9 de abril de 2008

À mulher de César...

(Há uns dias perguntaram-me por que é que não tinha escrito aqui sobre a ida de Jorge Coelho para a Mota-Engil. É, de facto, o típico tema sobre o qual eu me iria debruçar. A razão para não o ter feito é simples: mal tenho tido tempo para respirar... Hoje, dia mais calmo, aqui vai!)

Jorge Coelho foi ministro do Equipamento Social (vulgo, Obras Públicas) há mais de 8 anos. Deste período de "luto", há quem conclua (com alguma lógica) que essa passagem pelo governo já não o deve impedir de aceitar agora o cargo de CEO da maior empresa de construção do país.
O argumento até poderia ser verdadeiro se, desde então, Jorge Coelho não se tivesse mantido à tona da vida política. Mas, mesmo não tendo voltado para o executivo, mesmo não desempenhando, no momento, cargos públicos, Jorge Coelho é, todos o sabemos, uma das vozes mais ouvidas dentro do PS, uma das personagens com mais influência junto de Sócrates.
Temos, pois, um conselheiro do chefe do governo, um dos "peixes" que melhor sabe nadar nas "águas" do partido no governo, a candidatar-se, a partir de agora, a concursos lançados por esse governo. Concursos imparciais, já se sabe... Vence o mérito, claro... Mesmo que estas intenções venham a ser verdade, a dúvida estará instalada, daqui para a frente, em qualquer concurso ganho pela Mota-Engil. Justificadamente instalada. É que à mulher de César, já se sabe, não lhe basta ser séria...

Jorge Coelho, dias depois de inflamar um comício de PS, aceita passar a presidir a uma empresa que será uma das maiores clientes do Estado, actualmente governado pelo PS. Suponho que o visado se refugie na legalidade da sua acção, na ultimamente tão badalada "ética republicana", que se vê, assim, reduzida a quase nada...
Moralmente, esta é mais uma das palhaçadas a que a nossa classe política nos vai habituando. São atitudes deste género que originam o clima de desconfiança dos cidadãos relativamente ao poder público.
Onde muitos não vêem qualquer problema na aceitação da presidência da Mota-Engil por Jorge Coelho, dado o longo período de "nojo" que já percorreu, eu vejo mais uma das várias razões que, paulatinamente, levam à falta de respeito pelos titulares de cargos políticos, ao afastamento entre eleitos e eleitores, à descrença na vida democrática.

13 comentários:

psergio57 disse...

Já tardava um comentário ao despudorado jogo de dança de cadeiras entre ex-membros do executivo e as empresas com quem as respectivas tutelas negociaram. A ausência de vergonha é o que mais choca. Poder-se-á argumentar que há poucas grandes empresas e poucos gestores à altura. Por se ser ex-ministro tornar-se-á alguém, com currículo meramente politiqueiro, automaticamente bom gestor? Não é preciso ser particularmente mal intencionado para se pensar logo em tráfico de influências, pagamento de favores ou enriquecimento pessoal à custa dos dinheiros públicos...é este tipo de gananciosos que mina o estado democrático e que devia sentar-se no banco dos réus num país em que a justiça democrática funcionasse...

Anónimo disse...

O pior de tudo é que não temos outros políticos mais qualificados. Ficámos na quinta ou sexta escolha. Mas o pior de tudo mesmo é ainda não termos povo em termos. Aguenta com tudo e não é nada com ele. Acho que o povo e os políticos qye temos deviam ir para o fundo do Atlântico respirar bem-aventurança! Nós estamos fartos!!!

Anónimo disse...

Ó Ó Ó...meus senhores, o homem justificou a sua ida:"Eu não sou rico" ao que eu acrescento...por enquanto...

Anónimo disse...

"CADA UM TEM AQUILO QUE MERECE"
Esta frase simples de sabedoria popular, diz-nos que temos os governantes que merecemos.

Querem mudar? Querem novos politicos?

Não, isso é tudo conversa da treta. O português não quer grandes mudanças, pelo menos por enquanto. O português vai enchendo, falando para o ar, descarregando em blog's, mas fazer alguma coisa para mudar...não isso dá muito trabalho e o português tem outras coisas para fazer;se quisesse mesmo mudar, o português vai lá para fora, porque aqui "MUDAM AS MOSCAS MAS A MERDA É SEMPRE A MESMA".

Também estou farto!
Farto de meias conversas, de ideias implicitas mas não assumidas, de promessas vãs, de tretas e mais tretas ditas pelos politicos que estão no poder e pelos que desejam alcançar o poder.

