11 de outubro de 2007

Ordem espontânea e bens de luxo: resposta

Filipe,
1. por isso é que não acredito na ordem espontânea como expoente civilizacional máximo: porque não garante justiça social;
2. por isso é que, mais do que se taxar o consumo de bens de luxo, se devem taxar as grandes fortunas, independentemente do que é por elas consumido.

12 comentários:

Anónimo disse...

Com que objectivo, para acabar com os ricos?
Não são eles os maiores responsáveis pelo investimento privado, criadores de riqueza de postos de trabalho..
O que significa taxar as grandes fortunas?
Não estou contra só não entendo é o principio que se está a utilizar.

Ana Rita Ferreira disse...

O princípio é o da redistribuição da riqueza, caro Pedro.
Precisamente de forma a conseguir financiar meios que garantam justiça social.
E isto, de algum modo, já acontece em parte: não existem vários escalões percentuais para o pagamento de IRS de acordo com os rendimentos (pagando mais imposto quem mais rendimento aufere)?

Anónimo disse...

Redistribuição da riqueza?
Justiça Social?
Eu posso estar a ser teimoso mas parecem-me conceitos muito latos.
Justiça Social não significa necessáriamente criar condições minimas para que todos tenham direito a uma vida digna e com oportunidades..será este o teu conceito?
a recompensa monetária é um dos princípios básicos das nossas ecónomias, que insentivos vai ter um trabalhador que está metade de um mês a trabalhar para o Estado?
Eu concordo com os escalões do IRS e compreendo que aqueles que ganham muito devem dar mais, mas não darão eles sempre mais indiferentemente da percentagem. repara 10% de 100 são 10 e 10% de 1000 são 100...Se acabarmos com os ricos acabamos com os pobres?
As mexidas no IRS deve ser muito bem ponderadas, quanto mais o individuo der ao Estado menos tem para poder investir, consumir criar novos serviços e/ou empresas.

Helena Henriques disse...

Desculpem intrometer-me mas... Justiça social redistributiva significa que cada qual deve contribuir como pode, logo quem mais pode deve contribuir mais. O trabalhador que está "metade do mês" a trabalhar para o Estado, recebe ainda assim mais do que outros recebem num ano em que trabalham aí 5 dias por mês para o Estado. Julgo que a todos aproveita que o Estado seja capaz de garantir a todos a melhor saúde, o melhor ensino e a melhor justiça. Não creio também que a lógica do investimento tenha como único ponderador o imposto. E também não me parece que o pagamento de impostos tenha arrasado fortunas, já maus investimentos... seria outra conversa. Outra conversa também seria a de avaliar quem é rico e se não se está a onerar excessivamente a classe média (que não a alta).

Anónimo disse...

Em termos absolutos não há "ricos" nem "pobres". É tudo relativo. Comparado com uma criança africana a morrer de subnutrição, um sem-abrigo de Lisboa é rico. Comparado com este, qualquer cidadão que tenha um emprego e uma casa onde morar é rico. E assim sucessivamente, até ao ponto em que um multimilionário, comparado com outro, é pobre.
A partir daqui tudo são perguntas. A desigualdade económica é moral? É útil? Se é moral, haverá um limite a partir do qual se torna imoral? Se é útil, haverá um limite a partir do qual se torna inútil? E acima deste haverá outro limite a partir da qual se torna contraproducente? Há alguma correlação entre a desigualdade económica e a desigualdade política? Se a há, é uma correlação directa, simples e necessária, ou é uma relação indirecta, complexa e difícil de determinar? Pode-se redistribuir o poder político sem redistribuir a riqueza? E o inverso, pode-se? Qual é a correlação entre riqueza e liberdade? E entre poder e liberdade? Podemos ser livres se a nossa riqueza for zero? E se o nosso poder for zero?
Haverá mesmo coisas que o dinheiro não compra? Se as há, pode-se determinar o seu valor? Se não se pode, pode-se entrar com elas em linha de conta no cálculo económico? E no cálculo político? E no caso de se poder: deve-se?
Para cada uma destas perguntas há uma resposta para a qual me inclino, mas em relação a muitas delas estou longe de ter a certeza. Ia dizer que invejo quem a tem, mas pensando melhor não invejo.

Helena Henriques disse...

Bem observado José Luiz, claro que rico ou pobre tem um contexto, neste caso inserimo-nos numa Europa desenvolvida - não que isto nos permita esquecer outras realidades mas, é um indicador. A desigualdade não me parece nem moral nem útil (veja-se o microcrédito). Mas, respostas... também não tenho. Como determinar o valor do que não tem preço? Ficção? Alguém pode ser livre sem riqueza e poder? Estes conceitos são tão relativos, acho que pode mas certamente não será socialmente valorizado. A não ser que escreva ou seja herói de um romance...

