18 de fevereiro de 2008

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"... [Alegre] vai convidar os dirigentes socialistas para uma espécie de "congresso da esquerda" que decidiu organizar extra-muros do partido. Além do PS, também o PCP e o Bloco de Esquerda serão desafiados a aparecer na grande convenção sobre o estado da esquerda. E, claro, serão convidados cidadãos independentes.
Manuel Alegre está imparável no seu objectivo de travar dentro e fora do Partido Socialista, "um intenso combate político e ideológico"..." (DN)

Nuno Ramos de Almeida, no 5 Dias:
"Era positivo que pessoas oriundas das várias esquerdas tivessem a capacidade de pensar em conjunto. Conseguissem construir um terreno de encontro de todos que permitisse a criação de uma agenda comum para a mudança que batalhasse para alterar a hegemonia no terreno das propostas.
No fundo, seria construir uma sala e um programa de conversas que não privilegiasse nenhum partido de esquerda, mas que fornecesse livremente ideias e reflexões. Um lugar que não pudesse ser instrumentalizado por nenhum partido que excluisse a ambição de ser mais do que uma local de conversa, mas que servisse como criador de ideias para uso comum de toda a esquerda que queira um política de transformação económica, social, política e cultural."

João Rodrigues, no Ladrões de Bicicletas:
"...é preciso criar condições para que a prazo possa emergir um espaço permanente de encontro, debate e proposta no campo da esquerda socialista que esteja para além dos partidos (que não contra eles) e que contribua, através de um envolvimento sério e sem concessões na luta das ideias, para quebrar o consenso neoliberal que ainda continua a definir os termos do possível em Portugal. Um «colectivo intelectual», organizado e consequente, que junte académicos, jornalistas, dirigentes políticos e activistas para elaborar argumentos e propostas robustas."

2 comentários:

Igor Caldeira disse...

"um espaço permanente de encontro, debate e proposta no campo da esquerda socialista"

O que é interessante neste excerto de João Rodrigues é que ele por um lado admite (se por lapso, se conscientemente, não sei) a existência de uma esquerda não socialista, e por outro rejeita que uma tal plataforma de discussão reúna pessoas dessa mesma esquerda não socialista.

Não sei qual a intenção de Alegre, mas seria interessante perceber isto. De facto, eu considero-me uma pessoa globalmente de esquerda. O facto de eu defender uma economia de mercado (e de a considerar, de resto, imprescindível para que haja liberdade e da qual não está, de resto, ausente, a ideia de igualdade, embora em termos que demoraria agora demasiado tempo a explicar), de me dar lindamente com uma democracia liberal e de olhar com maus olhos os dogmas multiculturalistas não me faz sentir um milímetro menos de esquerda.

Para mim, a divisão crucial entre esquerda e direita faz-se em torno da ideia de "igualdade". Resta perceber se o que João Rodrigues pretende é uma plataforma de forças que defendam com maior ou menor intensidade um igualitarismo forçado (da mesma forma que a direita defende tendencialmente uma elevada estratificação social) e centrado num Estado intervencionista, ou se essa plataforma pode abranger posições menos ortodoxas e mais próximas da ideia de "igualdade de oportunidades".

Ana Rita Ferreira disse...

Sem dúvida que a fronteira entre esquerda e direita é delimitada pelo valor da igualdade (enquanto igualdade de oportunidades e não enquanto igualitarismo puro). À igualdade de oportunidades anda associado (embora não se confunda) o outro valor fulcral da esquerda: solidariedade. Ambos têm a sua tradução prática no Estado Social e na justiça redistributiva.
No entanto, julgo também que a relação da esquerda com a economia de mercado não é igual à da direita: regulação e presença do Estado na economia não têm o mesmo peso para os dois lados do espectro político.
Por outro lado, considero que a importância dada aos direitos individuais cresceu à esquerda e diminuiu extraordinariamente à direita (por força do conservadorismo?).
Estes parecem-me valores globais com os quais a esquerda se identifica.

ps - não refiro a democracia e a liberdade, porque esses valores estão, de facto, acima da divisão esquerda/direita.