no mercado de trabalho! Os problemas são-lhes exógenos, nada têm que ver com as viagens que eles possam ou não ter feito, com os carros que possam ou não conduzir...
Mesmo que todos conduzíssemos Smarts (o que é, obviamente, uma generalização demagógica), qual a relação entre isso e o serem-nos repetidamente oferecidos trabalhos não remunerados, remunerados abaixo do salário mínimo (como não se declara nada, não há problema), com contratos a tempo incerto com empresas de trabalho temporário (vulgo, vai-se para a rua em qualquer altura)!!??
Claro que a geração que conduziu 2 cavalos não teve estes problemas... Porque era atinada... Porque teve uma juventude frugal...
O real problema de PBM é, então, o facto de os jovens de hoje terem, de uma maneira geral, acesso a mais bens materiais do que ele, do que a sua geração, quando tinha menos de 30 anos. Esquece-se, com certeza do facto de que a sua geração (a rasca...) também teve mais (mil vezes mais) bens do que a dos meus pais e não consta que tenha reclamado, à época, por sentir que não lhe estavam a ser incutidas responsabilidade, brio, ambição...
Os jovens de hoje têm mp3? Na altura, não tinham, porque não existiam; tinham, por exemplo, gira-discos, coisa que os seus pais não deviam ver, de forma nenhuma, como prioridade, quando contavam 20 e tal anos. Era um luxo que os papás lhes permitiam, não percebendo, claro, como estavam a habituar mal os meninos, que, dessa forma, nunca quereriam trabalhar...
Para PBM, nós somos a primeira geração a ter aquilo que a anterior não teve, o que, naturalmente, fez de nós uns monstrinhos irresponsáveis e preguiçosos. Certo? Não! Nós somos apenas a primeira geração que, ainda jovem, percebeu que iria viver muito pior do que a anterior! PBM pode estar a borrifar-se para o assunto, mas podia evitar gozar connosco.
Ora, segundo PBM, a culpa dos problemas que os jovens portugueses enfrentam é dos próprios jovens. Mal habituados, não querem trabalhar, uma vez que isso significa perder mordomias, nomeadamente, verem-se obrigados a vender os seus Smarts e a abandonarem as viagens mensais a Nova Iorque!!!
Absolutamente fantástico!
Claro que o desemprego jovem é culpa dos jovens e dos maus hábitos que os papás sustentaram. Claro que a inexistência de bolsas para quem se dedica a mestrados e doutoramentos é culpa dos jovens, todos eles ricos e cheios de luxos. Claro que trabalhar sem direito sequer a salário, durante meses e meses a fio, é culpa dos jovens, essa cambada que se acha digna de direitos.
Como é que ninguém tinha percebido que o problema era este?
Num outro post, posterior, PBM vem ainda acrescentar que andou de 2 cavalos muito tempo e que não foi a Nova Iorque. Que espectáculo! Realmente, já não se fazem jovens como antigamente... No tempo dele é que era!
Por favor, vamos falar a sério: os jovens portugueses não são, na sua esmagadora maioria, como PBM os pinta! E, mesmo que o fossem, isso não seria causa dos problemas que enfrentam quando chega a hora de entrarem no mercado de trabalho! Os problemas são-lhes exógenos, nada têm que ver com as viagens que eles possam ou não ter feito, com os carros que possam ou não conduzir...
Mesmo que todos conduzíssemos Smarts (o que é, obviamente, uma generalização demagógica), qual a relação entre isso e o serem-nos repetidamente oferecidos trabalhos não remunerados, remunerados abaixo do salário mínimo (como não se declara nada, não há problema), com contratos a tempo incerto com empresas de trabalho temporário (vulgo, vai-se para a rua em qualquer altura)!!??
Claro que a geração que conduziu 2 cavalos não teve estes problemas... Porque era atinada... Porque teve uma juventude frugal...
O real problema de PBM é, então, o facto de os jovens de hoje terem, de uma maneira geral, acesso a mais bens materiais do que ele, do que a sua geração, quando tinha menos de 30 anos. Esquece-se, com certeza do facto de que a sua geração (a rasca...) também teve mais (mil vezes mais) bens do que a dos meus pais e não consta que tenha reclamado, à época, por sentir que não lhe estavam a ser incutidas responsabilidade, brio, ambição...
