13 de junho de 2008

Beber uma Guinness para comemorar

"Governo irlandês reconhece a vitória do não no referendo sobre o Tratado de Lisboa." (Expresso)

Sei que o chumbo irlandês se deveu muito mais a razões conservadoras do que as quaisquer outras. Mas o que verdadeiramente me interessa é que no único local onde se perguntou à população a sua opinião sobre este Tratado, ela mostrou (como antes outras populações o haviam feito) que não é possível os líderes europeus continuarem o processo de integração europeia de costas voltadas para os cidadãos.
De facto, sempre que estes são chamados a pronunciarem-se, dizem não estar de acordo com o que é negociado pelas nossas elites entre gravatas e ares condicionados...
Senhores, habituem-se, como dizia o outro. E passem a respeitar-nos.
Façam eleger uma verdadeira Assembleia Constituinte ou referendem um futuro Tratado em todos os países. Só assim o elaborarão com e para as pessoas e não à sua margem, só assim saberão qual a Europa que os europeus verdadeiramente desejam, só assim teremos uma Europa de cidadãos e não de burocratas e só assim haverá verdadeira legitimidade democrática em todo este processo.
Obrigada, Irlanda.

12 comentários:

Dinis disse...

Agora percebo melhor (seu) o post anterior. Está na Margem eurocéptica... Tem todo o direito.
Mas a sua crença no referendo como instrumento democratico suscita um convite a algumas leituras. Que farei noutra oportunidadde com maior substãncia mas, que para já, passam por convidá-la a ler umas páginas de JJ Gomes Canotilho sobre o assunto. Acha que se discutiu a EUROPA na Irlanda?

Ana Rita Ferreira disse...

Não sou absolutamente nada eurocéptica, caro Bolonhado. Conhece-me mal :)
Pelo contrário. Sou é céptica em relação a esta forma de construir a Europa, em que a opinião dos cidadãos não é ouvida. O que é uma coisa completamente diferente.
Eu nunca disse se votaria sim ou não num hipotético referendo sobre este Tratado (mas, se votasse não, não acho que isso fosse sinal de eurocepticismo). O que digo é que este Tratado, com as suas características, ou é redigido por uma Assembleia Constituinte eleita para isso - solução que refiro e que o Bolonhado esquece -, ou é referendado no final, sob pena de os cidadãos se reverem cada vez menos no caminho que alguns traçam para todos, ou seja, sob pena de que o eurocepticismo cresça e que as decisões centrais sejam cada vez mais contestadas, por ninguém lhes conferir autoridade ou legitimidade.

Caro Bolonhado, se não se discutiu a Europa na Irlanda isso deveu-se ao facto de a sua classe política se ter desleixado. Num país em que os principais partidos apoiavam o sim, se não se discutiu a Europa, não restam grandes dúvidas sobre quem tem grande parte da culpa por isso, acho eu...

Dinis disse...

Tem razão, esqueci-me da Assembleia Constituinte. Mas então o que é o PE? E o papel de cada uma das Assembleias nacionais?
"a opimião não é ouvida". Não se falou de outra coisa durante meses..O que nos diferencia é a sua crença na possibilidade de reais formas de auscultação das populações. Tipo: 60% da população a fazer do Tratado de Lisboa a sua leitura de cabeceira e a discutir alegremente a Europa e as suas implicações. Isso JAMAIS acontecerá.
Depois atribui as culpas aos partidos. Bom, aqui estamos no domínio do "preso por ter cão e por não ter". Então os partidos não são plataformas que agregam os Cidadãos? E não promoveram o debate? Eu se fosse a um terço dos debates para que fui directa ou indirectamente convidado não teria feito mais nada na vida.
"Eu até gosto da europa mas assim não" Mas então como?. A democracia faz-se com quem está e não pode ficar refém das maiorias de bloqueio. dos abstencionistas (que já agora, parecem ser os grandes responsáveis deste resultado) Numa democracia aberta, abstencionismo é sinónimo de irresponsabilidade( a não ser em casos muito especiais, como protesto)
Lembra-se de 1998 e do referendo do Aborto? O que aconteceu? Tivémos que conviver mais 10 anos com a hipocrisia.naquilo que foi de facto, um retrocesso civilizacional ( como já a vi escrever) Eu não acredito em Plesbicitos (que é o que são os referendos). Só não discutiu e se informou sobre o Projecto europeu quem não quis.

