26 de dezembro de 2007

A educação dos sexos

"O peso de mulheres licenciadas na sociedade portuguesa cresceu mais de 60 vezes nos últimos 47 anos. Se em 1960, o total de diplomadas não ia além dos dez mil, no final do ano lectivo em curso esse número deverá rondar as 600 mil. A evolução é muito significativa, mas falta ainda, explicam especialistas em sociologia da educação, conquistar o mercado de trabalho e chegar a lugares de topo." (DN)

Pois é, fartamo-nos de trabalhar!

Hoje, o número de mulheres que saem das nossas universidades já se aproxima do dobro do número de homens. Quase todos os cursos, à excepção de algumas Engenharias (e já não são todas), apresentam mais alunas do que alunos.
A somar a isso, existe um outro número que julgo não estar contabilizado, mas que qualquer pessoa que tenha passado pela faculdade sabe ser verdadeiro: elas não demoram tanto tempo nos bancos do ensino superior quanto os seus colegas homens. O curso é para fazer em 4 anos? Geralmente, elas fazem-no. Eles, depende.
Outros números: os do ensino secundário! Não apresentando uma diferença tão acentuada quanto o ensino superior, a verdade é que já nesse nível de ensino se vê a diferença entre sexos. A minha turma do 12º ano (ano de 1999/2000), por exemplo, apresentava 3 rapazes para 20 e tal raparigas... Havia, lá no liceu, turmas com menor desproporção, mas nenhuma presentava a relação inversa!

Razão para que tudo isto aconteça? A educação diferente. Apesar da diminuição dos níveis de machismo (que já nos vai permitindo ir estudando e chegar à faculdade...), a verdade é que, desde cedo, se exige mais às mulheres do que aos homens. Elas são educadas para serem responsáveis e trabalhadoras; eles têm direito a ser mais doidivanas e a preguiça á mais tolerada.
Esta diferença no olhar reflecte-se até nas pequenas coisas da vida: um filho (homem) adolescente, que chegue uma noite a casa bebêdo, é normal; uma filha que faça o mesmo precisa de vigilância, enche todos de preocupação, "ai, ai, ai, o que é que ela andará a fazer"... Ainda mais pequeninos, um rapaz que bata noutro, está a fazer algo normal (mesmo que lhe dêem um raspanete, ninguém achará estranho); uma rapariga que ande à pancada, precisa, no mínimo, de ir ao psicólogo... Já nem vou falar do número de namorados/as...
Aquilo que acontece é que as mulheres continuam a ser educadas, desde cedo, para terem a cabeça no lugar, para cumprirem os deveres com responsabilidade, com brio. Os deveres de hoje são outros? Com certeza, mas é suposto elas cumprirem-nos como outrora cumpriam os outros. Assim, as mulheres (em geral) crescem com o objectivos mais elevados que os dos homens (em geral), não porque sejam mais ambiciosas, não porque sejam mais inteligentes, mas porque sabem que é isso que delas se espera, tendo sido para isso que foram ensinadas a ter responsabilidade, capacidade de trabalho, etc., etc. Elas têm que ser perfeitas, eles têm que ser normais.

E depois, como é que a sociedade nos agradece? Com maiores taxas de desemprego feminino. Com menores percentagens de mulheres nos lugares de topo. Com sorrisos paternalistas quando falamos sobre política, sobre economia, sobre futebol...
Obrigada.

2 comentários:

psergio57 disse...

Custa-me, mas tenho de dar razão à Ana R. Os jovens machos latinos de hoje atravessam uma fase lixada que, aliada a uma permissividade (machista) por parte dos educadores atrasa, em muito, a passagem à idade adulta.
Na maior parte dos casos o estrago torna-se permanente, porque registaram um desempenho escolar miserável (a taxa de abandono precoce quintuplica em relação às raparigas...)e ficaram mais sujeitos a crises de identidade (proteccionismo familiar vs. competitividade social) e mais expostos aos comportamentos chamados de 'desviantes'. Não tenho dúvida nenhuma "Demain, les femmes"...

Helena Henriques disse...

Reforço o obrigada, passo-o até a obrigadinha...