Pedro Sá disse...

Uma coisa é a progressividade do imposto, óbvia por questões de justiça e tendo em conta inclusivamente conceitos como o de utilidade marginal.

Outra coisa são medidas completamente fúteis e reaccionárias como essa do imposto sobre grandes fortunas, que inclusivamente lança sobre as pessoas a mensagem de que ter dinheiro é mau e de que quem o tem deve ser penalizado por isso.
Pode-se alcançar o mesmo objectivo de outra forma, designadamente com a criação de novos escalões de IRS.

hugo m. disse...

eu gostava era de um imposto que lançasse a mensagem de que é mau ser rico rodeado de pobres.

Anónimo disse...

A desigualdade económica parece-me natural, nem moral nem imoral, é tão real como a desigualdade entre os seres humanos. É imoral existirem pessoas mais intelegentes que outras?, ou será imoral alguém cantar melhor que outro, ou ter mais propensão para a pintura ou escultura.
Num mundo de desigualdades, a económica é mais uma.
Talvez seja ingenuidade da minha parte, o que mais gosto é de aprender, mas não me parece minimamente possivel algum dia acabar com a desigualdade económica, parece-me tão idealista como acabar com as guerras, com o conflito de interesses, daí não me parece um assunto que mereça muita atenção.
Todas as questões levantadas pelo José Luiz Sarmento, são temas interessantissimos, mas sem respostas absolutas, o máximo que cada um de nós vai conseguir é ter inclinações.
A desigualdade económica é moral mas com limites, tem alguma utilidade também com limites, os limites são aqueles que que as circunstancias impõem, vai sempre haver gente que acha que se podia ir mais longe e outros que acham que se foi longe de mais,e é aqui que se relacionam a desigualidade politica e económica.
É mediante uma visão diferente da forma como a desigualdade económica deve ser olhada que se formam grupos politicos.
Numa visão muito pessoal, estar na margem esquerda é uma forma de encontrar o equilibrio.

hm disse...

talvez se devesse pensar as coisas pelo nucleo familiar para começar. Acham normal ou correcto que um dos membros seja discriminado?(e nem todos terão o mesmo qi ou iniciativa). E em termos familiares, ajudariam um primo ou tio que se encontrasse na miséria? E um amigo sem qualquer laço sanguineo?A obrigação moral de solidariedade é uma questão de parentesco ou fraternidade, ninguém o nega. E se se descobrisse que todos partilhamos os mesmos genes e que no fundo somos todos descendentes da mesma familia? E que somos da mesma espécie e temos os mesmos anseios e sonhos ( aprender, viajar, ver os filhos crescer, ser amado)?
No fundo ser de esquerda é ser fraterno com o mundo. É admitir que a igualdade que nos une não se mede por tostões. só isto.

Helena Henriques disse...

Pedro, tenho de concordar que faz mais sentido o escalonamento do imposto sobre o rendimento do que criar um imposto sobre a riqueza. Agora, ser rico não é mau, é sinónimo de maior capacidade de contribuição social - há sempre outra perspectiva. A questão é partirmos do princípio de que pagar é mau ;) afinal paga quem tem mais capacidade. Já quanto a desigualdade e moralidade, o que me parece imoral é que haja trabalhos tão sobrevalorizados e outros nem por isso. Há pessoas que não conseguem o mínimo trabalhando de sol a sol e outras cuja hora de trabalho vale um ano da primeira - e o melhor exemplo não, não é o jogador de futebol, mas um top model... eu pelo menos não me sinto nada à vontade com esta diferença tão gritante. É o mercado, mas por estas e por outras desconfio dele - até porque os critérios de mérito e de qualidade por ele introduzidos são, pelo menos, curiosos. Mas se queremos um "guia dos padrões mínimos ou base" temos a carta dos direitos humanos (direitos económicos, sociais e culturais incluidos, claro). Quanto a utopias, bom é sempre um desafio aproximarmo-nos delas - nada de novo, na justiça, por exemplo, é ponto assente que o caminho é aproximarmo-nos da sua realização já que, a sua realização cabal é também ela evolutiva e utópica.

Anónimo disse...

Gostei muito Helena, do texto e partilho muitas das tuas perspectivas.
Ser-se sonhador é intrinseco ao Ser-Humano.
Agora quanto a aspectos concretos, do nosso país, está-se a asfixiar a classe média e uma democracia livre, consciente e pluralista exige uma classe média consistente e com ambição.
Este Governo, por razões que podem ser bastante válidas, escolheu continuar mais um ano com essa asfixiação. Esperemos que ao menos no final desta legislatura, o controlo da despesa, leia-se a restruturação da função pública, seja uma realidade.