Ontem, após a exoneração de Correia de Campos, a oposição afadigou-se em declarações que davam a entender que Sócrates teria demitido o ministro da Saúde por pretender uma inversão nas políticas da área.
Desde Luís Filipe Menezes a afirmar que a remodelação significava que o governo reconhecia ter falhado na Saúde, até Manuel Alegre a considerar que "o primeiro-ministro compreendeu as consequências negativas desta política", passando por António Arnaud, que acha que o primeiro-ministro foi "sensível à revolta generalizada", quase todos julgaram que os acontecimentos de ontem se tratavam de uma inflexão na prática política e não apenas uma mudança de nomes.
Eu acho que vai acontecer o contrário: tudo vai ficar igual. Quer dizer, muda a cara, talvez mude o discurso, muda certamente o estilo, mas a política, essa, manter-se-á.
Em primeiro lugar, não nos esqueçamos, foi Correia de Campos quem se demitiu, não foi Sócrates que o mandou embora. O primeiro-ministro não estava descontente com o trabalho do seu ministro. Ministro que que seguia a política do governo: Correia de Campos não se pôs a fechar maternidades e urgências, ou a criar taxas de internamento, sem dar contas a Sócrates; todas estas medidas impopulares eram avalizadas (senão iniciadas...) pelo "chefe".
Assim sendo, a verdade é que Sócrates não deu, neste processo, nenhum sinal de querer mudar o rumo, de estar arrependido, de querer travar a avalanche de mudanças. A bem dizer, ele não deu sequer sinal de querer mudar o titular da pasta...
De facto, o primeiro-ministro já deu provas de que se está nas tintas para as polémicas surgidas em torno das políticas do governo. E também de que não muda ministros no auge das contestações (pelo contrário, nesse aspecto até tem demonstrado mais lealdade do que os seus antecessores...).
Se Sócrates se preocupasse com as contestações aos seus ministros, pelo menos Maria de Lurdes Rodrigues e Mário Lino (para não falar de Manuel Pinho e Alberto Costa) tinham acompanhado os ministros da Saúde e da Cultura nesta remodelação. Mas Sócrates não se preocupa com isso (talvez porque acredite que "medidas impopulares são populares", isto é, que este regime de "cinto apertado" e reformas constantes acaba por conquistar votos. E talvez não se engane!).
Correia de Campos preocupou-se por ele... e saiu.
A partir de amanhã, teremos o mesmo presente, embora com outro papel de embrulho. Poderão vir os históricos do PS dizer o que quiserem (e achar que têm alguma importância nas decisões do primeiro-ministro... pois sim... era bom!), que aquilo que temos tido é a política de Saúde do governo PS. Oficial. E continuará a ser certamente. Com um bocadinho de "sorte", Sócrates manda fechar já qualquer coisita para a semana para percebermos como é...
30 de janeiro de 2008
23 de janeiro de 2008
O feminismo ainda faz sentido
"... embora representem 59 por cento dos diplomados universitários e possuam um melhor nível de estudos, as mulheres continuam a ter uma taxa de emprego 14,4 por cento inferior à dos homens e ganham, em média, menos 15 por cento do que os seus colegas masculinos por cada hora de trabalho.
O documento [relatório anual da UE sobre a igualdade entre homens e mulheres] revela igualmente que as mulheres se deparam com maiores dificuldades para atingir postos de decisão, na medida em que a proporção de mulheres dirigentes nas empresas progride muito lentamente e não ultrapassa os 33 por cento.
O equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada é outro domínio em que subsistem diferenças entre mulheres e homens, sendo de assinalar que a taxa de emprego das mães de crianças pequenas é de apenas 62,4 por cento, contra 91,4 por cento dos pais." (PortugalDiário)
Perante estes factos, pergunto eu: por que razão tanta gente se escandaliza quando afirmo que sou feminista?
É que enquanto houver diferenças de direitos entre sexos (e estas diferenças não são apenas formais, são também - e mais importantes - reais), faz todo o sentido continuar a lembrar a injustiça que isso representa e a reivindicar igualdade. Igualdade de acesso ao emprego, igualdade na progressão na carreira, igualdade na partilha das tarefas domésticas...
Tem sido esse esforço que faz com que estejamos melhor agora do que há 2500 anos, no berço da nossa civilização.
O documento [relatório anual da UE sobre a igualdade entre homens e mulheres] revela igualmente que as mulheres se deparam com maiores dificuldades para atingir postos de decisão, na medida em que a proporção de mulheres dirigentes nas empresas progride muito lentamente e não ultrapassa os 33 por cento.
O equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada é outro domínio em que subsistem diferenças entre mulheres e homens, sendo de assinalar que a taxa de emprego das mães de crianças pequenas é de apenas 62,4 por cento, contra 91,4 por cento dos pais." (PortugalDiário)
Perante estes factos, pergunto eu: por que razão tanta gente se escandaliza quando afirmo que sou feminista?
É que enquanto houver diferenças de direitos entre sexos (e estas diferenças não são apenas formais, são também - e mais importantes - reais), faz todo o sentido continuar a lembrar a injustiça que isso representa e a reivindicar igualdade. Igualdade de acesso ao emprego, igualdade na progressão na carreira, igualdade na partilha das tarefas domésticas...
Tem sido esse esforço que faz com que estejamos melhor agora do que há 2500 anos, no berço da nossa civilização.
As leis que aí vêm
"O presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), José Luís Medina, defendeu esta quarta-feira, no Porto, ser urgente que Portugal adopte medidas de saúde pública «agressivas» para combater a obesidade. (...)
