27 de dezembro de 2007

As incompatibilidades à portuguesa

Um jornalista da área económica não pode, por exemplo, jogar na bolsa, porque tem acesso a informações privilegiadas.
Um presidente de um banco pode passar a ser, de um dia para o outro, presidente do banco concorrente, que ninguém levanta problemas éticos.

Coitados dos clientes da CGD...

26 de dezembro de 2007

A educação dos sexos

"O peso de mulheres licenciadas na sociedade portuguesa cresceu mais de 60 vezes nos últimos 47 anos. Se em 1960, o total de diplomadas não ia além dos dez mil, no final do ano lectivo em curso esse número deverá rondar as 600 mil. A evolução é muito significativa, mas falta ainda, explicam especialistas em sociologia da educação, conquistar o mercado de trabalho e chegar a lugares de topo." (DN)

Pois é, fartamo-nos de trabalhar!

Hoje, o número de mulheres que saem das nossas universidades já se aproxima do dobro do número de homens. Quase todos os cursos, à excepção de algumas Engenharias (e já não são todas), apresentam mais alunas do que alunos.
A somar a isso, existe um outro número que julgo não estar contabilizado, mas que qualquer pessoa que tenha passado pela faculdade sabe ser verdadeiro: elas não demoram tanto tempo nos bancos do ensino superior quanto os seus colegas homens. O curso é para fazer em 4 anos? Geralmente, elas fazem-no. Eles, depende.
Outros números: os do ensino secundário! Não apresentando uma diferença tão acentuada quanto o ensino superior, a verdade é que já nesse nível de ensino se vê a diferença entre sexos. A minha turma do 12º ano (ano de 1999/2000), por exemplo, apresentava 3 rapazes para 20 e tal raparigas... Havia, lá no liceu, turmas com menor desproporção, mas nenhuma presentava a relação inversa!

Razão para que tudo isto aconteça? A educação diferente. Apesar da diminuição dos níveis de machismo (que já nos vai permitindo ir estudando e chegar à faculdade...), a verdade é que, desde cedo, se exige mais às mulheres do que aos homens. Elas são educadas para serem responsáveis e trabalhadoras; eles têm direito a ser mais doidivanas e a preguiça á mais tolerada.
Esta diferença no olhar reflecte-se até nas pequenas coisas da vida: um filho (homem) adolescente, que chegue uma noite a casa bebêdo, é normal; uma filha que faça o mesmo precisa de vigilância, enche todos de preocupação, "ai, ai, ai, o que é que ela andará a fazer"... Ainda mais pequeninos, um rapaz que bata noutro, está a fazer algo normal (mesmo que lhe dêem um raspanete, ninguém achará estranho); uma rapariga que ande à pancada, precisa, no mínimo, de ir ao psicólogo... Já nem vou falar do número de namorados/as...
Aquilo que acontece é que as mulheres continuam a ser educadas, desde cedo, para terem a cabeça no lugar, para cumprirem os deveres com responsabilidade, com brio. Os deveres de hoje são outros? Com certeza, mas é suposto elas cumprirem-nos como outrora cumpriam os outros. Assim, as mulheres (em geral) crescem com o objectivos mais elevados que os dos homens (em geral), não porque sejam mais ambiciosas, não porque sejam mais inteligentes, mas porque sabem que é isso que delas se espera, tendo sido para isso que foram ensinadas a ter responsabilidade, capacidade de trabalho, etc., etc. Elas têm que ser perfeitas, eles têm que ser normais.

E depois, como é que a sociedade nos agradece? Com maiores taxas de desemprego feminino. Com menores percentagens de mulheres nos lugares de topo. Com sorrisos paternalistas quando falamos sobre política, sobre economia, sobre futebol...
Obrigada.

Curiosidades

No dia de Natal, a blogosfera de direita trabalhou mais do que a blgosfera de esquerda.
Sem comentários (da minha parte).