Os jovens de hoje têm mp3? Na altura, não tinham, porque não existiam; tinham, por exemplo, gira-discos, coisa que os seus pais não deviam ver, de forma nenhuma, como prioridade, quando contavam 20 e tal anos. Era um luxo que os papás lhes permitiam, não percebendo, claro, como estavam a habituar mal os meninos, que, dessa forma, nunca quereriam trabalhar...
Para PBM, nós somos a primeira geração a ter aquilo que a anterior não teve, o que, naturalmente, fez de nós uns monstrinhos irresponsáveis e preguiçosos. Certo? Não! Nós somos apenas a primeira geração que, ainda jovem, percebeu que iria viver muito pior do que a anterior! PBM pode estar a borrifar-se para o assunto, mas podia evitar gozar connosco.
Geração à rasca
Post de Ana Margarida Craveiro, no blog Atlântico:
"Além do mais, esta ausência de política estruturada para os recém-licenciadas é estúpida, de qualquer ponto de vista, seja político, seja económico.
Entrei para a Universidade a pagar 63 contos de propinas. O ordenado mínimo da altura. Saí a pagar 900 euros. De toda a maneira, dificilmente cobria a despesa que o Estado teve com a minha formação. Que sentido faz em investir nos jovens, se depois os encaminha para um futuro de apresentação quinzenal em Centros de (Des)Emprego?
Eu voto. E como eu, toda a minha geração. Somos raros a ter contratos de emprego, a muitos de nós nem deixam pagar impostos. Somos a primeira geração em muito tempo a saber, com todas as certezas, que vai viver pior do que os pais. Sair de casa representa necessariamente um downsizing no estilo de vida. E, no entanto, ainda acreditamos o suficiente nisto para não dar o salto em massa, como os nossos pais e tios nos anos 60. Show some respect."
E, por um momento, a esquerda e a direita esquecem as suas diferenças, unidas por aquilo que é comum a toda uma geração...
O desemprego, que vai muito além do que qualquer taxa possa revelar; a incerteza de um investigador académico, sem apoio no presente e com grandes dúvidas relativamente ao seu futuro; a inexistência de contratos (palavra mais do que proibida); os estágios curriculares (não remunerados, ao contrário dos estágios profissionais), que os patrões julgam estarmos interessados em prolongar até aos 30 anos; os salários vergonhosos que nos oferecem, em troca de trabalho sem direito a férias, a descontos para a Segurança Social, a contagem de horas extraordinárias... No fundo, as faltas de respeito constantes a que somos sujeitos.
Se a geração X era a "geração rasca", a geração Y é a "geração à rasca"...
Mas que os nossos governantes não se preocupem, que não germina em nós qualquer semente de revolta... Mais ano, menos ano, este ABANDONO, a que toda uma classe política votou quem hoje está na casa dos 20, não produzirá qualquer efeito negativo na sociedade...
"Além do mais, esta ausência de política estruturada para os recém-licenciadas é estúpida, de qualquer ponto de vista, seja político, seja económico.
Entrei para a Universidade a pagar 63 contos de propinas. O ordenado mínimo da altura. Saí a pagar 900 euros. De toda a maneira, dificilmente cobria a despesa que o Estado teve com a minha formação. Que sentido faz em investir nos jovens, se depois os encaminha para um futuro de apresentação quinzenal em Centros de (Des)Emprego?
Eu voto. E como eu, toda a minha geração. Somos raros a ter contratos de emprego, a muitos de nós nem deixam pagar impostos. Somos a primeira geração em muito tempo a saber, com todas as certezas, que vai viver pior do que os pais. Sair de casa representa necessariamente um downsizing no estilo de vida. E, no entanto, ainda acreditamos o suficiente nisto para não dar o salto em massa, como os nossos pais e tios nos anos 60. Show some respect."
E, por um momento, a esquerda e a direita esquecem as suas diferenças, unidas por aquilo que é comum a toda uma geração...
O desemprego, que vai muito além do que qualquer taxa possa revelar; a incerteza de um investigador académico, sem apoio no presente e com grandes dúvidas relativamente ao seu futuro; a inexistência de contratos (palavra mais do que proibida); os estágios curriculares (não remunerados, ao contrário dos estágios profissionais), que os patrões julgam estarmos interessados em prolongar até aos 30 anos; os salários vergonhosos que nos oferecem, em troca de trabalho sem direito a férias, a descontos para a Segurança Social, a contagem de horas extraordinárias... No fundo, as faltas de respeito constantes a que somos sujeitos.
Se a geração X era a "geração rasca", a geração Y é a "geração à rasca"...