«Tem que se mudar as mentalidades e a própria cultura, acabar com a ingestão de gorduras, de álcool, com o assado de domingo, os rissóis e o pão com manteiga à entrada das refeições. Tem que se mudar», avisou." (Diário Digital)
Querem apostar que qualquer dia ainda haverá leis a determinar tudo isto?
É inacreditável o estado a que isto chegou... Por muito grave que seja o problema da obesidade em Portugal, é absurdo que alguém faça este tipo de declarações deteministas e arrogantes.
Uma coisa são campanhas de sensibilização, outra é afirmar que há uma série de hábitos que têm que acabar porque fazem mal à saúde!
Nós ainda temos liberdade, não?!
via: 31 da Armada
«Tem que se mudar as mentalidades e a própria cultura, acabar com a ingestão de gorduras, de álcool, com o assado de domingo, os rissóis e o pão com manteiga à entrada das refeições. Tem que se mudar», avisou." (Diário Digital)
Querem apostar que qualquer dia ainda haverá leis a determinar tudo isto?
É inacreditável o estado a que isto chegou... Por muito grave que seja o problema da obesidade em Portugal, é absurdo que alguém faça este tipo de declarações deteministas e arrogantes.
Uma coisa são campanhas de sensibilização, outra é afirmar que há uma série de hábitos que têm que acabar porque fazem mal à saúde!
Nós ainda temos liberdade, não?!
via: 31 da Armada
22 de janeiro de 2008
Manuel Alegre
Eu gosto do Alegre. Admiro-o intelectual e politicamente. E tenho pena que não aproveite o capital social e político, que merecidamente conquistou, para formar um novo partido. Oskar Lafontaine, ex-líder do SPD, fê-lo na Alemanha e o seu "Die Linke" é já a terceira força política. Não é por acaso: muito do eleitorado que se identifica com o socialismo democrático, não se revê hoje nos partidos sociais-democratas (em Portugal, o partido social-democrata é, obviamente, o PS e não o PSD) existentes.
Provocação esquerdista do dia
Rosa Luxemburgo dizia que o sistema de crédito, longe de actuar contra as crises, acentuava-as, extremava-as.
"Um pouco mais de rigor S.F.F."
Na notícia a propósito do debate entre os candidatos democratas, relaizado pela CNN, o PortugalDiário diz, a certa altura, que "Convém, contudo, não esquecer que ainda faltam duas semanas para disputa final.".
Que eu saiba, as votações só terminam no dia 7 de Junho, com a eleição dos delegados democratas no Estado de Porto Rico... Daqui a duas semanas, teremos a "Super 3ª Feira", em que tudo pode, obviamente, ficar resolvido, mas não se trata da disputa final...
É caso para dizer: "um pouco mais de rigor, S.F.F."!
Que eu saiba, as votações só terminam no dia 7 de Junho, com a eleição dos delegados democratas no Estado de Porto Rico... Daqui a duas semanas, teremos a "Super 3ª Feira", em que tudo pode, obviamente, ficar resolvido, mas não se trata da disputa final...
É caso para dizer: "um pouco mais de rigor, S.F.F."!
18 de janeiro de 2008
"Problems, problems" - a culpa é tua!
Pedro Boucherie Mendes (PBM), no Atlântico, respondeu ao post da sua colega de blog que linkámos aqui em baixo.
Ora, segundo PBM, a culpa dos problemas que os jovens portugueses enfrentam é dos próprios jovens. Mal habituados, não querem trabalhar, uma vez que isso significa perder mordomias, nomeadamente, verem-se obrigados a vender os seus Smarts e a abandonarem as viagens mensais a Nova Iorque!!!
Absolutamente fantástico!
Claro que o desemprego jovem é culpa dos jovens e dos maus hábitos que os papás sustentaram. Claro que a inexistência de bolsas para quem se dedica a mestrados e doutoramentos é culpa dos jovens, todos eles ricos e cheios de luxos. Claro que trabalhar sem direito sequer a salário, durante meses e meses a fio, é culpa dos jovens, essa cambada que se acha digna de direitos.
Como é que ninguém tinha percebido que o problema era este?
Num outro post, posterior, PBM vem ainda acrescentar que andou de 2 cavalos muito tempo e que não foi a Nova Iorque. Que espectáculo! Realmente, já não se fazem jovens como antigamente... No tempo dele é que era!
Por favor, vamos falar a sério: os jovens portugueses não são, na sua esmagadora maioria, como PBM os pinta! E, mesmo que o fossem, isso não seria causa dos problemas que enfrentam quando chega a hora de entrarem no mercado de trabalho! Os problemas são-lhes exógenos, nada têm que ver com as viagens que eles possam ou não ter feito, com os carros que possam ou não conduzir...
Mesmo que todos conduzíssemos Smarts (o que é, obviamente, uma generalização demagógica), qual a relação entre isso e o serem-nos repetidamente oferecidos trabalhos não remunerados, remunerados abaixo do salário mínimo (como não se declara nada, não há problema), com contratos a tempo incerto com empresas de trabalho temporário (vulgo, vai-se para a rua em qualquer altura)!!??
Claro que a geração que conduziu 2 cavalos não teve estes problemas... Porque era atinada... Porque teve uma juventude frugal...
O real problema de PBM é, então, o facto de os jovens de hoje terem, de uma maneira geral, acesso a mais bens materiais do que ele, do que a sua geração, quando tinha menos de 30 anos. Esquece-se, com certeza do facto de que a sua geração (a rasca...) também teve mais (mil vezes mais) bens do que a dos meus pais e não consta que tenha reclamado, à época, por sentir que não lhe estavam a ser incutidas responsabilidade, brio, ambição...