Dinis disse...

Só agora vi os resultados oficiais. Ao contrário das expectativas de ontem à noite a participação eleitoral foi, afinal de 51,6%.
Perdi.

Dinis disse...

53,1% de participação.
Vou-me retirar de mansinho...
Volto no próximo século. ;)

goiaba disse...

Há quem diga que a democracia é um processo antinatural, uma criação intelectual e idealista que orientou uma parte da humanidade durante séculos. Há quem diga que é, apesar de tudo, o menos mau dos sistemas políticos. Há quem pense e não diga que os votos, em democracia, deviam ter pesos diferentes conforme o grau de esclarecimento/cultura dos votantes e até houve quem achasse que as mulheres não tinham capacidade para votar ( já era democracia?).
Nas democracias europeias, o povo elege os seus representantes e é nestes que deve confiar para a tomada de decisões ( é a teoria). Se eles são maus é porque não houve melhores candidatos e a culpa é de todos e as responsabilidades também.
Isto tudo para dizer que não se fazem referendos sobre processos tão complexos que dificilmente podem ser explicados a todos os votantes que, não tendo capacidade para os compreender, votam de acordo com os seus mentores - sejam eles quais forem.

psergio57 disse...

"A democracia é mesmo uma chatice...pá!"

Anónimo disse...

A Ana Rita respondeu bem, é assim mesmo ou assim tem de ser. A sério. E vamos lá a ver, amigos, a democracia não é nenhuma chatice, ora essa! É, afinal, um sistema que está constantemente aberto e a mudar de forma (com cada lei, etc.) e em busca da sua melhor composição, por vezes a recuar à toa para gáudio de uns fulaninhos que de democratas não têm nada e prejuízo de nós todos!
Para mim, o socialismo até é uma democracia avançada e a quem não concordar digo que não percebe nada de democracia, abra os olhos!
Resistente

Anónimo disse...

As pessoas esquecem se que os argumentos da campanha do não,muitos deles eram completamente falsos e quem os afirmou tem que ter alguma responsabilidade nessas afirmações.
um só país não pode e não deve atrasar ou mesmo estagnar o processo desancadeado noutros paises.

Anónimo disse...

100 % com este post.
Sem dúvida que as grandes opções respeitantes ao processo e a instituição que mais influi na vida dos cidadãos devem ser referendadas.
Vergonha não é haver referendo, nem os Irlandeses dizerem não. Vergonha é o orgão que define as políticas que moldam a vida de mais de 400 milhões de pessoas serem tomadas sem qualquer legitimidade democrática (quem controla o BCE?).
Dá que pensar, sobretudo últimamente, sempre que é submetida a votos a actual União Europeia é chumbada! Só que em vez de inflectirem as políticas e democratizarem as instituições, fazem o inverso, já que não conseguem ter o apoio popular, há que construir a UE de forma autoritária recusando a voz ao cidadão comum.

É a receita para a catástrofe!

Anónimo disse...

100 % com este post.
Sem dúvida que as grandes opções respeitantes ao processo e a instituição que mais influi na vida dos cidadãos devem ser referendadas.
Vergonha não é haver referendo, nem os Irlandeses dizerem não. Vergonha é o orgão que define as políticas que moldam a vida de mais de 400 milhões de pessoas serem tomadas sem qualquer legitimidade democrática (quem controla o BCE?).
Dá que pensar, sobretudo últimamente, sempre que é submetida a votos a actual União Europeia é chumbada! Só que em vez de inflectirem as políticas e democratizarem as instituições, fazem o inverso, já que não conseguem ter o apoio popular, há que construir a UE de forma autoritária recusando a voz ao cidadão comum.

É a receita para a catástrofe!

mundoemguerra.blogspot.com

Igor Caldeira disse...

"Façam eleger uma verdadeira Assembleia Constituinte ou referendem um futuro Tratado em todos os países."

Ora nem mais.