Mas que os nossos governantes não se preocupem, que não germina em nós qualquer semente de revolta... Mais ano, menos ano, este ABANDONO, a que toda uma classe política votou quem hoje está na casa dos 20, não produzirá qualquer efeito negativo na sociedade...
16 de janeiro de 2008
A taxa para o audiovisual
Hoje recebi um e-mail (daqueles que circulam em cadeia) em que se mostrava indignação pelo facto de pagarmos, na nossa factura da EDP, uma taxa para o audiovisual, quando a maioria de nós contrata simultaneamente empresas que lhe forneçam o serviço de televisão (TVCabo, Cabovisão, etc.), serviço que inclui, naturalmente, o acesso à RTP.
Reli o e-mail e era mesmo esta a relação que se estabelecia: pagamos duas vezes para termos os canais da RTP em casa. Logo, a taxa para o audiovisual era injusta.
Em primeiro lugar, esta conexão estaria logo deitada por terra pelo facto de RTP1 e RTP2 serem emitidas em sinal aberto, o que significa, em termos muito práticos, que não é preciso contratar qualquer companhia para a elas ter acesso. Basta uma antena e um cabo que a ligue ao aparelho, à moda antiga, que quem quiser apenas ter acesso aos 4 canais emitidos em sinal aberto, não paga um tostão por isso.
Em segundo lugar, nós não pagamos uma taxa para o audiovisual para termos a RTP (nem qualquer outro canal) em casa. Nós pagamos a dita taxa para que exista RTP e RDP. Pagamo-la para financiar o serviço público de televisão e rádio, quer o vejamos/escutemos, quer não.
Pode não se concordar com a taxa, mas tem que se assumir que ela não existe para termos os canais da RTP nas nossas salas, nem a Antena 1, 2 e 3 nos nossos carros. Falar sobre esta taxa implica uma discussão mais profunda sobre se se acha ou não importante existir um serviço público de comunicação. Se se concordar que este deve existir, então, este tem que ser financiado com os nossos impostos...
Claro que se pode argumentar que nós já pagamos tantos impostos, que deveriam servir para este fim... E servem, don't worry!
Mas a verdade é que esta taxa se mostrou de certa forma indispensável para mantermos, em Portugal, um serviço público de comunicação sustentável e decente. Olhemos para a história recente: no início dos anos 90, o governo de Cavaco Silva pôs fim a uma taxa idêntica, aquando da abertura do mercado aos privados. Conclusão? Uma desgraça! A RTP entrou em colapso financeiro, por um lado, e decadência de conteúdos, por outro. E não apenas devido à concorrência dos então novos canais, mas sim, porque sofreu um enorme desinvestimento. Não se devia ter desleixado esta área? Pois... Nem nenhuma das outras, certo?
Mais de uma década depois, um outro governo do PSD, com Morais Sarmento na pasta, reintroduziu a taxa, esta taxa que agora temos. E a RTP renasceu das cinzas. Mesmo em época de crise e mesmo tendo os canais públicos passado a transmitir metade da publicidade permitida aos canais privados (6 minutos por hora, na RTP; 12 minutos, na SIC e na TVI). E note-se que o Estado firmou este acordo, precisamente porque se aceitou que não era justo os investidores privados concorrerem em pé de igualdade em termos de captação de receitas publicitárias com um canal que, simultaneamente, usufuía de financiamento público.
No actual contexto, se deixássemos de pagar a taxa para o audiovisual (como pretendia o autor do tal e-mail, que não imagino quem seja), mais valia assumir que, a longo prazo, se fecharia o estaminé ali para os lados da Marechal Gomes da Costa... Era já isso que alguns preconizavam durante a agonia da RTP...
Reli o e-mail e era mesmo esta a relação que se estabelecia: pagamos duas vezes para termos os canais da RTP em casa. Logo, a taxa para o audiovisual era injusta.
Em primeiro lugar, esta conexão estaria logo deitada por terra pelo facto de RTP1 e RTP2 serem emitidas em sinal aberto, o que significa, em termos muito práticos, que não é preciso contratar qualquer companhia para a elas ter acesso. Basta uma antena e um cabo que a ligue ao aparelho, à moda antiga, que quem quiser apenas ter acesso aos 4 canais emitidos em sinal aberto, não paga um tostão por isso.
Em segundo lugar, nós não pagamos uma taxa para o audiovisual para termos a RTP (nem qualquer outro canal) em casa. Nós pagamos a dita taxa para que exista RTP e RDP. Pagamo-la para financiar o serviço público de televisão e rádio, quer o vejamos/escutemos, quer não.
