26 de outubro de 2007

Aberrações legislativas


Texto de psergio57

O Governo aprovou as regras para avaliação dos professores e o estatuto do aluno. Depois de fazer orelhas moucas aos reparos do Provedor de Justiça, relativamente à constitucionalidade do concurso a professor titular, Maria de Lurdes e a sua equipe podem considerar-se felizes.
A estratégia de ataque e a lavagem cerebral junto da opinião pública em relação aos professores, conseguida com a ajudinha inestimável dos órgãos de comunicação, deu assim os seus frutos (já dizia alguém que os portugueses sabem muito sobre o mester alheio e pouco sobre o próprio...).
Aprovaram-se regras para professores e alunos que vão, milagrosamente, promover o sucesso tão almejado.

Para os primeiros uma avaliação extremamente burocratizada, que vai instigar o individualismo (quem vai querer partilhar materiais?), o amiguismo e o controlo num sistema de cotas - algo que já se vai desenhando.
Basear a avaliação num concurso profundamente injusto só vai piorar, parece-me, o já de si degradado ambiente na Educação.

Para os segundos e no sentido de melhorar a qualidade das aprendizagens, eis aí o Estatuto do Aluno... Depois da pressão de décadas para se aprovar toda a gente e do primado do fácil, o estatuto contém indícios preocupantes de querer perpetuar a balda e o passar de ano sem ser assíduo. Sem uma palavra sobre a revisão de programas e currículos obsoletos.

Toda esta aberração legislativa leva a marca do economicismo e do autoritarismo que caracterizam este executivo.

Texto de psergio57

7 comentários:

Gonçalo M Vassalo Moita disse...

Estamos a falar da margem esquerda da governação, certo?
Ou não?
No Cachimbo de Magritte, um reduto da direita obsoleta,fala-se da fome e da pobreza.
Sinal dos tempos e das suas gentes...

psergio57 disse...

Não,Gonçalo.Este PS é tudo menos de esquerda. A prová-lo está o aumento dos índices de pobreza a contrastar com escandaloso aumento dos lucros de seguradoras e bancos (só para dar um exemplo...)

Ana Rita Ferreira disse...

Gonçalo, parece-me que no Cachimbo só o Gonçalo e o Pedro é que falaram de pobreza... Não generalizemos as preocupações sociais a toda a direita :)
Os tempos e as gentes mudaram, certamente, mas, sinceramente, não vejo grandes mudanças nas vontades
Mas acho óptimo que a direita fale do problema grave que é a pobreza. Geralmente não concordo é com as soluções por ela apontadas para lhe fazer frente...

Anónimo disse...

Se queremos mudanças, a melhor de todas era acabar com esta dictomia de "esquerda" vs "direita" e dedicar-mo-nos a construir o mais dificil, o meio termo.

Esta dualidade é do século passado e serve unicamente para legitimar formas de pensamento extremistas.

Este governo governa, bem ou mal depende da leitura e da forma como toca a cada um. Dizer que ele é de direita, quando é a classe média a que mais tem sofrido com as medidas na politica fiscal do governo, ou de esquerda quando são evidente as alterações na politica social, parece-me ser redutor e próprio de politicos superficiais.

Ana Rita Ferreira disse...

Em relação ao Estatuto do Aluno, acho uma vergonha que deixe de haver diferença entre faltas justificadas e injustificadas.
Detesto concordar com o Paulo Portas, mas a verdade é que passa a ser a mesma coisa faltar por estar doente ou faltar por fazer gazeta. "Soundbyte" ou não, é isto que vai acontecer! E, como consequência, deixa, naturalmente, de se poder chumbar por faltas (porque seria injusto chumbar alguém que faltasse por doença grave, ou por qualquer outro motivo igualmente justificativo).

Valter Lemos veio dizer que os alunos deviam reprovar quando não sabem e não quando faltam...
Por favor, como se fosse possível separar ambas as coisas!
E como se não fosse suposto a escola indicar aos futuros cidadãos uma cultura de responsabilidade, em vez de um sistema onde tudo é permitido sem qualquer consequência (não, não considero a dita prova uma consequência de maior: quem falta ao ponto de, no sistema antigo, poder chumbar, está a borrifirar-se para provas...)!!

Aquilo que se pretende com uma medida deste tipo, é claramente diminuir o número de reprovações, procurando diminuir assim as taxas de insucesso escolar.
O problema está precisamente aí: diminui-se com certeza a taxa, mas não se diminui o insucesso em si. E se um dos problemas da nossa sociedade está no facto de termos pouca formação, está muito mais no facto de termos um analfabetismo funcional assustador. Provavelmente, agora, aumenta-se a estatística da formação, mesmo que o analfabetismo funcional permaneça nos píncaros. Agora co-adjuvado por uma novidade: a cultura de irresponsabilidade que as escolas se vêem obrigadas a promover!!

Se já se saía das escolas com pouca noção de que há deveres e de que estes são para se cumprir, imagine-se a partir de agora, em que mesmo o dever de ir às aulas já não é um dever assim tão grande... O incumprimento de deveres tem sempre uma penalização. Quando esta desaparece, eclipsa-se também a ideia de obrigação do cumprimento...
Mantém-se o insucesso e reforça-se a ideia de que somos apenas sujeitos de direitos. Vai ser formidável!

Proposta: porque não conceder o certificado de 12º ano completo a todos os recém-nascidos? Assim, é que este país ia mesmo andar para a frente!

Anónimo disse...

Nos comentadores deste texto vejo a possível excelência de um futuro governo, todo modernaço e "prá-frentex", nem de esquerda nem de direita, muito do centríssimo, muito inteligente, muito "descobrir a pólvora".
Ah, é claro,e muito amigo dos pobrezinhos!

Enfim, uma espécie de "Compromisso Portugal" contado às crianças...

Anónimo disse...

Anónimo...era bom...não sei é se tu ias gostar desse tipo de governo.

Um governo consciente de não ter respostas para o sucesso e felicidade dos individos, se não a de incentivar e dar condições a cada um de o procurar...pode ser muita reponsabilidade para ti :)