15 de novembro de 2007

As estradas do Estado...

As vias de comunicação são um dos mais importantes elementos de coesão de qualquer território nacional e de sedimentação do poder do Estado. Os Romanos perceberam-no bem: os territórios conquistados eram automaticamente "inundados" de vias, que ligavam o mais remoto canto do Império à capital. Todos os caminhos iam dar a Roma.
Serve isto para dizer que este governo, não estando a privatizar as nossas estradas - porque a empresa que as gere se mantém com capitais públicos - está a abrir caminho a que, de futuro, se deite fora um património histórico que continua, milénios passados, a ter a sua razão de ser.
Mas com a passagem das Estradas de Portugal de E.P.E. a S.A. - mudança que faz com que a empresa possa, a partir de agora, ser privatizada -, o governo também abre caminho a que aquilo que tantos milhões custou aos cofres do Estado - e, como tal, aos bolsos de todos nós - e que tem servido de base ao nosso modelo de desenvolvimento, possa vir a ser entregue apenas a alguns.
Quer se tenha concordado ou não, a verdade é que Portugal condicionou o seu desenvolvimento a estas infra-estruturas (a "política do betão", lembram-se?). O modelo de desenvolvimento agora aponta para a inovação. Muito bem. Mas isso quer dizer que se pode alienar aquilo que foi quase desígnio nacional? Por muito que o anterior modelo estivesse errado (as comparações com a Irlanda são inevitáveis, já sei...), foi o modelo seguido pelo Estado português, com o inevitável esforço financeiro de todos nós. Abra-se agora a porta a fazer tábua rasa de tudo isto...
Mesmo que ESTE governo não esteja a pensar levar a cabo uma operação de privatização das Estradas de Portugal (o que eu até acredito), tem de ter a coragem de assumir que, a partir de agora, tal pode ser feito. E que, daí, advêm consequências. As que referi e outras, mais comezinhas, mas que afectarão provavelmente muito mais a nossa vida quotidiana...
Proceder a uma alteração deste tipo terá certamente vantagens ao nível da gestão (senão, provavelmente não se faria), mas é claramente um passo num sentido errado.

3 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Também me parece.


Se o Estado não consegue tomar boa conta das suas estradas e caminhos-de-ferro, também não conseguirá fazê-lo das suas escolas, dos seus hospitais, dos seus tribunais, dos seus quartéis...


O passo que, conscientemente ou não, agora foi dado, levado às suas últimas consequências teóricas e práticas, levará um dia à privatização da própria Administração Pública, incluindo, claro está, o Governo!


Apenas pergunto: e a seguir, o quê?

psergio57 disse...

Pareceu-me caricata a forma como a a 'desorçamentação' das estradas foi conduzida por Sócrates no debate do orçamento. É claro que a concessão estava a principio atribuida por 99 anos, como denunciou Louçã...depois veio a 'cosmética' e passou para os 75 anos. Não que faça muita diferença mas é revelador de um padrão de actuação...

Anónimo disse...

Pasmado...

Sem querer ofender sensibilidades, se fosse o CDS/PP ou o PSD a ter tal iniciativa, já tinhamos a esquerda em peso a acusar o governo de tudo e mais alguma coisa, inclusive de Fascistas...

Se governar um país como o nosso implica algum seguidismo relativamente a outros Estados da UE,estas medidas extravasam em muito qualquer tipo de pressão.

Estes dirigentes, criticaram e muito a venda de património para salvaguardar o Défice... se calhar mais valia vender algum património, desde que não seja ao desbarato, e não descuidar no investimento estatal ou aumentar tanto o custo de vida, do que ter este tipo de iniciativas, estes pequenos paços para não se sabe bem o quê...