18 de janeiro de 2008

Geração à rasca

Post de Ana Margarida Craveiro, no blog Atlântico:

"Além do mais, esta ausência de política estruturada para os recém-licenciadas é estúpida, de qualquer ponto de vista, seja político, seja económico.

Entrei para a Universidade a pagar 63 contos de propinas. O ordenado mínimo da altura. Saí a pagar 900 euros. De toda a maneira, dificilmente cobria a despesa que o Estado teve com a minha formação. Que sentido faz em investir nos jovens, se depois os encaminha para um futuro de apresentação quinzenal em Centros de (Des)Emprego?

Eu voto. E como eu, toda a minha geração. Somos raros a ter contratos de emprego, a muitos de nós nem deixam pagar impostos. Somos a primeira geração em muito tempo a saber, com todas as certezas, que vai viver pior do que os pais. Sair de casa representa necessariamente um downsizing no estilo de vida. E, no entanto, ainda acreditamos o suficiente nisto para não dar o salto em massa, como os nossos pais e tios nos anos 60. Show some respect."


E, por um momento, a esquerda e a direita esquecem as suas diferenças, unidas por aquilo que é comum a toda uma geração...
O desemprego, que vai muito além do que qualquer taxa possa revelar; a incerteza de um investigador académico, sem apoio no presente e com grandes dúvidas relativamente ao seu futuro; a inexistência de contratos (palavra mais do que proibida); os estágios curriculares (não remunerados, ao contrário dos estágios profissionais), que os patrões julgam estarmos interessados em prolongar até aos 30 anos; os salários vergonhosos que nos oferecem, em troca de trabalho sem direito a férias, a descontos para a Segurança Social, a contagem de horas extraordinárias... No fundo, as faltas de respeito constantes a que somos sujeitos.
Se a geração X era a "geração rasca", a geração Y é a "geração à rasca"...
Mas que os nossos governantes não se preocupem, que não germina em nós qualquer semente de revolta... Mais ano, menos ano, este ABANDONO, a que toda uma classe política votou quem hoje está na casa dos 20, não produzirá qualquer efeito negativo na sociedade...

2 comentários:

psergio57 disse...

Já se assiste à fuga de cérebros e técnicos altamente qualificados há uns tempos. A avaliar pelas conversas que surpreendo aqui e ali esta (infeliz)situação têm-se agravado ultimamente. Ex: a carreira farmaceutica hospitalar está congelada e não abre vagas há uma série de anos. A filha de uma amiga minha apesar de colocada sentia que estava estagnada. Hoje foi a Espanha fazer o exame de admissão à carreira farmaceutica hospitalar espanhola. Permitir-lhe-á progredir em determinada linha de trabalho para que se sente vocacionada. O investimento que o país fez na sua educação é Espanha que o vai rentablizar. Perguntar-se-á: há viabilidade para um país que malbarata assim a sua juventude, o seu mais precioso recurso? Não é difícil responder...

samuel disse...

Pelo menos a jovem blogger do "Atlântico", se se der ao incómodo de pensar uns minutos, tem bastante "à mão" muita da gente a quem pode pedir explicações pelo estado a que o país chegou. Ele é (possivelmente) a sua família, os amigos da família, os amigos que já votam há uns tempos, os próprios colegas de blog... é só evitar as excepções e escolher à vontade.