A Visão é (era?) o meu órgão de comunicação preferido. Assino-a há anos, leio -a todas as semanas, concedo-lhe a máxima credibilidade. Nunca me desiludiu. Até hoje!
Ao ler a edição desta semana, deparei-me com um artigo - de título "Estranhas alianças" (não consegui linkar...) - que versava sobre os casamentos em que um dos cônjuges é homossexual. Dito assim, nada de mau parece advir. Pois... Mas, o ângulo de abordagem foi o pior possível!
O artigo - de seis páginas, seis - começa com um "Há quem acredite que é possível ter o melhor de dois mundos, sem perder nenhum." e diz lá pelo meio que "Homossexuais e bissexuais continuam a casar com alguém do sexo oposto, mesmo quando já não precisam de fazê-lo, numa sociedade mais aberta.".
Pergunto eu: quem é a autora do artigo para julgar quem quer que seja? Que eu saiba não é isso que se exige a um jornalista... Mesmo tendo investigado o tema, como é possível dizer-se que um homossexual se casa a pensar em conjugar o melhor de dois mundos? Ou que, se hoje já temos uma sociedade tão "boazinha" para os gays, porque é que estes insistem em querer casar-se com alguém de sexo diferente?!
Até aqui, tudo mal, mas iria ainda ficar pior. Quase a terminar, havia que dar voz aos "especialistas", pois claro. Até para que nós, leigos ignorantes, engolíssemos estes disparates!
Vai daí, toca de lembrar as "pesquisas" do psiquiatra Van den Aardweg, que considerava a homossexualidade "um transtorno de tipo neurótico desenvolvido na infância ou na adolescência".
Já chega? Não. Há ainda que citar Margarida Cordo, terapeuta familiar - ao que consta... - que segue casos em que o cônjuge homossexual se quer "tratar" e que nos diz, então, que "A homossexualidade é um transtorno da identidade sexual, uma doença e tem recuperação.".
E pergunto eu, mais uma vez: a que propósito é que a Visão dá voz, espaço e até holofotes (porque o artigo tem chamada na capa) a gente desta?! É que já ninguém mentalmente e moralmente saudável pensa desta forma. "Ouvir os dois lados da questão", como nos ensinam as escolas de jornalismo, não significa ouvir os loucos!
Gostava de saber se a Visão citaria alguém que dissesse este tipo de alarvidades a respeito de outros assuntos, a respeito dos negros, por exemplo. Claro que não! Porque alguém que se mostrasse preconceituoso nessa área não seria - e bem, e muito bem - considerado especialista de coisa nenhuma.
Não percebo, juro que não percebo, como é que a Visão trata este tema, sob este ângulo, com estar observações, ouvindo gente desta…
10 de novembro de 2007
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7 comentários:
Pois!... Há muito que a Visão me anda a decepcionar, e sou cada vez mais candidata a futura-ex-assinante!
Quanto ao tema, a questão é simples: para vender mais (ai, a Sábado!...)procura-se ir ao encontro do pensamento de qualquer alminha, da mais conservadora à mais revolucionária, da mais ignara à mais culta.
Prescinde-se também da investigação, do aprofundamento dos temas, e abdica-se do desejo de informar e de, ao mesmo tempo, confrontar o "leitor-médio" com qualquer pensamento que possa melindrá-lo e afastá-lo da compra da próxima edição.
Sob a capa de uma pretensa pluralidade de pontos de vista dá-se voz a preconceitos e a anacronismos científicos.
Vale tudo, para não descer nas vendas, e a Visão não quer discriminar ninguém, muito menos chocar o país com ideias "arrojadas"...
Quanto ao grande jornalismo, foi-se...
Mas, também, onde estão os jornalistas para o fazer, na redacção da Visão?...
PS: E para os ler, ainda há alguém?
A isso chama-se discriminação pois a forma como se conduz uma reportagem pode muito bem acentuar uma tendência de opinião. Não é correcto mas infelizmente, há quem goste.
Gradualmente a visão foi ficando míope.
Vai acabar como o jornal "O Jornal".
É urgente fazer uma operação às cataratas.
Gradualmente a visão foi ficando míope.
Vai acabar como o jornal "O Jornal".
É urgente fazer uma operação às cataratas.
:D
Fantástico, uma doença! No século XXI um órgão de comunicação social de um país democrata e pluralista, e que se entende como sério ainda publica pérolas destas.
E se for mesmo uma doença?
Não consigo atingir o que se pretende provar com este tipo de afirmações superficiais. Admitamos que a tal especialista tem razão (mesmo que por hipótese de redução ao absurdo, se quiserem).
Vamos seguir uma linha coerente de raciocínio: se a homo-sexualidade é uma "patologia", então poderá (?) ser tratada.
Se o paciente não quiser submeter-se ao "tratamento", passará a ser "culpado" da sua doença! É isto que se pretende desmistificar?
Bom, então temos que admitir que um fumador, ou um alcoólico, que não se trate não merece compaixão da sociedade. É isso?
Se a homo-sexualidade for, eventualmente, uma certa forma de disfunção, repito, se FOR, isso é completamente IRRELEVANTE para a produção de um juízo MORAL sobre os homo-sexuais, ou não?
De igual modo se o não for (como todos parecem concordar). Então, concluamos: o problema não está nas (livres) opiniões das pessoas entrevistadas, estará talvez naquelas que, preconceituosamente, não só não admitem ouvir opiniões contrárias às suas, como temem ser confrontadas com as suas próprias convicções e conceitos morais.
A cada um a sua reflexão própria...
Mas afinal é ou não um transtorno de tipo neurótico desenvolvido na adolescência?
Parece que nada ficou provado. E desculpem lá a minha mentalidade científica que talvez não seja muito politicamente correcta. Como a de Galileu na época.
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