Os jovens de hoje têm mp3? Na altura, não tinham, porque não existiam; tinham, por exemplo, gira-discos, coisa que os seus pais não deviam ver, de forma nenhuma, como prioridade, quando contavam 20 e tal anos. Era um luxo que os papás lhes permitiam, não percebendo, claro, como estavam a habituar mal os meninos, que, dessa forma, nunca quereriam trabalhar...
Para PBM, nós somos a primeira geração a ter aquilo que a anterior não teve, o que, naturalmente, fez de nós uns monstrinhos irresponsáveis e preguiçosos. Certo? Não! Nós somos apenas a primeira geração que, ainda jovem, percebeu que iria viver muito pior do que a anterior! PBM pode estar a borrifar-se para o assunto, mas podia evitar gozar connosco.
Ora, segundo PBM, a culpa dos problemas que os jovens portugueses enfrentam é dos próprios jovens. Mal habituados, não querem trabalhar, uma vez que isso significa perder mordomias, nomeadamente, verem-se obrigados a vender os seus Smarts e a abandonarem as viagens mensais a Nova Iorque!!!
Absolutamente fantástico!
Claro que o desemprego jovem é culpa dos jovens e dos maus hábitos que os papás sustentaram. Claro que a inexistência de bolsas para quem se dedica a mestrados e doutoramentos é culpa dos jovens, todos eles ricos e cheios de luxos. Claro que trabalhar sem direito sequer a salário, durante meses e meses a fio, é culpa dos jovens, essa cambada que se acha digna de direitos.
Como é que ninguém tinha percebido que o problema era este?
Num outro post, posterior, PBM vem ainda acrescentar que andou de 2 cavalos muito tempo e que não foi a Nova Iorque. Que espectáculo! Realmente, já não se fazem jovens como antigamente... No tempo dele é que era!
Por favor, vamos falar a sério: os jovens portugueses não são, na sua esmagadora maioria, como PBM os pinta! E, mesmo que o fossem, isso não seria causa dos problemas que enfrentam quando chega a hora de entrarem no mercado de trabalho! Os problemas são-lhes exógenos, nada têm que ver com as viagens que eles possam ou não ter feito, com os carros que possam ou não conduzir...
Mesmo que todos conduzíssemos Smarts (o que é, obviamente, uma generalização demagógica), qual a relação entre isso e o serem-nos repetidamente oferecidos trabalhos não remunerados, remunerados abaixo do salário mínimo (como não se declara nada, não há problema), com contratos a tempo incerto com empresas de trabalho temporário (vulgo, vai-se para a rua em qualquer altura)!!??
Claro que a geração que conduziu 2 cavalos não teve estes problemas... Porque era atinada... Porque teve uma juventude frugal...
O real problema de PBM é, então, o facto de os jovens de hoje terem, de uma maneira geral, acesso a mais bens materiais do que ele, do que a sua geração, quando tinha menos de 30 anos. Esquece-se, com certeza do facto de que a sua geração (a rasca...) também teve mais (mil vezes mais) bens do que a dos meus pais e não consta que tenha reclamado, à época, por sentir que não lhe estavam a ser incutidas responsabilidade, brio, ambição...
Os jovens de hoje têm mp3? Na altura, não tinham, porque não existiam; tinham, por exemplo, gira-discos, coisa que os seus pais não deviam ver, de forma nenhuma, como prioridade, quando contavam 20 e tal anos. Era um luxo que os papás lhes permitiam, não percebendo, claro, como estavam a habituar mal os meninos, que, dessa forma, nunca quereriam trabalhar...
Para PBM, nós somos a primeira geração a ter aquilo que a anterior não teve, o que, naturalmente, fez de nós uns monstrinhos irresponsáveis e preguiçosos. Certo? Não! Nós somos apenas a primeira geração que, ainda jovem, percebeu que iria viver muito pior do que a anterior! PBM pode estar a borrifar-se para o assunto, mas podia evitar gozar connosco.
Geração à rasca
Post de Ana Margarida Craveiro, no blog Atlântico:
"Além do mais, esta ausência de política estruturada para os recém-licenciadas é estúpida, de qualquer ponto de vista, seja político, seja económico.
Entrei para a Universidade a pagar 63 contos de propinas. O ordenado mínimo da altura. Saí a pagar 900 euros. De toda a maneira, dificilmente cobria a despesa que o Estado teve com a minha formação. Que sentido faz em investir nos jovens, se depois os encaminha para um futuro de apresentação quinzenal em Centros de (Des)Emprego?
Eu voto. E como eu, toda a minha geração. Somos raros a ter contratos de emprego, a muitos de nós nem deixam pagar impostos. Somos a primeira geração em muito tempo a saber, com todas as certezas, que vai viver pior do que os pais. Sair de casa representa necessariamente um downsizing no estilo de vida. E, no entanto, ainda acreditamos o suficiente nisto para não dar o salto em massa, como os nossos pais e tios nos anos 60. Show some respect."
E, por um momento, a esquerda e a direita esquecem as suas diferenças, unidas por aquilo que é comum a toda uma geração...
O desemprego, que vai muito além do que qualquer taxa possa revelar; a incerteza de um investigador académico, sem apoio no presente e com grandes dúvidas relativamente ao seu futuro; a inexistência de contratos (palavra mais do que proibida); os estágios curriculares (não remunerados, ao contrário dos estágios profissionais), que os patrões julgam estarmos interessados em prolongar até aos 30 anos; os salários vergonhosos que nos oferecem, em troca de trabalho sem direito a férias, a descontos para a Segurança Social, a contagem de horas extraordinárias... No fundo, as faltas de respeito constantes a que somos sujeitos.
Se a geração X era a "geração rasca", a geração Y é a "geração à rasca"...
Mas que os nossos governantes não se preocupem, que não germina em nós qualquer semente de revolta... Mais ano, menos ano, este ABANDONO, a que toda uma classe política votou quem hoje está na casa dos 20, não produzirá qualquer efeito negativo na sociedade...