22 de dezembro de 2007

A hipotética remodelação de Ano Novo

Já que toda a gente discute a hipotética remodelação governamental, eu também vou dar a minha achega. Vou restringir-me a dois ministros, porque há que ser realista e assumir que se (SE) Sócrates fizer uma remodelação, nunca irá tão longe como se desejaria...
Proponho, então, a substituição do ministro da Justiça e da ministra da Cultura. Por um único motivo: é que já dava jeito ter ministros nestas pastas. Por ministros entenda-se alguém que saiba o que lá anda a fazer... Alguém que tenha uma vaga ideia, pelo menos... Alberto Costa e Isabel Pires de Lima são, claramente, inoperantes nas suas pastas... Nem Mário Lino, nem Manuel Pinho, nem nenhum outro é tão inexistente (a palavra é esta, parece-me)...

As vantagens do Porto e de Lisboa

Esta saga do "gang da Ribeira" veio pôr a nu uma das grandes vantagens do Porto relativamente a Lisboa: ainda há jovens a viver nas zonas históricas da Invicta, ao contrário do que acontece na capital. Afinal, parece que há malta nova a nascer e a viver na Ribeira, coisa que já não se encontra na Graça, em Alfama, no Castelo, etc...
Vai-se a ver e os autarcas alfacinhas é que tinham razão, tendo sido mesmo visionários! As políticas de habitação seguidas desde há décadas (e que têm levado à desertificação do centro da capital) eram, afinal, preventivas! Lisboa não tem, agora, estes problemas de gangs, porque não tem jovens para os protagonizar! Afinal, Lisboa é que é vantajosa!

20 de dezembro de 2007

E agora?!

"Jerónimo de Sousa recusa divulgar ficheiros do PCP e considera que o processo de verificação do número de filiados do seu partido tem por base uma "visão de ingerência" da parte do Tribunal Constitucional."
"... o líder do PCP, foi claro: "Não iremos entregar nenhum desses nomes no Tribunal Constitucional". Tudo porque o secretário-geral defende, acima de tudo, o primado do "direito à privacidade dos cidadãos"." (DN)

Ups... E agora, como se vai "descalçar a bota"?! Obriga-se o PCP a revelar os nomes dos seus filiados? Não se obriga, mas obrigam-se os outros partidos a fazê-lo? Não se obriga nenhum, porque se entende que há, de facto, um direito dos cidadãos à privacidade que importa respeitar e porque se entende que há igualdade entre os partidos? Então, como se faz a fiscalização, isto é, como se cumpre a lei?
Este país é fantástico! Há cada imbróglio jurídico mais estranho... Espero que este acabe com esta lei miserável deitada no caixote do lixo...

18 de dezembro de 2007

A vítima que telefone!

"...proposta, apresentada esta semana no Parlamento pelo secretário de Estado da Presidência, Jorge Lacão, para, nos casos de violência doméstica, em vez de aplicar pulseiras electrónicas nos agressores identificados (de forma a evitar a sua aproximação da vítima), distribuir pelas vítimas um telemóvel com ligação directa a uma centro de atendimento especial." (DN)

Pois claro! As mulheres já anteriormente agredidas é que têm que avisar se correrem novos riscos, não são os homens agressores que têm de ser controlados para não repetirem o crime! Eles ficam à vontade para voltarem a tentar agredir, elas que telefonem se estiverem novamente em perigo! Eles são livres, a elas cabe-lhes a responsabilidade do não agravamento da situação!
Que palhaçada...
Tratar desta maneira leviana um problema destes, deixa-me envergonhada... Como é que um governo de um país europeu, democrático e desenvolvido trata desta forma deturpada vítimas e criminosos?

16 de dezembro de 2007

And the winner is...