Pode não se concordar com a taxa, mas tem que se assumir que ela não existe para termos os canais da RTP nas nossas salas, nem a Antena 1, 2 e 3 nos nossos carros. Falar sobre esta taxa implica uma discussão mais profunda sobre se se acha ou não importante existir um serviço público de comunicação. Se se concordar que este deve existir, então, este tem que ser financiado com os nossos impostos...
Claro que se pode argumentar que nós já pagamos tantos impostos, que deveriam servir para este fim... E servem, don't worry!
Mas a verdade é que esta taxa se mostrou de certa forma indispensável para mantermos, em Portugal, um serviço público de comunicação sustentável e decente. Olhemos para a história recente: no início dos anos 90, o governo de Cavaco Silva pôs fim a uma taxa idêntica, aquando da abertura do mercado aos privados. Conclusão? Uma desgraça! A RTP entrou em colapso financeiro, por um lado, e decadência de conteúdos, por outro. E não apenas devido à concorrência dos então novos canais, mas sim, porque sofreu um enorme desinvestimento. Não se devia ter desleixado esta área? Pois... Nem nenhuma das outras, certo?
Mais de uma década depois, um outro governo do PSD, com Morais Sarmento na pasta, reintroduziu a taxa, esta taxa que agora temos. E a RTP renasceu das cinzas. Mesmo em época de crise e mesmo tendo os canais públicos passado a transmitir metade da publicidade permitida aos canais privados (6 minutos por hora, na RTP; 12 minutos, na SIC e na TVI). E note-se que o Estado firmou este acordo, precisamente porque se aceitou que não era justo os investidores privados concorrerem em pé de igualdade em termos de captação de receitas publicitárias com um canal que, simultaneamente, usufuía de financiamento público.
No actual contexto, se deixássemos de pagar a taxa para o audiovisual (como pretendia o autor do tal e-mail, que não imagino quem seja), mais valia assumir que, a longo prazo, se fecharia o estaminé ali para os lados da Marechal Gomes da Costa... Era já isso que alguns preconizavam durante a agonia da RTP...
E quando é que nos faz esse grande favor?
"O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, garantiu hoje que estará ao lado do povo madeirense no dia em que este decidir enveredar pelo caminho da independência." (Público)
15 de janeiro de 2008
Comparação com os candidatos americanos
A nossa blogosfera anda, desde há algum tempo, entusiasmada com as eleições nos EUA, mas, por aqui, ainda não houve qualquer referência ao assunto...
Bom, aqui vai: um teste, que nos permite compararmos as nossas posições políticas com as dos candidatos norte-americanos!
Eu (sem grande surpresa...) sou economicamente mais à esquerda e socialmente mais progressista do que todos os candidatos. Mas estou próxima, bastante próxima, de Obama.
Bom, aqui vai: um teste, que nos permite compararmos as nossas posições políticas com as dos candidatos norte-americanos!
Eu (sem grande surpresa...) sou economicamente mais à esquerda e socialmente mais progressista do que todos os candidatos. Mas estou próxima, bastante próxima, de Obama.
13 de janeiro de 2008
Solidariedade institucional
Para todos os fumadores e para os não fumadores que considerarem que esta "gente" - que agora parece ser execrável - não incomoda assim tanto, quando, num aeroporto, fuma um cigarro metida numa espécie de aquário cheio de fumo e com uns ares condicionados a trabalhar a 200 km/hora, aqui fica o site da petição pela criação de salas de fumo nesses locais.
PS - Deixei de fumar, mas estou muito solidária. Se há local em que um fumador "morre" por um cigarro, esse local é o aeroporto...
PS - Deixei de fumar, mas estou muito solidária. Se há local em que um fumador "morre" por um cigarro, esse local é o aeroporto...
12 de janeiro de 2008
Dicionário Sócrates-eleitores (esses chatos...)
No seu discurso no Parlamento, Sócrates apontou três razões para avançar para a ratificação do Tratado por via parlamentar. Vamos traduzi-las.
1. "Não faz sentido fazer um referendo numa matéria de tão amplo consenso nacional".
Será que a ideia é a de que, sendo PS, PSD e até CDS favoráveis ao novo Tratado, os cidadãos que neles votaram também o serão? Será que a ideia é a de que havendo 90% de deputados a votar "sim" nesta ratificação parlamentar, também haveria a mesma percentagem de eleitores a dispor-se no mesmo sentido? Não, a ideia não é essa.