"Além do mais, esta ausência de política estruturada para os recém-licenciadas é estúpida, de qualquer ponto de vista, seja político, seja económico.
Entrei para a Universidade a pagar 63 contos de propinas. O ordenado mínimo da altura. Saí a pagar 900 euros. De toda a maneira, dificilmente cobria a despesa que o Estado teve com a minha formação. Que sentido faz em investir nos jovens, se depois os encaminha para um futuro de apresentação quinzenal em Centros de (Des)Emprego?
Eu voto. E como eu, toda a minha geração. Somos raros a ter contratos de emprego, a muitos de nós nem deixam pagar impostos. Somos a primeira geração em muito tempo a saber, com todas as certezas, que vai viver pior do que os pais. Sair de casa representa necessariamente um downsizing no estilo de vida. E, no entanto, ainda acreditamos o suficiente nisto para não dar o salto em massa, como os nossos pais e tios nos anos 60. Show some respect."
E, por um momento, a esquerda e a direita esquecem as suas diferenças, unidas por aquilo que é comum a toda uma geração...
O desemprego, que vai muito além do que qualquer taxa possa revelar; a incerteza de um investigador académico, sem apoio no presente e com grandes dúvidas relativamente ao seu futuro; a inexistência de contratos (palavra mais do que proibida); os estágios curriculares (não remunerados, ao contrário dos estágios profissionais), que os patrões julgam estarmos interessados em prolongar até aos 30 anos; os salários vergonhosos que nos oferecem, em troca de trabalho sem direito a férias, a descontos para a Segurança Social, a contagem de horas extraordinárias... No fundo, as faltas de respeito constantes a que somos sujeitos.
Se a geração X era a "geração rasca", a geração Y é a "geração à rasca"...
Mas que os nossos governantes não se preocupem, que não germina em nós qualquer semente de revolta... Mais ano, menos ano, este ABANDONO, a que toda uma classe política votou quem hoje está na casa dos 20, não produzirá qualquer efeito negativo na sociedade...
16 de janeiro de 2008
A taxa para o audiovisual
Hoje recebi um e-mail (daqueles que circulam em cadeia) em que se mostrava indignação pelo facto de pagarmos, na nossa factura da EDP, uma taxa para o audiovisual, quando a maioria de nós contrata simultaneamente empresas que lhe forneçam o serviço de televisão (TVCabo, Cabovisão, etc.), serviço que inclui, naturalmente, o acesso à RTP.
Reli o e-mail e era mesmo esta a relação que se estabelecia: pagamos duas vezes para termos os canais da RTP em casa. Logo, a taxa para o audiovisual era injusta.
Em primeiro lugar, esta conexão estaria logo deitada por terra pelo facto de RTP1 e RTP2 serem emitidas em sinal aberto, o que significa, em termos muito práticos, que não é preciso contratar qualquer companhia para a elas ter acesso. Basta uma antena e um cabo que a ligue ao aparelho, à moda antiga, que quem quiser apenas ter acesso aos 4 canais emitidos em sinal aberto, não paga um tostão por isso.
Em segundo lugar, nós não pagamos uma taxa para o audiovisual para termos a RTP (nem qualquer outro canal) em casa. Nós pagamos a dita taxa para que exista RTP e RDP. Pagamo-la para financiar o serviço público de televisão e rádio, quer o vejamos/escutemos, quer não.
Pode não se concordar com a taxa, mas tem que se assumir que ela não existe para termos os canais da RTP nas nossas salas, nem a Antena 1, 2 e 3 nos nossos carros. Falar sobre esta taxa implica uma discussão mais profunda sobre se se acha ou não importante existir um serviço público de comunicação. Se se concordar que este deve existir, então, este tem que ser financiado com os nossos impostos...
Claro que se pode argumentar que nós já pagamos tantos impostos, que deveriam servir para este fim... E servem, don't worry!
Mas a verdade é que esta taxa se mostrou de certa forma indispensável para mantermos, em Portugal, um serviço público de comunicação sustentável e decente. Olhemos para a história recente: no início dos anos 90, o governo de Cavaco Silva pôs fim a uma taxa idêntica, aquando da abertura do mercado aos privados. Conclusão? Uma desgraça! A RTP entrou em colapso financeiro, por um lado, e decadência de conteúdos, por outro. E não apenas devido à concorrência dos então novos canais, mas sim, porque sofreu um enorme desinvestimento. Não se devia ter desleixado esta área? Pois... Nem nenhuma das outras, certo?
Mais de uma década depois, um outro governo do PSD, com Morais Sarmento na pasta, reintroduziu a taxa, esta taxa que agora temos. E a RTP renasceu das cinzas. Mesmo em época de crise e mesmo tendo os canais públicos passado a transmitir metade da publicidade permitida aos canais privados (6 minutos por hora, na RTP; 12 minutos, na SIC e na TVI). E note-se que o Estado firmou este acordo, precisamente porque se aceitou que não era justo os investidores privados concorrerem em pé de igualdade em termos de captação de receitas publicitárias com um canal que, simultaneamente, usufuía de financiamento público.
No actual contexto, se deixássemos de pagar a taxa para o audiovisual (como pretendia o autor do tal e-mail, que não imagino quem seja), mais valia assumir que, a longo prazo, se fecharia o estaminé ali para os lados da Marechal Gomes da Costa... Era já isso que alguns preconizavam durante a agonia da RTP...
Reli o e-mail e era mesmo esta a relação que se estabelecia: pagamos duas vezes para termos os canais da RTP em casa. Logo, a taxa para o audiovisual era injusta.
