"O armazém onde a Comunidade Vida e Paz, associação de apoio aos sem abrigo de Lisboa, tinha guardado alimentos e bens a distribuir no jantar de Natal do próximo fim-de-semana foi assaltado na última noite" (Público)
Roubar os sem-abrigo (porque é disso que se trata)... O fim da linha...
9 de dezembro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
23 comentários:
Eu apoio os assaltantes. Qual é a lógica de termos pessoas dependentes da caridade? Se essas pessoas não tiverem acesso ao peixe, talvez comecem a lutar para que lhes ensinem a fazer canas de pesca. Têm direito a encontrar os seus próprios meios. Deviamos acabar com esta palhaçada. Eu apoio os assaltantes.
As pessoas não dependem da caridade por opção, é por falta de alternativas - de outra forma o programa de micro-crédito não seria sucesso que é. Claro que a caridade é uma maneira de amaciar o problema e de fazer a sociedade sentir-se melhor, não é solução, é paliativo. Agora, eu diria que os assaltantes não têm consciência social - o mercado do gamanço não é povoado de Robin Hoods...
É um paliativo cujo efeito - enquanto dura - retira as pessoas da realidade dos factos, logo, ajuda a perpectuar a situação porque atenua-a...
Repare: enquanto as pessoas forem anestiziadas ninguém se lembra de nada, estão sonambulas... nem sequer desse micro-crédito. Esta importante saída da pobreza surgiu de um local onde quem não tem alternativa morre de fome. O economista que desenvolveu o conceito é indiano, não esqueçer.
Agora, o mercado do gamanço!... que expressão engraçada.... :)
E os sem abrigo, podem sempre tornar-se eles mesmos ladrões...que te parece Filipe? Assim, ao menos podiam orgulhar-se do fruto do seu trabalho...
:D
Ora pronto Filipe, eu não diria melhor que o Pedro GH. Ah, e, a bem dizer, a ferramenta mercado não funciona para tudo? Então há mercado de alucinogéneos ilegais e não há de outras actividades negras? Porquê? Então as substâncias ilícitas não aumentam de preço quando há escassez, que é como quem diz, a oferta é inferior à procura?
Não estou a perceber onde é que discordamos... a sério. Roubar não é trabalho. É apenas uma apoderação ilegal de trabalho de outros. Eu quero que eles tenham o trabalho deles, até para evitar que tirem o dos outros. Quando digo que apoio os assaltantes estou a ironizar. A questão é que não apoio as iniciativas de caridade... Mas de qualquer forma a oferta nunca é inferior à procura. E havendo mercado é impossivel termos excessos de procura (ou oferta).
E é certo que o mercado funciona para todas as substancias desde que haja Ofelinidades (como diz Pareto) ou Utilidades (à Stuart Mill) por satisfazer. E disponibilidade de oferecer trabalho (isto é: vender lazer) por elas.
Cambada de cromos esta instituição. Que bem que guardam os bens doados por todos nós.
Episódios como este só me convencem a não doar nada a estas instituições. Com que cara é que eles deixam as portas abertas e vêm-nos pedir para doar mais?
Então, não percebo, porque é que a insuficiência das reservas de petróleo fazem subir o preço do barril? E que dizer do mercado bolsista de cariz amplamente especulativo? Quer dizer, se um bem escasseia deixa de haver mercado? Como assim se continua a haver apetência por esse bem?
Discordamos e muito, acabar com a ajuda não é solução, até porque nem todos os senhores têm condições de saúde para trabalhar, já lhe ocorreu Filipe? Não lhe ocorre que para esses é, neste momento, inviável pescar? Ocorreu-lhe que ninguém lhes vai dar um emprego porque... logo para começar há problemas de apresentação e higiene. Saberá que, no caminho da pobreza, na nossa sociedade, o momento terminal é cair na rua? Ou pensava que os senhores brotam das calçadas?
Nada é mais chocante nesta quadra natalícia de excessos consumistas do que ver a sempre crescente quantidade de sem-abrigo na cidade. Cada uma daquelas histórias de exclusão grita a falência do tão propagado 'modelo social' europeu e a crescente desumanização e desagregação ética e moral que nos caracteriza. Para eles e para a dimensão do seu desespero, à falta de políticas sociais multidisciplinares, a caridade (que eu não defendo...nem ataco) é a única hipótese de sobrevivência. A alternativa é a morte por frio ou inanição. Roubarem a Comunidade Vida e Paz é só mais um dos exemplos de iniquidade que nos rodeia.