Sócrates sabe que este argumento não é verdadeiro. O que se passa é que, por um lado, o primeiro-ministro tem receio que muitos dos votantes nos três partidos acima referidos tenham, de facto, uma opinião diferente destes relativamente ao Tratado. Há muito boa gente que votou PS, PSD e CDS e que votaria conscientemente "não" num referendo sobre o Tratado de Lisboa. E Sócrates sabe-o bem.
Por outro lado, Sócrates também sabe que haveria quem votasse neste referendo contra ele. Votaria "não", não por estar contra o Tratado em si, mas por estar contra as políticas internas do governo. (Na minha opinião, não seriam assim tantos os que o fariam. Mais facilmente imagino um eleitor a abster-se, do que a fazer este raciocínio. Também se disse que, em França, os eleitores tinham rejeitado o Tratado por esta razão e, nas eleições seguintes, viu-se que o descontentamento dos franceses não era grande ao ponto de mudarem o seu sentido de voto...) De qualquer forma, há sempre quem o faça, engrossando, assim, as fileiras do "não".
No fundo, Sócrates sabe que um referendo sobre esta matéria não seria um passeio, tal como nos parece fazer crer.
2. "Não faz sentido fazer um referendo porque a ratificação nos parlamentos eleitos pelo povo é igualmente democrática e devemos ter o sentido da responsabilidade de não pôr em causa a legitimidade dos processos em curso nos outros países europeus".
Esta razão é fácil de escrutinar. Se no ponto anterior, Sócrates revelava medo dos cidadãos portugeses, neste diz-nos que todos os líderes europeus tem medo dos respectivos eleitores. Aquilo a que o primeiro-ministro chama "responsabilidade" é, na verdade, um acordo entre os chefes europeus para que não se corresse, em nenhum dos Estados, o risco de os cidadãos não o aprovarem.
E, assim, a Europa "dos cidadãos" continua a ser feita pelas elites, a Europa "democrática" evolui de costas viradas para todos nós, sem nos ouvir, com medo de nós!
3. "... não faz sentido fazer um referendo porque isso não se justifica face ao conteúdo do Tratado de Lisboa, que é diferente do Tratado Constitucional e era para esse, que já não existe, que havia um compromisso eleitoral de fazer um referendo."
Esta é a razão-anedota. Toda a gente sabe que a maioria do conteúdo do Tratado Constitucional está contido no Tratado de Lisboa, Giscard d'Estaign - pai da dita Constituição - lembra-o a quem o quiser ouvir (como postámos aqui), o próprio Sócrates já o afirmou convictamente. Mudou-se o nome do Tratado, é certo, retiraram-se as referências à bandeira e ao hino, mas o conteúdo está lá em grande parte (em enorme parte), pelo que a promessa de o referendar também deveria manter-se... Obviamente...
1. "Não faz sentido fazer um referendo numa matéria de tão amplo consenso nacional".
Será que a ideia é a de que, sendo PS, PSD e até CDS favoráveis ao novo Tratado, os cidadãos que neles votaram também o serão? Será que a ideia é a de que havendo 90% de deputados a votar "sim" nesta ratificação parlamentar, também haveria a mesma percentagem de eleitores a dispor-se no mesmo sentido? Não, a ideia não é essa.
Sócrates sabe que este argumento não é verdadeiro. O que se passa é que, por um lado, o primeiro-ministro tem receio que muitos dos votantes nos três partidos acima referidos tenham, de facto, uma opinião diferente destes relativamente ao Tratado. Há muito boa gente que votou PS, PSD e CDS e que votaria conscientemente "não" num referendo sobre o Tratado de Lisboa. E Sócrates sabe-o bem.
Por outro lado, Sócrates também sabe que haveria quem votasse neste referendo contra ele. Votaria "não", não por estar contra o Tratado em si, mas por estar contra as políticas internas do governo. (Na minha opinião, não seriam assim tantos os que o fariam. Mais facilmente imagino um eleitor a abster-se, do que a fazer este raciocínio. Também se disse que, em França, os eleitores tinham rejeitado o Tratado por esta razão e, nas eleições seguintes, viu-se que o descontentamento dos franceses não era grande ao ponto de mudarem o seu sentido de voto...) De qualquer forma, há sempre quem o faça, engrossando, assim, as fileiras do "não".
No fundo, Sócrates sabe que um referendo sobre esta matéria não seria um passeio, tal como nos parece fazer crer.