Em primeiro lugar, esta conexão estaria logo deitada por terra pelo facto de RTP1 e RTP2 serem emitidas em sinal aberto, o que significa, em termos muito práticos, que não é preciso contratar qualquer companhia para a elas ter acesso. Basta uma antena e um cabo que a ligue ao aparelho, à moda antiga, que quem quiser apenas ter acesso aos 4 canais emitidos em sinal aberto, não paga um tostão por isso.
Em segundo lugar, nós não pagamos uma taxa para o audiovisual para termos a RTP (nem qualquer outro canal) em casa. Nós pagamos a dita taxa para que exista RTP e RDP. Pagamo-la para financiar o serviço público de televisão e rádio, quer o vejamos/escutemos, quer não.
Pode não se concordar com a taxa, mas tem que se assumir que ela não existe para termos os canais da RTP nas nossas salas, nem a Antena 1, 2 e 3 nos nossos carros. Falar sobre esta taxa implica uma discussão mais profunda sobre se se acha ou não importante existir um serviço público de comunicação. Se se concordar que este deve existir, então, este tem que ser financiado com os nossos impostos...
Claro que se pode argumentar que nós já pagamos tantos impostos, que deveriam servir para este fim... E servem, don't worry!
Mas a verdade é que esta taxa se mostrou de certa forma indispensável para mantermos, em Portugal, um serviço público de comunicação sustentável e decente. Olhemos para a história recente: no início dos anos 90, o governo de Cavaco Silva pôs fim a uma taxa idêntica, aquando da abertura do mercado aos privados. Conclusão? Uma desgraça! A RTP entrou em colapso financeiro, por um lado, e decadência de conteúdos, por outro. E não apenas devido à concorrência dos então novos canais, mas sim, porque sofreu um enorme desinvestimento. Não se devia ter desleixado esta área? Pois... Nem nenhuma das outras, certo?
Mais de uma década depois, um outro governo do PSD, com Morais Sarmento na pasta, reintroduziu a taxa, esta taxa que agora temos. E a RTP renasceu das cinzas. Mesmo em época de crise e mesmo tendo os canais públicos passado a transmitir metade da publicidade permitida aos canais privados (6 minutos por hora, na RTP; 12 minutos, na SIC e na TVI). E note-se que o Estado firmou este acordo, precisamente porque se aceitou que não era justo os investidores privados concorrerem em pé de igualdade em termos de captação de receitas publicitárias com um canal que, simultaneamente, usufuía de financiamento público.
No actual contexto, se deixássemos de pagar a taxa para o audiovisual (como pretendia o autor do tal e-mail, que não imagino quem seja), mais valia assumir que, a longo prazo, se fecharia o estaminé ali para os lados da Marechal Gomes da Costa... Era já isso que alguns preconizavam durante a agonia da RTP...
E quando é que nos faz esse grande favor?
"O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, garantiu hoje que estará ao lado do povo madeirense no dia em que este decidir enveredar pelo caminho da independência." (Público)
15 de janeiro de 2008
Comparação com os candidatos americanos
A nossa blogosfera anda, desde há algum tempo, entusiasmada com as eleições nos EUA, mas, por aqui, ainda não houve qualquer referência ao assunto...
Bom, aqui vai: um teste, que nos permite compararmos as nossas posições políticas com as dos candidatos norte-americanos!
Eu (sem grande surpresa...) sou economicamente mais à esquerda e socialmente mais progressista do que todos os candidatos. Mas estou próxima, bastante próxima, de Obama.
Bom, aqui vai: um teste, que nos permite compararmos as nossas posições políticas com as dos candidatos norte-americanos!
Eu (sem grande surpresa...) sou economicamente mais à esquerda e socialmente mais progressista do que todos os candidatos. Mas estou próxima, bastante próxima, de Obama.
13 de janeiro de 2008
Solidariedade institucional
Para todos os fumadores e para os não fumadores que considerarem que esta "gente" - que agora parece ser execrável - não incomoda assim tanto, quando, num aeroporto, fuma um cigarro metida numa espécie de aquário cheio de fumo e com uns ares condicionados a trabalhar a 200 km/hora, aqui fica o site da petição pela criação de salas de fumo nesses locais.
PS - Deixei de fumar, mas estou muito solidária. Se há local em que um fumador "morre" por um cigarro, esse local é o aeroporto...
PS - Deixei de fumar, mas estou muito solidária. Se há local em que um fumador "morre" por um cigarro, esse local é o aeroporto...
12 de janeiro de 2008
Dicionário Sócrates-eleitores (esses chatos...)
No seu discurso no Parlamento, Sócrates apontou três razões para avançar para a ratificação do Tratado por via parlamentar. Vamos traduzi-las.
1. "Não faz sentido fazer um referendo numa matéria de tão amplo consenso nacional".
Será que a ideia é a de que, sendo PS, PSD e até CDS favoráveis ao novo Tratado, os cidadãos que neles votaram também o serão? Será que a ideia é a de que havendo 90% de deputados a votar "sim" nesta ratificação parlamentar, também haveria a mesma percentagem de eleitores a dispor-se no mesmo sentido? Não, a ideia não é essa.
Sócrates sabe que este argumento não é verdadeiro. O que se passa é que, por um lado, o primeiro-ministro tem receio que muitos dos votantes nos três partidos acima referidos tenham, de facto, uma opinião diferente destes relativamente ao Tratado. Há muito boa gente que votou PS, PSD e CDS e que votaria conscientemente "não" num referendo sobre o Tratado de Lisboa. E Sócrates sabe-o bem.