Helena,
Não dendendo o fim das ajudas. Pelo contrário. Aqueles que não conseguem prover-se a si próprios devem ter pelo menos (repito: pelo menos) uma safety net, um chão comum abaixo de qual ninguém poderá cair. A questão é que, quer a safety net do Hayek, quer o Máximo Rendimento Incondicional Sustentável do Van Paris ou o Subsidio Minimo para todos do Charles Murray têm em comum o facto dos beneficiários (por acaso todas as pessoas) nunca dependerem da caridade alheia. Nem do favor de ninguém. E reparem que enquanto Van Paris pode ser conotado com a esquerda, Murray é um brutal conservador americano. Estamos a chegar a acordo.
Quanto ao mercado, atenção: não há insuficiencia porque nunca há suficiencia. Não existe saciedade. Queremos sempre mais. Mais utilidade. Quando um preço sobe seremos apenas obrigados a abdicar mais de outro bem alternativo para a mesma quantidade do primeiro. Porque este comela a parecer mais útil. Mas ao abdicarmos mais do outro o mercado equilibra...
E Por não haver saciedade é tão fácil cair nesse tal consumismo, como refere psergio57. Nesta quadra é moralmente obrigatório ser mãos largas. Quando digo que não compro presentes ou que invisto o sub. de Natal fica toda a gente a olhar de lado...
Pois Filipe, a ironia é muito perigosa quando estamos a falar de assuntos sérios.
Na ultima intervenção já és a favor da caridade, é positivo, demonstra sensibilidade pela vida humana. O que me parece que ainda não entendes-te completamente é que a pobreza, os sem abrigo, são consequências do Sistema Económico que temos. O mercado por si só não resolve os desiquilibrios da Sociedade, isto foi observado no séc. XIX por todos os economistas da altura, e foi levado ao exagero na URSS.
O nosso Sistema, não soube acompanhar as alterações que foram suedendo ao longo do séc. passado. As conquistas de Abril, que muitos se querem agarrar, já tiveram o seu momento, já não podem ser mais garantidas pelo Estado. Temos que encontrar outro modelo, transitório, pois tudo o que fazemos e todos os nossos planos aqui, são provisórios.
Defenitivos, esperemos, serão o direito à vida, a Democracia, a igualdade e a responsabilidade e o Estado de Direito. Espero que estas sejam sempre as prioridades dos Estados ditos civilizados.
Um chão comum abaixo do qual ninguém poderá cair não é caridade. Pewlo contrário: evita essa necessidade. E pode ser defendido com base na eficiencia económica. As pessoas só arriscam mais, e tentam saltar e panhar "trapézios" mais altos se tiverem uma rede por baixo. A rede tem de existir. Facto.
Isto está a tornar-se um problema de semântica...
Se tu não trabalhas, não contribuis para o desenvolvimento do país e mesmo assim te dão dinheiro, se criar um chão comum significa a criação de algo artificial que tem que ser sustentado e na qual não existe retorno financeiro implica, segundo as leis de mercado, caridade, independentemente do objectivo é CARIDADE. Isto também um facto.
Isto está cada vez melhor :)
É próprio do homem ter compaixão pelos seus semelhantes. Aliás, não é próprio do homem, é próprio de todas as espécies animais.
A compaixão leva-nos a sentir que há um limiar abaixo do qual ninguém devia viver e é esse sentimento que nos faz querer ajudar quem sofre. Ajudar por via de serviços públicos, ou, para quem nem a eles tem acesso (e vão ser cada vez mais os casos), através de associações de caridade.
Eu, que não sou católica, não me incomodo com a palavra herdada da via religiosa...
a ajuda a quem vive em condições sub-humanas não precisa de ser defendida apenas por critérios de eficiência, como faz hayek para justificar a sua "safety net" (que, de outro modo, iria parecer uma tremenda incoerência no seu pensamento). a ajuda a essas pessoas deve fazer-se por uma questão de solidariedade mínima.
as redes de ajuda têm que existir, como disse o filipe, mas porque se trata de pessoas. o mercado eficiente tem muito pouco que ver com isto... felizmente...
Fez-se luz :D
É... A Ana Rita trouxe raios de sol :)
Esta discussão está muito interessante. Quente. Autentica. Assim vale a pena.
Volto à carga, porque acho que isto não é um problema de semantica.
A Caridade depende da boa vontade, na noção e importancia da esmola, de noções de proximidade em relação ao nosso semehante desvaforecido. De Moral, moral, moral. De um "bem" como acto de ajudar, intencionalidade de o fazer e de circunstancias que permitam a realização desse objecto.
A safety net, pelo contrário, é um mecanismo. Seco, mas fiel como um metrónomo. É uma capacidade gerada de próposito e com resultados previsiveis. Do tipo: A quem acontecer X caberá Y. Algo que igualmente ajuda o florescimento espontaneo da sociedade, mas porque é desenhada para isso. Pode ser: Eficiencia, apenas.