Chegou ao fim a sondagem mais participada de toda a existência do Margem Esquerda! :)

Manuel Pinho e o seu fantástico incentivo aos chineses para que investissem em Portugal, que nós cá tínhamos salários baixinhos, foi o grande vencedor do melhor momento trágico-cómico do ano, recolhendo 40% dos votos.

Em segundo lugar ficou Santana Lopes, que continua a existir e - melhor! - dá agora barraca como líder parlamentar. Talvez no próximo ano volte ao primeiro lugar a que nos foi habituando. Por enquanto, recolheu 27% dos votos dos leitores.

Mário "jamais" Lino protagonizou o terceiro melhor momento trágico-cómico 2007, ao referir-se à margem sul como um deserto: obteve 17% das preferências.

O nosso primeiro e o seu "Porreiro, pá!" quedaram-se pelo último lugar, com apenas 15% dos votos. Como já tivémos Santana, sabemos que um primeiro-ministro de Portugal sabe fazer melhor que isto! Será em 2008?

14 de dezembro de 2007

Os pequeníssimos partidos

Uma lei aprovada há três anos levantou agora celeuma por o Tribunal Constitucional ter vindo fazer o seu papel, pedindo aos partidos que provem ter mais de 5000 militantes, caso contrário... serão extintos!
Gostava de saber quem foi o cérebro iluminado que teceu esta maravilha democrática! Pela data de aprovação, deve ter sido durante os governos do PSD-PP, o que não me espanta...
Quem quer que tenha tido a ideia, desconhece em grande parte a tradição portuguesa. E desconhece também que, na nossa História, sempre que se enveredou por este caminho, a coisa correu mal.
Em Portugal, os partidos com menos de 5000 militantes não têm grande poder (mas têm algum: a Nova Democracia tem um deputado regional na Madeira, por exemplo). Mas isso não significa que não tenham espaço (e o espaço político não é apenas espaço mediático).
Estes partidos, apesar da reduzida dimensão, não deixam de congregar ideias, valores, visões do mundo. Não é porque a maioria não se identifica com eles, que isso significa que eles sejam dispensáveis. A tirania da maioria é perigosa e a qualidade da democracia revela-se cada vez mais pela forma como lida e respeita as suas minorias.
Isto é válido em qualquer lugar do mundo, mas é-o tanto mais em Portugal, cuja democracia de 33 anos, apesar de se dizer madura, ainda é nova em muitos aspectos. Tanto mais que a nossa tradição democrática até tem sido muito favorável aos pequenos partidos, que nos têm fornecido muitos dos principais actores políticos. Exemplos? Jorge Sampaio e Ferro Rodrigues formaram-se no MES, partido que não tinha 5000 inscritos certamente; Gonçalo Ribeiro Telles vem do PPM; muitos - tantos! - iniciaram a vida política no MRPP, numa altura em que não chegava aos cinco milhares de militantes. Se esta lei, que agora se aplica, estivesse em vigor no pós-25 de Abril, o que é que o país teria perdido?
Por outro lado, sempre que, na nossa História, se tentou enveredar por este tipo de caminhos, a "brincadeira" acabou mal... Veja-se o final do Rotativismo monárquico, que, com tentativas de restrição semelhantes, devido ao receio do voto dos operários, terminou na ditadura de João Franco, no regicídio, na implantação da República... Quando não se integram as tendências no sistema, elas revoltam-se contra o próprio sistema. É normal.
Por fim, outra nota: os partidos são angariadores de nomes ou são um bocadinho mais que isso? Aposto que, em 3 meses, muitos destes micro-partidos conseguirão filiar os membros que lhes faltam, atingindo os 5000 que a lei determina. Passam, então, a representar mais o povo português por isso? Cheira-me que não... mas cumprem a lei, pois claro.
Esta febre legislativa que grassa em Portugal origina estas incongruêcias. Se, pelo menos, quem legisla conhecesse um bocadinho melhor o país em que vive, talvez muitas destas aberrações fossem evitadas.