Este Sistema devia ser, em primeiro lugar, honesto. Obrigar as pessoas a dizer o que querem e como querem realizar os seus objectivos (que se esperam concretos), caso não o fizessem a populaça devia ser a primeira mostrar o seu descontentamento. Mas não, aqui tudo vale. A classe politica é toda igual, utilizam a sua capacidade de pressuasão para convencer o próximo. Como? dizendo o que as pessoas querem ouvir (mais uma vez, meias palavras e muitas e boas intenções)

Também estou farto!
Farto de tudo isto, de nós, de mim que estou no meio de nós, de tudo quanto podiamos ser mas não somos apenas porque é dificil.

Dificil é arranjar emprego, competir de igual para igual, responsabilizar-mo-nos pelo que dizemos, pelo que defendemos, com as palavras todas, sem meias conversas, sem medo de dizer o que os outros sabem mas não querem ouvir porque custa.

Também estou farto!
Farto dos ecologistas que se estão a tornar em mais uns fundamentalistas na defesa de algo que tem toda a legetimidade:Viver de forma equilibrada com a natureza.

Onde está a honestidade?
Onde estão as pessoas que em primeiro lugar, colocam a sua palavra e têm que a honrar e defender durante toda a sua vida? Mas mais importante, onde estão as pessoas que se preocupam e procuram dirigentes com estes valores?

RESPONSABILIDADE é o tabu deste século. Ninguém é responsável. Tudo acontece sem querer ou por acaso e se alguém é responsável pois provavelmente é o estagiário...

A única coisa que posso dizer a favor de Jorge Coelho foi a sua atitude aquando do acidente de Entre-os-Rios, demitiu-se.(Coincidência ou não, pouco depois demitia-se o Primeiro-Ministro).

PS:Sr./a anónimo, repare que falo apenas por mim e não me julgo mandatado por nenhum grupo para exprimir as suas opiniões. A não ser que é anónimo porque o seu/vosso texto é fruto da contribuição de muitos. Se assim for as minhas desculpas.

Anónimo disse...

PARABÉNS ANA RITA.EXCELENTE ARTIGO DE OPINIÃO.
CONTINUA.

Anónimo disse...

Já vi que este blog é de amigos que se elogiam uns aos outros !
Condeno em absoluto o Sr Jorge Coelho, mas....... se fossem os blogueiros deste blog que estivessem no governo da nação, como seria??
Muito gostava de ver..... é que quando não estamos lá, somos todos virgens .... Marias !

Ana Rita Ferreira disse...

Caro anónimo, não conheço, nem faço ideia quem seja o jcs, a quem agradeço o elogio.
Aliás, até dou uma informação suplementar: de todas as pessoas que comentam este blog, só conheço uma. O Filipe julgo que não conhece nenhuma.
Caro anónimo, custa-lhe assim tanto acreditar que possa haver quem, sem nenhum interesse específico e sem nos conhecer pessoalmente, possa, concordando ou não, apreciar o escrevemos? Ou, mais ainda, possa concordar com o conteúdo dos posts e elogiá-lo?
Vá lá, faça um esforço e não conclua que todos os que partilham a opinião que um de nós aqui deixa por escrito são, automaticamente, nossos "amigos". Isso não é de todo verdade.
Além disso, as pessoas que aqui costumam vir, já mais do que demonstraram ser intelectualmente sérias e independentes (já tive comentadores a concordarem totalmente comigo, em certas alturas, e a discordarem completamente, noutras), pelo que nunca elogiariam nenhum de nós sem efectivamente concordarem conosco.

Quanto à bela insinuação de como teríamos iguais comportamentos se estivessemos no governo... Caro anónimo, não me ofenda! O senhor não me conhece, nada sabe sobre os valores éticos que guiam a minha vida.
Por acaso, daquilo que escrevo, até acharia possível aos leitores concluírem alguma coisa a este respeito... Se não o acha possível, eu até percebo, mas não faça ointelectualmente desonesto exercício inverso.

Sérgio Costa disse...

gostei da definição, por parte de Louçã, para este tipo de politicos - anfibios

Anónimo disse...

Quanto à definição de Louçã "Takes ono to know one", e nunca me pareceu que ele fosse qualquer tipo de execpção para confirmar a regra, não porque o conheça, mas porque se trata de um politico idealista de esquerda...Isto já não caducou, implodiu e demonstrou que fracassou na sua realização???

Anónimo disse...

Deve ser frustrante ser-se anónimo...

Anónimo disse...

Parabéns pela opinião manifestada.

À mulher de César...

Anónimo disse...

Estou completamente frustrado....!!

Anónimo disse...

Mas não deixas de ter piada