Por outro lado, Sócrates também sabe que haveria quem votasse neste referendo contra ele. Votaria "não", não por estar contra o Tratado em si, mas por estar contra as políticas internas do governo. (Na minha opinião, não seriam assim tantos os que o fariam. Mais facilmente imagino um eleitor a abster-se, do que a fazer este raciocínio. Também se disse que, em França, os eleitores tinham rejeitado o Tratado por esta razão e, nas eleições seguintes, viu-se que o descontentamento dos franceses não era grande ao ponto de mudarem o seu sentido de voto...) De qualquer forma, há sempre quem o faça, engrossando, assim, as fileiras do "não".
No fundo, Sócrates sabe que um referendo sobre esta matéria não seria um passeio, tal como nos parece fazer crer.
2. "Não faz sentido fazer um referendo porque a ratificação nos parlamentos eleitos pelo povo é igualmente democrática e devemos ter o sentido da responsabilidade de não pôr em causa a legitimidade dos processos em curso nos outros países europeus".
Esta razão é fácil de escrutinar. Se no ponto anterior, Sócrates revelava medo dos cidadãos portugeses, neste diz-nos que todos os líderes europeus tem medo dos respectivos eleitores. Aquilo a que o primeiro-ministro chama "responsabilidade" é, na verdade, um acordo entre os chefes europeus para que não se corresse, em nenhum dos Estados, o risco de os cidadãos não o aprovarem.
E, assim, a Europa "dos cidadãos" continua a ser feita pelas elites, a Europa "democrática" evolui de costas viradas para todos nós, sem nos ouvir, com medo de nós!
3. "... não faz sentido fazer um referendo porque isso não se justifica face ao conteúdo do Tratado de Lisboa, que é diferente do Tratado Constitucional e era para esse, que já não existe, que havia um compromisso eleitoral de fazer um referendo."
Esta é a razão-anedota. Toda a gente sabe que a maioria do conteúdo do Tratado Constitucional está contido no Tratado de Lisboa, Giscard d'Estaign - pai da dita Constituição - lembra-o a quem o quiser ouvir (como postámos aqui), o próprio Sócrates já o afirmou convictamente. Mudou-se o nome do Tratado, é certo, retiraram-se as referências à bandeira e ao hino, mas o conteúdo está lá em grande parte (em enorme parte), pelo que a promessa de o referendar também deveria manter-se... Obviamente...
1. "Não faz sentido fazer um referendo numa matéria de tão amplo consenso nacional".
Será que a ideia é a de que, sendo PS, PSD e até CDS favoráveis ao novo Tratado, os cidadãos que neles votaram também o serão? Será que a ideia é a de que havendo 90% de deputados a votar "sim" nesta ratificação parlamentar, também haveria a mesma percentagem de eleitores a dispor-se no mesmo sentido? Não, a ideia não é essa.
Sócrates sabe que este argumento não é verdadeiro. O que se passa é que, por um lado, o primeiro-ministro tem receio que muitos dos votantes nos três partidos acima referidos tenham, de facto, uma opinião diferente destes relativamente ao Tratado. Há muito boa gente que votou PS, PSD e CDS e que votaria conscientemente "não" num referendo sobre o Tratado de Lisboa. E Sócrates sabe-o bem.
Por outro lado, Sócrates também sabe que haveria quem votasse neste referendo contra ele. Votaria "não", não por estar contra o Tratado em si, mas por estar contra as políticas internas do governo. (Na minha opinião, não seriam assim tantos os que o fariam. Mais facilmente imagino um eleitor a abster-se, do que a fazer este raciocínio. Também se disse que, em França, os eleitores tinham rejeitado o Tratado por esta razão e, nas eleições seguintes, viu-se que o descontentamento dos franceses não era grande ao ponto de mudarem o seu sentido de voto...) De qualquer forma, há sempre quem o faça, engrossando, assim, as fileiras do "não".
No fundo, Sócrates sabe que um referendo sobre esta matéria não seria um passeio, tal como nos parece fazer crer.
2. "Não faz sentido fazer um referendo porque a ratificação nos parlamentos eleitos pelo povo é igualmente democrática e devemos ter o sentido da responsabilidade de não pôr em causa a legitimidade dos processos em curso nos outros países europeus".
Esta razão é fácil de escrutinar. Se no ponto anterior, Sócrates revelava medo dos cidadãos portugeses, neste diz-nos que todos os líderes europeus tem medo dos respectivos eleitores. Aquilo a que o primeiro-ministro chama "responsabilidade" é, na verdade, um acordo entre os chefes europeus para que não se corresse, em nenhum dos Estados, o risco de os cidadãos não o aprovarem.
E, assim, a Europa "dos cidadãos" continua a ser feita pelas elites, a Europa "democrática" evolui de costas viradas para todos nós, sem nos ouvir, com medo de nós!
3. "... não faz sentido fazer um referendo porque isso não se justifica face ao conteúdo do Tratado de Lisboa, que é diferente do Tratado Constitucional e era para esse, que já não existe, que havia um compromisso eleitoral de fazer um referendo."
Esta é a razão-anedota. Toda a gente sabe que a maioria do conteúdo do Tratado Constitucional está contido no Tratado de Lisboa, Giscard d'Estaign - pai da dita Constituição - lembra-o a quem o quiser ouvir (como postámos aqui), o próprio Sócrates já o afirmou convictamente. Mudou-se o nome do Tratado, é certo, retiraram-se as referências à bandeira e ao hino, mas o conteúdo está lá em grande parte (em enorme parte), pelo que a promessa de o referendar também deveria manter-se... Obviamente...
9 de janeiro de 2008
A boa notícia que não devia ser notícia
"O Ministério das Obras Públicas vai divulgar publicamente o estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) sobre o novo aeroporto de Lisboa, anunciou hoje o ministério tutelado por Mário Lino." (Público)
Isto não devia ser notícia... Devia ser óbvio, inquestionável, que o estudo legitimador da decisão que nos vai hipotecar nos próximos tempos teria sempre que ser tornado público... Ninguém nos faz um grande favor ao divulgar o estudo. Apenas se faz a única coisa que há a fazer!