Mas para baralhar um pouco, gostaria de responder à Ana Rita (pois!):
Hayek não desenvolveu este mecanismo em detalhe. Mas quando se vê obrigado a definir, fala de um "clear moral duty of all to assist, within the organized community, those who cannot help themselves." [Hayek (1976), Law Legislation and Liberty - Volume 2, The Mirage of Social Justice, pág. 87, Ed. Routledge 1982].
Será uma "tremenda incoerência" a safety net ser um DEVER MORAL (preto no branco)? E então: por poder ser defendida com base na eficiencia economica, como Hayek fez [cap. 16 do Constitution of Liberty - "The Decline of Socialism and the Rise of the Welfare State"] deixa de ser moral?
Várias ideias se podem tirar daqui. Penso que estamos na presença de uma espécie de quiasma.
É bem possivel, se com isso quer dizer que Hayek, incorporou na economia, porque entendeu que em qualquer mercado, exitem desiquelibrios que devem ser ultrapassados através da caridade, mas como Economista, usou outra terminologia.
Faz lembrar a conversa do tal treinador que não tem problemas com a lingua Portuguesa(In Gato Fedorento 09.12.2007)
Entretanto a discussão está a tornar-se muito técnica, e apesar de algum conhecimento na àrea, não a domino...
Continuo a achar que é um problema de semantica, não do Filipe mas de Hayek.
Ora essa, julgo que o que Hayek quer dizer é que um sistema abrangente de segurança social é economicamente eficiente e moralmente justificado. Um sistema destes pode efectivamente deixar a caridade, não digo extinta mas pode torna-la residual. Só que, este sistema está no papel, aí de pouco serve.
Ora bem!
Deus nos livre de uma safety net "à la" hayek! (e dp desta entrada triunfante para deixar o filipe a ferver, vamos ao que interessa. eheh!)
Independentemente da safety net que se construa numa qualquer sociedade, haverá sempre franjas da população que não são por elas abrangidas. Isso é inegável e é (também) essa a razão pela qual os serviços sociais dos Estados têm crescido desde que começaram a ser implementados (data variável de país para país, mas, em quase todos os países desenvolvidos é possível apontar para o final da Segunda Guerra Mundial como o momento de origem da maior parte dos Estados-Providência).
No início, a Providência dizia principalmente respeito a seguros associados à vida laboral (desemprego, reformas, doenças, etc.), prestação de cuidados de saúde, a um serviço de educação e ao combate ao desemprego por via de planos de obras públicas.
Hoje, um Estado Social moderno abarca muito mais funções (felizmente, digo eu...), não só porque ideologicamente se considera que há serviços que devem ser prestados pelo Estado, mas também porque se foi percebendo que, se cada passo na construção da protecção pública "do berço à cova" (a expressão é de Churchill) respondia às necessidades de uns, havia sempre outros que não eram por eles abrangidos. E era necessário, então, dar o passo seguinte.
O Estado vai aprendendo (às vezes devagar; outras, engana-se redondamente). Mas há espaços temporais em que sectores da sociedade se encontram realmente ao abandono de qualquer "safety net", eficiente ou não, moral ou não.
Ora, quando o Estado não provém à satisfação de serviços básicos, deixando alguns dos seus cidadãos entregues à sua sorte, há sempre quem tenha a generosidade de dar o que todos nós, enquanto Estado, não damos. "Um chão comum abaixo do qual ninguém poderá cair", como o filipe diz, é de facto, muitas vezes mantido pela caridade. As premissas estão trocadas: não é esse chão comum que faz a caridade deixar de exitir (porque esse chão comum nunca é comum, há sempre quem esteja abaixo dele); é a caridade que, muitas vezes (as vezes em que o Estado é incompetente), faz com esse chão comum permaneça pelo menos para alguns.
ps - pergunta: uma associação como a APAV faz caridade? uma associação como a Abraço faz caridade? uma IPSS, que construa um centro de dia e ponha a funcionar um serviço de apoio domiciliário para os velhotes da terra, faz caridade? é que caridade não tem só que ver com jantares de natal de associações religiosas... É na vida real que se vê como o Estado falha em tantos domínio e como é a sociedade civil que se organiza. Caridosamente. Porque a caridade não está, de facto, presa a uma ideia de esmola.
Compreendi melhor Hayek,e subscrevo a visão da Ana Rita, quanto à necessidade da Caridade para colmatar os casos em que o Estado não o faz.
PARABÉNS, é um comentário esclarecedor.
Enviar um comentário