23 de janeiro de 2008

O feminismo ainda faz sentido

"... embora representem 59 por cento dos diplomados universitários e possuam um melhor nível de estudos, as mulheres continuam a ter uma taxa de emprego 14,4 por cento inferior à dos homens e ganham, em média, menos 15 por cento do que os seus colegas masculinos por cada hora de trabalho.
O documento [relatório anual da UE sobre a igualdade entre homens e mulheres] revela igualmente que as mulheres se deparam com maiores dificuldades para atingir postos de decisão, na medida em que a proporção de mulheres dirigentes nas empresas progride muito lentamente e não ultrapassa os 33 por cento.
O equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada é outro domínio em que subsistem diferenças entre mulheres e homens, sendo de assinalar que a taxa de emprego das mães de crianças pequenas é de apenas 62,4 por cento, contra 91,4 por cento dos pais." (PortugalDiário)

Perante estes factos, pergunto eu: por que razão tanta gente se escandaliza quando afirmo que sou feminista?
É que enquanto houver diferenças de direitos entre sexos (e estas diferenças não são apenas formais, são também - e mais importantes - reais), faz todo o sentido continuar a lembrar a injustiça que isso representa e a reivindicar igualdade. Igualdade de acesso ao emprego, igualdade na progressão na carreira, igualdade na partilha das tarefas domésticas...
Tem sido esse esforço que faz com que estejamos melhor agora do que há 2500 anos, no berço da nossa civilização.

4 comentários:

Helena Henriques disse...

Nem mais!

psergio57 disse...

Ontem à saída de uma maratona de reuniões da escola sobre a nova avaliação de docentes em que saímos às 20.00 h uma colega virou-se para mim e perguntava-se: 'Com três filhos pequenos por quanto tempo irei aguentar este ritmo?' A (falta de) divisão do trabalho doméstico é um das consequências da educação machista característica da nossa latinidade. Qual a percentagem de pais que optam pela licença de paternidade? E a falta de apoios institucionais à natalidade e à infância colocam muitas mulheres numa situação insustentável quando toca a competir com os homens no mercado de trabalho; a maternidade não é rentável para o empregador e Estado demite-se das suas responsabilidades. Depois queixam-se do envelhecimento da população...

Ana Rita Ferreira disse...

e isso começa logo com a inocente perguntinha do entrevistador para um hipotético emprego: "é casada?", que é a maneira soft de nos perguntarem se estamos a pensar ter filhos brevemente... a partir daí, é sempre a piorar!

Anónimo disse...

Essas são as diferenças mais vísiveis, essa é a discriminação mais óbvia! Que igualmente me preocupa.
E aquele machismo - direi mesmo, misogenia - que não se vê, que ainda existe latente, no mais profundo da nossa alma, coração e mente, de homens e mulheres, de todas e quaisquer idades? Aquela fogueira sempre acesa no meio da praça pública?! Não, não estou a falar da Idade Média. A "caça às bruxas" é uma forma de pensamento e uma prática mental altamente destrutiva e demolidora que infelizmente não é apanágio dessa época. Sente-se indelevelmente à nossa volta, até nos mais próximos e que supostamente nos amam mais (amor nem sempre é sinónimo de respeito).
A História, incluindo a História recente dos povos, traz-nos inúmeros exemplos dessa triste realidade. As nossas próprias vidas pululam de maus exemplos nesse sentido. Há que nunca baixar a guarda!
Quanto mais envelheço (quase cinquenta), mais feminista sou.
Por acaso,até ando a ler uma obra que se desenrola, em Portugal, em meados do século XX, sobre a "loucura" de uma mulher que deixou o marido e fugiu com um amante e que acabou internada num manicómio... Recomendo vivamente: "Doidos e Amantes", da Agustina Bessa Luis.

Lia