14 de abril de 2008

A ler

Mário Crespo, hoje, no Jornal de Notícias:

"Claro que a Mota-Engil tem hoje interesses no estrangeiro, mas não me parece que Jorge Coelho tenha sido contratado para dar o seu parecer sobre a estrada entre Perote e Banderilla, que está agora a construir no México. A vantagem de ter um presidente executivo como Jorge Coelho é local. Só pode ter sido a sua agenda de contactos que a Mota-Engil adquiriu porque essa é a sua grande mais-valia. É nesta capacidade única de fazer rede entre o Estado, interesses privados, políticos e público-privados que reside o nexo de causalidade da escolha de um operador político para um lugar de gestão. Este acto, conjuntamente com o caso BCP, assinala uma capitulação a uma realidade insofismável.

A maior parte do sector privado lusitano só quer e, se calhar, só pode subsistir associado à tutela estatal e não tem pejo em subordinar-se aos operadores puramente políticos, abandonando a evolução de culturas de empresas inovadoras desenvolvidas por gestores profissionais que pusessem, finalmente, o mercado a funcionar em Portugal. No curto prazo, este hesitante sector privado nascido dos cravos de Abril parece ver mais ganhos incorporando governos em si próprio do que emancipando-se de tutelas constrangedoras. Claro que daqui para a frente não haverá concurso que a Mota-Engil ganhe (ou perca) onde não se detecte a impressão digital de Jorge Coelho e não se fique com a sensação de que o mercado não está a funcionar."

3 comentários:

psergio57 disse...

A páginas tantas M. Crespo, quanto a mim o jornalista mais independente em Portugal, escreve também: "Houve um elemento que se destacou na ‘Quadratura do Círculo’ quando Pacheco Pereira enunciou o problema da ida de Jorge Coelho para a Mota-Engil. Foi o silêncio de Jorge Coelho. Ouviu coisas terríveis a seu respeito e ouviu-as impávido. (...) Perde-se o pudor, fica-se com o poder.”
Mário Crespo, "Jornal de Notícias", 14 de Abril de 2008

samuel disse...

Essa evidente "nódoa" nas fotografias dos futuros projectos foi cuidadosamente contabilizada e os lucros devem cobrir largamente esse hipotético prejuizo na imagem.

Anónimo disse...

Jornalistas Independentes é que são precisos, o mais independente, não chega para ser levado em consideração...Mas enfim é que temos...

Apesar disso, M. Crespo toca na ferida "No curto prazo, este hesitante sector privado nascido dos cravos de Abril parece ver mais ganhos incorporando governos em si próprio do que emancipando-se de tutelas constrangedoras"...
A meu ver, só se pode culpar os sucessivos Governos que insistem em manter este sector privado como as elites do nosso País. Está à vista o porquê na famosa frase de Coelho "Eu não sou rico"...por enquanto :)