Mas também não me agrada a aplicação de um sistema eleitoral maioritário, nas eleições legislativas. Os sistemas maioritários, apresentam-se, geralmente, com círculos uninominais, circunscrições em que cada partido tem apenas um candidato e em que the winner takes it all, ou seja, é apenas eleito um deputado – o mais votado, naturalmente – por círculo, ficando as outras forças políticas afastadas do poder.
Ora, um sistema deste tipo tem uma desvantagem óbvia: favorece o bipartidarismo. Assim, é fácil imaginar PS e PSD a conquistarem a quase totalidade dos mandatos, o que relegaria três dos actuais cinco partidos (PCP, CDS-PP e BE) para fora da representação parlamentar (à excepção, talvez, do PCP, elegendo alguns deputados por determinados círculos do Alentejo).
Para percebermos o quanto isto é verdade, basta olharmos para o caso inglês, onde vigoram os círculos uninominais: tories e Labour ocupam a quase totalidade dos lugares do Parlamento, não deixando espaço para a afirmação dos liberais. Aliás, para que o Labour se afirmasse, os wighs tiveram que desaparecer, porque só há espaço para dois partidos.
No entanto, é inegável que, neste sistema, o eleitor vota num partido e num candidato a primeiro-ministro, mas também num seu representante. Aqui, cada deputado é eleito por um círculo regional e representa efectivamente essa área geográfica e a sua população. Assim – e ao contrário do que acontece nos sistemas proporcionais – dá-se uma óbvia aproximação entre eleitos e eleitores.
Além disso, é mais fácil substituírem-se os deputados, na medida em que é mais fácil apurar as suas responsabilidades (cada um é responsável pela circunscrição que o elegeu). Do mesmo modo, diminui, obviamente, a influência dos partidos sobre os deputados eleitos, o que, na prática, significa que estes são mais autónomos das ordens das direcções partidárias.
Porém, um sistema maioritário põe fim à proporcionalidade, logo, afasta da Assembleia muitas correntes políticas. E eu nunca defenderia um sistema que não representasse de forma fiel os votos, que deixasse de espelhar a Nação – como o faz um sistema proporcional – para dar apenas voz aos locais.
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1 comentário:
Estupefacto, pergunto: então a única forma de "representar a Nação" é o retalho geográfico?
Qual a razão para um tal monopólio?
Será que não existe igual legitimidade para uma estratificação eleitoral, por exemplo, por sexos? Ou por níveis etários?
O que é que interessa mais a um eleitor, digamos, de 19 anos, é que o "seu" Deputado viva algures na sua Cidade, ou que seja um jovem como ele?
Em vez de círculos eleitorais de base geográfica (o que revela um simplismo e um conservadorismo chocantes), uma política de margem esquerda deveria começar por questionar se não seriam igualmente legítimos círculos eleitorais de outro tipo de bases:
- por níveis etários;
- por escalões de I. R. S.;
- por actividade socio-profissional;
- por confissão religiosa;
- por origem etno-cultural!
Em vez de um Parlamento de Deputados localistas, olha ali vai o de Ílhavo, aquele é o de Sobral de Monte Agraço, poderia muito bem dizer-se aquele é o Deputado dos idosos entre 75-80 anos, o que vai ao lado é o Deputado dos ricos, atrás segue o dos remediados, mais à frente vai o dos Médicos, ao lado do das Testemunhas de Jeová e do dos agnósticos...
;-))
Ficou clara a minha incompatibilidade com a estratificação da representatividade nacional dos Deputados em sub-representatividades, de base geográfica (como actualmente) ou outra?
Pois é, a solução é acabarem-se com os "círculos" eleitorais (Portugal até é um rectângulo...) e votar-se para um UNIVERSO ELEITORAL ÚNICO, como acontece para a Presidência da República, ou para o PARLAMENTO EUROPEU!
Assim é a única forma de se respeitar a vontade do eleitorado, sem truques nem batotas de secretaria (apenas com os limites da Matemática...).
Aposto que, num sistema eleitoral deste tipo, em que OS VOTOS DE TODOS CONTASSEM POR IGUAL, a abstenção seria drasticamente reduzida...
E há mais, se estiverem interessados. Mas noutra ocasião, que o tempo escasseia...
Saudações democráticas,
Ant.º das Neves Castanho.
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