Pedro Boucherie Mendes (PBM), no Atlântico, respondeu ao post da sua colega de blog que linkámos aqui em baixo.
Ora, segundo PBM, a culpa dos problemas que os jovens portugueses enfrentam é dos próprios jovens. Mal habituados, não querem trabalhar, uma vez que isso significa perder mordomias, nomeadamente, verem-se obrigados a vender os seus Smarts e a abandonarem as viagens mensais a Nova Iorque!!!
Absolutamente fantástico!
Claro que o desemprego jovem é culpa dos jovens e dos maus hábitos que os papás sustentaram. Claro que a inexistência de bolsas para quem se dedica a mestrados e doutoramentos é culpa dos jovens, todos eles ricos e cheios de luxos. Claro que trabalhar sem direito sequer a salário, durante meses e meses a fio, é culpa dos jovens, essa cambada que se acha digna de direitos.
Como é que ninguém tinha percebido que o problema era este?
Num outro post, posterior, PBM vem ainda acrescentar que andou de 2 cavalos muito tempo e que não foi a Nova Iorque. Que espectáculo! Realmente, já não se fazem jovens como antigamente... No tempo dele é que era!
Por favor, vamos falar a sério: os jovens portugueses não são, na sua esmagadora maioria, como PBM os pinta! E, mesmo que o fossem, isso não seria causa dos problemas que enfrentam quando chega a hora de entrarem no mercado de trabalho! Os problemas são-lhes exógenos, nada têm que ver com as viagens que eles possam ou não ter feito, com os carros que possam ou não conduzir...
Mesmo que todos conduzíssemos Smarts (o que é, obviamente, uma generalização demagógica), qual a relação entre isso e o serem-nos repetidamente oferecidos trabalhos não remunerados, remunerados abaixo do salário mínimo (como não se declara nada, não há problema), com contratos a tempo incerto com empresas de trabalho temporário (vulgo, vai-se para a rua em qualquer altura)!!??
Claro que a geração que conduziu 2 cavalos não teve estes problemas... Porque era atinada... Porque teve uma juventude frugal...
O real problema de PBM é, então, o facto de os jovens de hoje terem, de uma maneira geral, acesso a mais bens materiais do que ele, do que a sua geração, quando tinha menos de 30 anos. Esquece-se, com certeza do facto de que a sua geração (a rasca...) também teve mais (mil vezes mais) bens do que a dos meus pais e não consta que tenha reclamado, à época, por sentir que não lhe estavam a ser incutidas responsabilidade, brio, ambição...
Os jovens de hoje têm mp3? Na altura, não tinham, porque não existiam; tinham, por exemplo, gira-discos, coisa que os seus pais não deviam ver, de forma nenhuma, como prioridade, quando contavam 20 e tal anos. Era um luxo que os papás lhes permitiam, não percebendo, claro, como estavam a habituar mal os meninos, que, dessa forma, nunca quereriam trabalhar...
Para PBM, nós somos a primeira geração a ter aquilo que a anterior não teve, o que, naturalmente, fez de nós uns monstrinhos irresponsáveis e preguiçosos. Certo? Não! Nós somos apenas a primeira geração que, ainda jovem, percebeu que iria viver muito pior do que a anterior! PBM pode estar a borrifar-se para o assunto, mas podia evitar gozar connosco.
18 de janeiro de 2008
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5 comentários:
:) Mp3 para gira-discos, não pode ser para o famoso walkman, e já havia CDs! :) Apenas um detalhe, bom post.
Foi de propósito ;)
obrigada!
É um tiro absolutamente no escuro... mas a julgar por esse post de PBM e por muitas das suas intervenções num programa de TV de nome "Prazer dos diabos", pode dar-se o caso, repito, pode... de PBM ser apenas um bocado apalermado.
:) Um bocado apalermado :)
Ele participa nesse programa? Não fazia ideia.
Isso explica umas quantas coisas...
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