12 de dezembro de 2007

Os benefícios do Tratado para Portugal

Metro grátis, Carris grátis, museus grátis... um dia inteirinho! Toca a aproveitar que a próxima vez deve ser só no séc. XXII!

Faço minhas as palavras do Valéry

Para quem diz que não faz sentido referendar o Tratado que será amanhã assinado, uma vez que já não se trata de um Tratado Constitucional, mas de um Tratado que reforma os anteriores (nomeadamente o de Nice), aqui deixo as palavras de Giscard d'Estaign (quase) a concluir um seu artigo publicado no Público on-line:

"É fácil constatar que o texto dos artigos do tratado constitucional se encontra praticamente intacto, mas que se encontra disperso sob a forma de emendas dos tratados anteriores – que foram, eles próprios, reorganizados. É evidente que a opção não vai no sentido da simplificação. Basta consultar o índice dos três tratados para avaliar a dimensão do fenómeno!

Qual foi o objectivo desta subtil manobra? Antes de mais, fugir à obrigação do recurso ao referendo graças à dispersão dos artigos e à renúncia ao vocabulário constitucional.

Para as instituições de Bruxelas, foi uma forma hábil de retomar as rédeas, depois da ingerência dos parlamentares e dos políticos, representada pelos trabalhos da Convenção Europeia.

Desta forma, regressa-se à linguagem que Bruxelas domina e aos procedimentos que eles privilegiam, afastando-se mais um pouco dos cidadãos."

10 de dezembro de 2007

A Cimeira UE-África segundo a nossa TV

Foram estas as importantes informações que os nossos canais de televisão se dignaram a transmitir-nos desde 6ª à noite:

- Kadhafi acampou no forte de S. Julião, na sua tenda sempre verde e guardado pelas seis mulheres da sua guarda pessoal;

- o trânsito esteve cortado em bué de sítios, o que complicou ainda mais a vida dos lisboetas, na fúria consumista própria da época natalícia;

- o brinde do jantar oferecido por Cavaco, no Palácio da Ajuda, foi feito com Madeira seco;

- não há nenhum ditador tão mau como Mugabe em África;

- o Darfur foi muito discutido nas conversações (mas não se sabe mais nada sobre isto);

- Merkel deu na cabeça de Mugabe, o tal que é incomparavelmente pior do que todos os outros (mas também não temos muito mais a adiantar sobre o assunto...);

- a relação da UE com África mudou (assim mesmo, de um dia para o outro, sem que seja preciso esperar para ver) e, por isso, a Cimeira é "histórica";

- não se firmaram os Acordos de Parceria (que o público só percebeu estarem em cima da mesa no domingo à hora de almoço), mas a Cimeira foi um "êxito";

- o Presidente do Senegal abandonou a Cimeira, por não concordar com os ditos acordos, mas não vale a pena analisar o que o gajo pensa, porque isso é dar espaço a quem está a estragar a festa.

É cada vez melhor o jornalismo que se faz em Portugal. Se eu estivesse numa acessoria de imprensa do governo já nem me dava ao trabalho de fazer spin... Qualquer coisa que saia das bocas oficiais já é verdade absoluta; qualquer informação bacoca é óptima para notícia de abertura; qualquer tema digno de análise é tratado pela rama.

PS - Nenhum jornalista tratou um outro importante tema: Kadhafi fumou uma ganza no sábado de manhã? É que parecia mesmo... Houve uma altura em que tirou os óculos escuros e... não sei não...

9 de dezembro de 2007

O nojo a que esta sociedade chegou

"O armazém onde a Comunidade Vida e Paz, associação de apoio aos sem abrigo de Lisboa, tinha guardado alimentos e bens a distribuir no jantar de Natal do próximo fim-de-semana foi assaltado na última noite" (Público)

Roubar os sem-abrigo (porque é disso que se trata)... O fim da linha...

I'm back

Estou de volta. Com computador novo e a carteira levezinha...