16 de janeiro de 2008

A taxa para o audiovisual

Hoje recebi um e-mail (daqueles que circulam em cadeia) em que se mostrava indignação pelo facto de pagarmos, na nossa factura da EDP, uma taxa para o audiovisual, quando a maioria de nós contrata simultaneamente empresas que lhe forneçam o serviço de televisão (TVCabo, Cabovisão, etc.), serviço que inclui, naturalmente, o acesso à RTP.
Reli o e-mail e era mesmo esta a relação que se estabelecia: pagamos duas vezes para termos os canais da RTP em casa. Logo, a taxa para o audiovisual era injusta.

Em primeiro lugar, esta conexão estaria logo deitada por terra pelo facto de RTP1 e RTP2 serem emitidas em sinal aberto, o que significa, em termos muito práticos, que não é preciso contratar qualquer companhia para a elas ter acesso. Basta uma antena e um cabo que a ligue ao aparelho, à moda antiga, que quem quiser apenas ter acesso aos 4 canais emitidos em sinal aberto, não paga um tostão por isso.

Em segundo lugar, nós não pagamos uma taxa para o audiovisual para termos a RTP (nem qualquer outro canal) em casa. Nós pagamos a dita taxa para que exista RTP e RDP. Pagamo-la para financiar o serviço público de televisão e rádio, quer o vejamos/escutemos, quer não.
Pode não se concordar com a taxa, mas tem que se assumir que ela não existe para termos os canais da RTP nas nossas salas, nem a Antena 1, 2 e 3 nos nossos carros. Falar sobre esta taxa implica uma discussão mais profunda sobre se se acha ou não importante existir um serviço público de comunicação. Se se concordar que este deve existir, então, este tem que ser financiado com os nossos impostos...
Claro que se pode argumentar que nós já pagamos tantos impostos, que deveriam servir para este fim... E servem, don't worry!
Mas a verdade é que esta taxa se mostrou de certa forma indispensável para mantermos, em Portugal, um serviço público de comunicação sustentável e decente. Olhemos para a história recente: no início dos anos 90, o governo de Cavaco Silva pôs fim a uma taxa idêntica, aquando da abertura do mercado aos privados. Conclusão? Uma desgraça! A RTP entrou em colapso financeiro, por um lado, e decadência de conteúdos, por outro. E não apenas devido à concorrência dos então novos canais, mas sim, porque sofreu um enorme desinvestimento. Não se devia ter desleixado esta área? Pois... Nem nenhuma das outras, certo?
Mais de uma década depois, um outro governo do PSD, com Morais Sarmento na pasta, reintroduziu a taxa, esta taxa que agora temos. E a RTP renasceu das cinzas. Mesmo em época de crise e mesmo tendo os canais públicos passado a transmitir metade da publicidade permitida aos canais privados (6 minutos por hora, na RTP; 12 minutos, na SIC e na TVI). E note-se que o Estado firmou este acordo, precisamente porque se aceitou que não era justo os investidores privados concorrerem em pé de igualdade em termos de captação de receitas publicitárias com um canal que, simultaneamente, usufuía de financiamento público.
No actual contexto, se deixássemos de pagar a taxa para o audiovisual (como pretendia o autor do tal e-mail, que não imagino quem seja), mais valia assumir que, a longo prazo, se fecharia o estaminé ali para os lados da Marechal Gomes da Costa... Era já isso que alguns preconizavam durante a agonia da RTP...

6 comentários:

psergio57 disse...

Lembro-me que um dos cavalos do meu pai, anti-salazarista convicto, era a existência da malfadada taxa de radiodifusão. Um imposto extra e cego. Virou-se a página e tal taxa subsiste. Pelo menos em matéria de informação continuamos a ter um produto manipulado pelos governos para fins de propaganda; dificilmente posso considerar serviço público rubricas como 'O Preço Certo'; e que dizer das 'Páginas Soltas' do A. Vitorino...

Helena Henriques disse...

Apesar de tudo, ainda bem que há RTP, porque os serviços noticiosos mantêm qualidade, porque as 'Notas Soltas' do António Vitorino podem vir de alguém que todos sabemos, é próximo do governo, mas é inteligente e muito capaz em assuntos vários - contrasta até com o MRS, que enfim. Temos um documentário excelente sobre a Guerra de África, tivemos outro sobre o país, de grande qualidade e principalmente, existe alternativa 'generalista' para quem só tem os 4 canais - sim porque SIC e TVI, vendem a mãe por audiências e são insuportáveis (ainda por cima, quando têm uma série de qualidade, alteram constantemente o horário, sem o menor respeito por quem vê) enfim, consideram o espectador uma espécie de ser unicelular que vegeta à frente duma tv com comando numa mão e telemóvel na outra. Apesar de tudo, a RTP é melhor.

psergio57 disse...

De acordo. A RTP generalista é melhor que as outras. Até vejo com prazer o 'Conta-me como era' sobre o antes 25 de Abril. Sou também 'cliente' assíduo da RTP2. Quanto ao A. Vitorino não está em causa a sua inteligência nem a sua capacidade. Goebbels também era capaz e inteligente (atenção! só estou a comparar capacidades...).
O que não poderei concordar é com o princípio: a dupla facturação (se já pago o cabo...) e a obrigatoriedade de financiar a RTP e a RDP. Para isso pagamos impostos (demasiados...). E, convenhamos: para o país dos baixos salários e das pensões de miséria, 20 e tal euros anuais não são brincadeira .

Ant.º das Neves Castanho disse...

Já não há pachorra para as alarvices ignorantes e demagógicas dos psergios57 e afins...


NÃO HÁ DUPLA TRIBUTAÇÃO, não ficou claro no Artigo?


Se não percebe, meta explicador, ou escreva à DECO, como fez uma amiga minha mais teimosa, que também não se convencia de que este "mail" circular é uma palermice completa!


Senão, também teria por exemplo que acabar o imposto rodoviário, que irá financiar as Estradas de Portugal. E seguramente muitos outros.


Eu apoio a existência de um serviço público de radiodifusão, isento e de qualidade. Até para servir de referência aos canais comerciais.


Quem não quiser tem bom remédio: vote em quem propuser a sua extinção! Por enquanto, o destino dos nossos impostos decide-se democraticamente: isto é, nas urnas!

psergio57 disse...

Oh homem! não se exalte.Quanto a isenção, estamos falados... Eu apenas falei em dupla facturação.E em financiamento. Quanto ao imposto rodoviário...também não concordo.Não é uma fatalidade. Há países que o não têm. Mas ao menos esse baseia-se no princípio do utilizador-pagador. A taxa audiovisual é cega. Parte do princípio que todos consomem esse serviço. O que é abusivo! Se gosta de pagar...pague para aí! E trate desses nervos...

Anónimo disse...

Concordo perfeitamente com o Psergio57.
Trate de se curar Sr/Srª Castanho!! O Senhor/Senhora ou lá quem é, está doente. Principalmente da lingua. Faz-lhe falta um pouco mais de educação!!
Consulte um neurologista. Faça isso no sistema particular, sempre ajuda o Sócrates a poupar mais algum!!!