2. "Não faz sentido fazer um referendo porque a ratificação nos parlamentos eleitos pelo povo é igualmente democrática e devemos ter o sentido da responsabilidade de não pôr em causa a legitimidade dos processos em curso nos outros países europeus".
Esta razão é fácil de escrutinar. Se no ponto anterior, Sócrates revelava medo dos cidadãos portugeses, neste diz-nos que todos os líderes europeus tem medo dos respectivos eleitores. Aquilo a que o primeiro-ministro chama "responsabilidade" é, na verdade, um acordo entre os chefes europeus para que não se corresse, em nenhum dos Estados, o risco de os cidadãos não o aprovarem.
E, assim, a Europa "dos cidadãos" continua a ser feita pelas elites, a Europa "democrática" evolui de costas viradas para todos nós, sem nos ouvir, com medo de nós!
3. "... não faz sentido fazer um referendo porque isso não se justifica face ao conteúdo do Tratado de Lisboa, que é diferente do Tratado Constitucional e era para esse, que já não existe, que havia um compromisso eleitoral de fazer um referendo."
Esta é a razão-anedota. Toda a gente sabe que a maioria do conteúdo do Tratado Constitucional está contido no Tratado de Lisboa, Giscard d'Estaign - pai da dita Constituição - lembra-o a quem o quiser ouvir (como postámos aqui), o próprio Sócrates já o afirmou convictamente. Mudou-se o nome do Tratado, é certo, retiraram-se as referências à bandeira e ao hino, mas o conteúdo está lá em grande parte (em enorme parte), pelo que a promessa de o referendar também deveria manter-se... Obviamente...
9 de janeiro de 2008
A boa notícia que não devia ser notícia
"O Ministério das Obras Públicas vai divulgar publicamente o estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre o novo aeroporto de Lisboa, anunciou hoje o ministério tutelado por Mário Lino." (Público)
Isto não devia ser notícia... Devia ser óbvio, inquestionável, que o estudo legitimador da decisão que nos vai hipotecar nos próximos tempos teria sempre que ser tornado público... Ninguém nos faz um grande favor ao divulgar o estudo. Apenas se faz a única coisa que há a fazer!
Isto não devia ser notícia... Devia ser óbvio, inquestionável, que o estudo legitimador da decisão que nos vai hipotecar nos próximos tempos teria sempre que ser tornado público... Ninguém nos faz um grande favor ao divulgar o estudo. Apenas se faz a única coisa que há a fazer!
8 de janeiro de 2008
A escolha do Parlamento
Sócrates dar-se-á amanhã ao incómodo de nos revelar como se fará a ratificação do Tratado de Lisboa.
A escolha do Parlamento como local do anúncio não pode ser um mero acaso...
O nosso primeiro adora locais neutros e pompa e circunstância na hora de nos anunciar medidas que nos enchem os olhos. Raramente anuncia algo verdadeiramente importante na Assembleia, chegando mesmo, aliás, a não responder às perguntas da oposição durante os debates, para, alguns dias depois, vir dar as repostas ao país, mas longe, longe das críticas (lembrar, por exemplo, a recente trapalhada das Estradas de Portugal)
Porque não opta agora pelos ambientes assépticos a que nos tem habituado? Claro... Porque, com este novo gesto, quer começar desde já a afirmar que o Parlamento tem dignidade, tem legitimidade, tem tudo e mais umas botas para ratificar o Tratado de Lisboa!
Sócrates, que nos últimos debates mostrou até desprezo para com a lógica de funcionamento parlamentar, vai amanhã exaltar a "Casa da Democracia". In loco, pois... Não fazia sentido vir afirmar as virtualidades do Parlamento no Hotel Altis, certo? E depois de nos lembrar, no Parlamento, como o Parlamento é fantástico, concluirá que a ratificação será aí levada a cabo.
Adeus referendo.
PS - Oxalá me engane!
A escolha do Parlamento como local do anúncio não pode ser um mero acaso...
O nosso primeiro adora locais neutros e pompa e circunstância na hora de nos anunciar medidas que nos enchem os olhos. Raramente anuncia algo verdadeiramente importante na Assembleia, chegando mesmo, aliás, a não responder às perguntas da oposição durante os debates, para, alguns dias depois, vir dar as repostas ao país, mas longe, longe das críticas (lembrar, por exemplo, a recente trapalhada das Estradas de Portugal)
Porque não opta agora pelos ambientes assépticos a que nos tem habituado? Claro... Porque, com este novo gesto, quer começar desde já a afirmar que o Parlamento tem dignidade, tem legitimidade, tem tudo e mais umas botas para ratificar o Tratado de Lisboa!