Isto não devia ser notícia... Devia ser óbvio, inquestionável, que o estudo legitimador da decisão que nos vai hipotecar nos próximos tempos teria sempre que ser tornado público... Ninguém nos faz um grande favor ao divulgar o estudo. Apenas se faz a única coisa que há a fazer!
8 de janeiro de 2008
A escolha do Parlamento
Sócrates dar-se-á amanhã ao incómodo de nos revelar como se fará a ratificação do Tratado de Lisboa.
A escolha do Parlamento como local do anúncio não pode ser um mero acaso...
O nosso primeiro adora locais neutros e pompa e circunstância na hora de nos anunciar medidas que nos enchem os olhos. Raramente anuncia algo verdadeiramente importante na Assembleia, chegando mesmo, aliás, a não responder às perguntas da oposição durante os debates, para, alguns dias depois, vir dar as repostas ao país, mas longe, longe das críticas (lembrar, por exemplo, a recente trapalhada das Estradas de Portugal)
Porque não opta agora pelos ambientes assépticos a que nos tem habituado? Claro... Porque, com este novo gesto, quer começar desde já a afirmar que o Parlamento tem dignidade, tem legitimidade, tem tudo e mais umas botas para ratificar o Tratado de Lisboa!
Sócrates, que nos últimos debates mostrou até desprezo para com a lógica de funcionamento parlamentar, vai amanhã exaltar a "Casa da Democracia". In loco, pois... Não fazia sentido vir afirmar as virtualidades do Parlamento no Hotel Altis, certo? E depois de nos lembrar, no Parlamento, como o Parlamento é fantástico, concluirá que a ratificação será aí levada a cabo.
Adeus referendo.
PS - Oxalá me engane!
A escolha do Parlamento como local do anúncio não pode ser um mero acaso...
O nosso primeiro adora locais neutros e pompa e circunstância na hora de nos anunciar medidas que nos enchem os olhos. Raramente anuncia algo verdadeiramente importante na Assembleia, chegando mesmo, aliás, a não responder às perguntas da oposição durante os debates, para, alguns dias depois, vir dar as repostas ao país, mas longe, longe das críticas (lembrar, por exemplo, a recente trapalhada das Estradas de Portugal)
Porque não opta agora pelos ambientes assépticos a que nos tem habituado? Claro... Porque, com este novo gesto, quer começar desde já a afirmar que o Parlamento tem dignidade, tem legitimidade, tem tudo e mais umas botas para ratificar o Tratado de Lisboa!
Sócrates, que nos últimos debates mostrou até desprezo para com a lógica de funcionamento parlamentar, vai amanhã exaltar a "Casa da Democracia". In loco, pois... Não fazia sentido vir afirmar as virtualidades do Parlamento no Hotel Altis, certo? E depois de nos lembrar, no Parlamento, como o Parlamento é fantástico, concluirá que a ratificação será aí levada a cabo.
Adeus referendo.
PS - Oxalá me engane!
7 de janeiro de 2008
Falta de decoro
Portugal teve o pior crescimento económico da zona euro em 2007, a taxa de desemprego atingiu um pico histórico, sabe-se que há 2 milhões de pobres, o poder de compra de quase todos nós desceu estupidamente nos últimos anos...
Mas o défice ficou abaixo dos 3%!!!
Posso perceber a alegria dos nossos governantes. De facto, atingiram aquele que parecia ser o desígnio nacional desde há, pelo menos, 5 anos...
Mas um bocadinho mais de pés assentes na terra talvez não lhes fizesse mal... É que o país real tem défices que deviam levar governantes socialistas a, pelo menos, terem algum decoro e não nos inundarem com tiradas épicas, completamente desfasadas da realidade. Se não fossem ofensivas, seriam cómicas de tão irrealistas...
Mas o défice ficou abaixo dos 3%!!!
Posso perceber a alegria dos nossos governantes. De facto, atingiram aquele que parecia ser o desígnio nacional desde há, pelo menos, 5 anos...
Mas um bocadinho mais de pés assentes na terra talvez não lhes fizesse mal... É que o país real tem défices que deviam levar governantes socialistas a, pelo menos, terem algum decoro e não nos inundarem com tiradas épicas, completamente desfasadas da realidade. Se não fossem ofensivas, seriam cómicas de tão irrealistas...
O surrealismo
O ministro das Finanças diz-nos hoje que o crescimento económico do país está no "bom caminho". Afirma até que a nossa economia é "robusta"!
Já ontem, Sócrates considerava que este ano ia ser "ainda melhor" do que 2007.
De que é que estarão a falar?
Já ontem, Sócrates considerava que este ano ia ser "ainda melhor" do que 2007.
De que é que estarão a falar?
4 de janeiro de 2008
A injustiça dos encerramentos
Eu até acho que as razões apontadas para o encerramento de alguns serviços de urgência e maternidades são válidas, do mesmo modo que o eram os motivos que levaram ao fecho das escolas com poucos alunos. A garantia de segurança que uma equipa médica pouco treinada não proporciona, ou a falta de desenvolvimento das capacidades sociais que uma escola com um, dois ou três alunos não permite, por exemplo, parecem-me realmente importantes.
Mesmo o critério económico tem, de facto, que estar presente quando se pensa no mapa de serviços públicos: um médico ganha o mesmo quer faça dois partos por mês, quer faça dois partos por dia; um professor ganha o mesmo para ensinar uma criança ou trinta crianças. É impossível não pensar em rentabilizar recursos.