Sócrates, que nos últimos debates mostrou até desprezo para com a lógica de funcionamento parlamentar, vai amanhã exaltar a "Casa da Democracia". In loco, pois... Não fazia sentido vir afirmar as virtualidades do Parlamento no Hotel Altis, certo? E depois de nos lembrar, no Parlamento, como o Parlamento é fantástico, concluirá que a ratificação será aí levada a cabo.
Adeus referendo.
PS - Oxalá me engane!
7 de janeiro de 2008
Falta de decoro
Portugal teve o pior crescimento económico da zona euro em 2007, a taxa de desemprego atingiu um pico histórico, sabe-se que há 2 milhões de pobres, o poder de compra de quase todos nós desceu estupidamente nos últimos anos...
Mas o défice ficou abaixo dos 3%!!!
Posso perceber a alegria dos nossos governantes. De facto, atingiram aquele que parecia ser o desígnio nacional desde há, pelo menos, 5 anos...
Mas um bocadinho mais de pés assentes na terra talvez não lhes fizesse mal... É que o país real tem défices que deviam levar governantes socialistas a, pelo menos, terem algum decoro e não nos inundarem com tiradas épicas, completamente desfasadas da realidade. Se não fossem ofensivas, seriam cómicas de tão irrealistas...
Mas o défice ficou abaixo dos 3%!!!
Posso perceber a alegria dos nossos governantes. De facto, atingiram aquele que parecia ser o desígnio nacional desde há, pelo menos, 5 anos...
Mas um bocadinho mais de pés assentes na terra talvez não lhes fizesse mal... É que o país real tem défices que deviam levar governantes socialistas a, pelo menos, terem algum decoro e não nos inundarem com tiradas épicas, completamente desfasadas da realidade. Se não fossem ofensivas, seriam cómicas de tão irrealistas...
O surrealismo
O ministro das Finanças diz-nos hoje que o crescimento económico do país está no "bom caminho". Afirma até que a nossa economia é "robusta"!
Já ontem, Sócrates considerava que este ano ia ser "ainda melhor" do que 2007.
De que é que estarão a falar?
Já ontem, Sócrates considerava que este ano ia ser "ainda melhor" do que 2007.
De que é que estarão a falar?
4 de janeiro de 2008
A injustiça dos encerramentos
Eu até acho que as razões apontadas para o encerramento de alguns serviços de urgência e maternidades são válidas, do mesmo modo que o eram os motivos que levaram ao fecho das escolas com poucos alunos. A garantia de segurança que uma equipa médica pouco treinada não proporciona, ou a falta de desenvolvimento das capacidades sociais que uma escola com um, dois ou três alunos não permite, por exemplo, parecem-me realmente importantes.
Mesmo o critério económico tem, de facto, que estar presente quando se pensa no mapa de serviços públicos: um médico ganha o mesmo quer faça dois partos por mês, quer faça dois partos por dia; um professor ganha o mesmo para ensinar uma criança ou trinta crianças. É impossível não pensar em rentabilizar recursos.
Porém, também acho que este tipo de serviços não existe para dar lucro. Deve, em muitos casos, existir, apesar de dar prejuízo. Porque existe para servir pessoas. Pessoas que, além do mais, pagam impostos para que lhes sejam prestados esses serviços!
Não advogo um serviço de urgência em cada esquina, nem uma escola em cada aldeola, mas parece-me que falta a quem nos governa uma visão transversal dos serviços públicos. Explicando melhor, parece-me que a lógica inerente a este processo de encerramentos de serviços não é uma lógica de conjunto, parece-me que não se pensa globalmente nos vários serviços existentes - de educação, de saúde, de justiça, etc -, mas antes que cada ministério procede apenas à elaboração ao seu mapa específico de prestação de serviços, encerrando onde entende que deve encerrar, abrindo (?) onde entende que deve abrir.
No fundo, o mapa dos serviços de saúde é feito e refeito sem olhar para o mapa dos serviços de educação, o da educação não tem em atenção o mapa judiciário, e assim sucessivamente.
Conclusão: há populações que se vêem privadas, não de uma escola para as suas cinco crianças, não da urgência nocturna, que era pouco usada, não da comarca do burgo, que despachava poucos processos, mas de todos os serviços a que estavam habituadas e, ainda por cima, num curto espaço de tempo.