Porém, também acho que este tipo de serviços não existe para dar lucro. Deve, em muitos casos, existir, apesar de dar prejuízo. Porque existe para servir pessoas. Pessoas que, além do mais, pagam impostos para que lhes sejam prestados esses serviços!
Não advogo um serviço de urgência em cada esquina, nem uma escola em cada aldeola, mas parece-me que falta a quem nos governa uma visão transversal dos serviços públicos. Explicando melhor, parece-me que a lógica inerente a este processo de encerramentos de serviços não é uma lógica de conjunto, parece-me que não se pensa globalmente nos vários serviços existentes - de educação, de saúde, de justiça, etc -, mas antes que cada ministério procede apenas à elaboração ao seu mapa específico de prestação de serviços, encerrando onde entende que deve encerrar, abrindo (?) onde entende que deve abrir.
No fundo, o mapa dos serviços de saúde é feito e refeito sem olhar para o mapa dos serviços de educação, o da educação não tem em atenção o mapa judiciário, e assim sucessivamente.
Conclusão: há populações que se vêem privadas, não de uma escola para as suas cinco crianças, não da urgência nocturna, que era pouco usada, não da comarca do burgo, que despachava poucos processos, mas de todos os serviços a que estavam habituadas e, ainda por cima, num curto espaço de tempo.
As razões de cada ministério podem, por si só, ser válidas, mas a concentração das várias razões dos vários ministérios traduz-se, por vezes, numa situação de injustiça. Por exemplo, fecha-se a escola na aldeia A, porque tinha poucos alunos, e estes passam a ir frequentar a escola na vila B. Mas, mais tarde, fecha-se o SAP da vila B, que a aldeia A já usava, para que as urgências médicas dessas dessas populações se passem a fazer na vila C. Neste processo, a aldeia A vê-se privada da escola que tinha, mas também do serviço de urgências a que se habituara.
Falta-nos, então, um mapa de conjunto da prestação de serviços públicos, um mapa em que se entendam, senão mesmo se sobreponham as várias divisões administrativas, de modo a que não haja quem veja tudo aquilo a que tem direito, enquanto cidadão e também enquanto contribuinte, empurrado para longe de si.
Cada organização sectorial, por si só, poderá parecer racional e eficiente. Mas a organização global parece-me que se torna cada vez menos equitativa.
Mesmo o critério económico tem, de facto, que estar presente quando se pensa no mapa de serviços públicos: um médico ganha o mesmo quer faça dois partos por mês, quer faça dois partos por dia; um professor ganha o mesmo para ensinar uma criança ou trinta crianças. É impossível não pensar em rentabilizar recursos.
Porém, também acho que este tipo de serviços não existe para dar lucro. Deve, em muitos casos, existir, apesar de dar prejuízo. Porque existe para servir pessoas. Pessoas que, além do mais, pagam impostos para que lhes sejam prestados esses serviços!
Não advogo um serviço de urgência em cada esquina, nem uma escola em cada aldeola, mas parece-me que falta a quem nos governa uma visão transversal dos serviços públicos. Explicando melhor, parece-me que a lógica inerente a este processo de encerramentos de serviços não é uma lógica de conjunto, parece-me que não se pensa globalmente nos vários serviços existentes - de educação, de saúde, de justiça, etc -, mas antes que cada ministério procede apenas à elaboração ao seu mapa específico de prestação de serviços, encerrando onde entende que deve encerrar, abrindo (?) onde entende que deve abrir.
No fundo, o mapa dos serviços de saúde é feito e refeito sem olhar para o mapa dos serviços de educação, o da educação não tem em atenção o mapa judiciário, e assim sucessivamente.
Conclusão: há populações que se vêem privadas, não de uma escola para as suas cinco crianças, não da urgência nocturna, que era pouco usada, não da comarca do burgo, que despachava poucos processos, mas de todos os serviços a que estavam habituadas e, ainda por cima, num curto espaço de tempo.
As razões de cada ministério podem, por si só, ser válidas, mas a concentração das várias razões dos vários ministérios traduz-se, por vezes, numa situação de injustiça. Por exemplo, fecha-se a escola na aldeia A, porque tinha poucos alunos, e estes passam a ir frequentar a escola na vila B. Mas, mais tarde, fecha-se o SAP da vila B, que a aldeia A já usava, para que as urgências médicas dessas dessas populações se passem a fazer na vila C. Neste processo, a aldeia A vê-se privada da escola que tinha, mas também do serviço de urgências a que se habituara.
Falta-nos, então, um mapa de conjunto da prestação de serviços públicos, um mapa em que se entendam, senão mesmo se sobreponham as várias divisões administrativas, de modo a que não haja quem veja tudo aquilo a que tem direito, enquanto cidadão e também enquanto contribuinte, empurrado para longe de si.
Cada organização sectorial, por si só, poderá parecer racional e eficiente. Mas a organização global parece-me que se torna cada vez menos equitativa.
3 de janeiro de 2008
Os meus blogs de 2007
Inspirei-me no conjunto da nossa blogosfera e decidi fazer, também eu, a lista dos meus blogs preferidos no ano que terminou:
- Ladrões de Bicicletas;
- Esquerda Republicana;
- Zero de Conduta;
- Cinco Dias;
- Os Tempos que Correm.
Foram estes os blogs que li com mais prazer em 2007 e aqueles que, de alguma forma, me motivaram a entrar nesta aventura.
Bom ano!
- Ladrões de Bicicletas;
- Esquerda Republicana;
- Zero de Conduta;
- Cinco Dias;
- Os Tempos que Correm.
Foram estes os blogs que li com mais prazer em 2007 e aqueles que, de alguma forma, me motivaram a entrar nesta aventura.
Bom ano!
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