As razões de cada ministério podem, por si só, ser válidas, mas a concentração das várias razões dos vários ministérios traduz-se, por vezes, numa situação de injustiça. Por exemplo, fecha-se a escola na aldeia A, porque tinha poucos alunos, e estes passam a ir frequentar a escola na vila B. Mas, mais tarde, fecha-se o SAP da vila B, que a aldeia A já usava, para que as urgências médicas dessas dessas populações se passem a fazer na vila C. Neste processo, a aldeia A vê-se privada da escola que tinha, mas também do serviço de urgências a que se habituara.
Falta-nos, então, um mapa de conjunto da prestação de serviços públicos, um mapa em que se entendam, senão mesmo se sobreponham as várias divisões administrativas, de modo a que não haja quem veja tudo aquilo a que tem direito, enquanto cidadão e também enquanto contribuinte, empurrado para longe de si.
Cada organização sectorial, por si só, poderá parecer racional e eficiente. Mas a organização global parece-me que se torna cada vez menos equitativa.
Mesmo o critério económico tem, de facto, que estar presente quando se pensa no mapa de serviços públicos: um médico ganha o mesmo quer faça dois partos por mês, quer faça dois partos por dia; um professor ganha o mesmo para ensinar uma criança ou trinta crianças. É impossível não pensar em rentabilizar recursos.
Porém, também acho que este tipo de serviços não existe para dar lucro. Deve, em muitos casos, existir, apesar de dar prejuízo. Porque existe para servir pessoas. Pessoas que, além do mais, pagam impostos para que lhes sejam prestados esses serviços!
Não advogo um serviço de urgência em cada esquina, nem uma escola em cada aldeola, mas parece-me que falta a quem nos governa uma visão transversal dos serviços públicos. Explicando melhor, parece-me que a lógica inerente a este processo de encerramentos de serviços não é uma lógica de conjunto, parece-me que não se pensa globalmente nos vários serviços existentes - de educação, de saúde, de justiça, etc -, mas antes que cada ministério procede apenas à elaboração ao seu mapa específico de prestação de serviços, encerrando onde entende que deve encerrar, abrindo (?) onde entende que deve abrir.
No fundo, o mapa dos serviços de saúde é feito e refeito sem olhar para o mapa dos serviços de educação, o da educação não tem em atenção o mapa judiciário, e assim sucessivamente.
Conclusão: há populações que se vêem privadas, não de uma escola para as suas cinco crianças, não da urgência nocturna, que era pouco usada, não da comarca do burgo, que despachava poucos processos, mas de todos os serviços a que estavam habituadas e, ainda por cima, num curto espaço de tempo.
As razões de cada ministério podem, por si só, ser válidas, mas a concentração das várias razões dos vários ministérios traduz-se, por vezes, numa situação de injustiça. Por exemplo, fecha-se a escola na aldeia A, porque tinha poucos alunos, e estes passam a ir frequentar a escola na vila B. Mas, mais tarde, fecha-se o SAP da vila B, que a aldeia A já usava, para que as urgências médicas dessas dessas populações se passem a fazer na vila C. Neste processo, a aldeia A vê-se privada da escola que tinha, mas também do serviço de urgências a que se habituara.
Falta-nos, então, um mapa de conjunto da prestação de serviços públicos, um mapa em que se entendam, senão mesmo se sobreponham as várias divisões administrativas, de modo a que não haja quem veja tudo aquilo a que tem direito, enquanto cidadão e também enquanto contribuinte, empurrado para longe de si.
Cada organização sectorial, por si só, poderá parecer racional e eficiente. Mas a organização global parece-me que se torna cada vez menos equitativa.
3 de janeiro de 2008
Os meus blogs de 2007
Inspirei-me no conjunto da nossa blogosfera e decidi fazer, também eu, a lista dos meus blogs preferidos no ano que terminou:
- Ladrões de Bicicletas;
- Esquerda Republicana;
- Zero de Conduta;
- Cinco Dias;
- Os Tempos que Correm.
Foram estes os blogs que li com mais prazer em 2007 e aqueles que, de alguma forma, me motivaram a entrar nesta aventura.
Bom ano!
- Ladrões de Bicicletas;
- Esquerda Republicana;
- Zero de Conduta;
- Cinco Dias;
- Os Tempos que Correm.
Foram estes os blogs que li com mais prazer em 2007 e aqueles que, de alguma forma, me motivaram a entrar nesta aventura.
Bom ano!
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