"The Archbishop of Canterbury has been widely criticised after he called for aspects of Islamic sharia law to be adopted in Britain.
(...)
The Archbishop provoked the row by saying Britain had to "face up to the fact" that some citizens did not relate to this country's legal system and argued that officially sanctioning sharia law would improve community relations.
He said there was an argument that aspects of sharia law, such as those involving divorce, financial transactions and the settling of disputes, could be accommodated with British legislation." (Telegraph)
Portugal não tem (ainda?) os problemas levantados pelo multiculturalismo que já se vivem noutras partes do mundo. Na Grã-Bretanha, há muito que se debatem com eles. Agora, até um arcebispo acha que se deve introduzir a lei islâmica no país, que ela até tem muitas virtudes! Vá lá que não referiu a morte por lapidação ou as chibatadas como algumas das ditas vantagens...
A verdade é que este tipo de discurso não é novo e, parecendo ser inclusivo e tolerante, tem o efeito oposto e torna-se em muitos casos perigoso.
Em primeiro lugar, impõe com toda a força o relativismo e, consequentemente, assume que há questões em que os nossos (leia-se, ocidentais) valores podem ser postos entre parenteses e até altamente contrariados em nome da tolerância e da aceitação do Outro. Exemplo: "Eu já considero que é crime bater numa mulher. Tu achas que não? Então, está à vontade!" (Note-se que fui suave, porque podia ter escolhido a excisão como exemplo...).
Direitos diferentes para culturas diferentes não é sinónimo de tolerância, nem de inclusão, é antes a negação da importância e da dignidade da nossa lei, que levou milhares de anos a construir.
Nos países ocidentais, advogamos uma série de práticas e proibimos outras tantas. Proibimo-las. Ponto. Não as proibimos aos cidadãos ocidentais com ascendência judaico-cristã. Proibimo-las a todos, porque nos parecem inadmissíveis. E isto não pode nunca ser posto em causa. Por um lado, porque isso significaria pôr em causa a nossa própria base cultural (seria isso justo?), por outro lado, porque levantaria problemas práticos inacreditáveis e de impossível resolução.
Imaginemos que uma mulher britânica se casa com um homem muçulmano. Qual a lei que regerá um hipotético divórcio? Imaginemos um caso de violência doméstica. Deixa de ser crime se o casal for muçulmano?
O multiculturalismo é das coisas mais positivas que as nossas sociedades apresentam nos dias de hoje. É um fenómeno social que merece um olhar político verdadeiramente inclusivo e tolerante, não políticas multiculturalistas que, em seu nome, intoduzam leis e princípios contrários à cultura que nos deu tanto trabalho a construir.
8 de fevereiro de 2008
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5 comentários:
"O multiculturalismo é das coisas mais positivas que as nossas sociedades apresentam nos dias de hoje. É um fenómeno social que merece um olhar político verdadeiramente inclusivo e tolerante, não políticas multiculturalistas que, em seu nome, intoduzam leis e princípios contrários à cultura que nos deu tanto trabalho a construir."
Creio que a questão estará um pouco na polissemia do "multiculturalismo". Já escrevi várias vezes contra as "políticas" (como tu dizes e parece-me muito bem), embora nada tenha a opôr ao fenómeno do pluralismo racial, religioso, etc..
Tenho de resto para mim que o multiculturalismo, uma das bandeiras de alguma Esquerda, é não só uma ideia de facto, como também de nascimento, conservadora.
Um dos resultados desse abastardamento da ideia de tolerância tem sido a fuga de pessoas que estavam no campo socialista para o campo liberal, muito mais coerente na defesa da liberdade.
De acordo com o post.
"Proibimo-las a todos, porque nos parecem inadmissíveis. E isto não pode nunca ser posto em causa."
Ora nem mais!
Vamos lá ver, vivemos em estados laicos, parece-me que o clero anda esquecido, e com ideias de imiscuir-se no poder temporal. Primeiro a carta episcopal dos espanhóis a aconselhar os fieis a votar no PP por causa do aborto e dos casamentos homossexuais, e agora este cromo. Se os senhores religiosos entendem que o cumprimento da fé deve ser coercivo, fraca confiança na fé dos seus fieis e na sua capacidade de polarizá-la; azar, o Estado não tem nada com isso. Tratem de resolver de outra maneira e no respeito do poder temporal.
Os fundamentalistas não são exclusivo de uma religião, grassa em todas. No fundo todas elas, querem ter o privilégio de prender ( abrigar para os mais conservadores) o maior numero de almas às suas eclesiásticas convicções e poder contar com o maior numero possível de cabeças no seu rebanho de Fé. E para que assim seja todos os purgatórios são possíveis nos espíritos ( muitas vezes mal ) iluminados dos embaixadores de "DEUS" aqui na Terra. Ámen!
(Devo que confessar que sou católica praticante, pouco frequentadora de missas. A figura de Jesus Cristo é fascinante e uma referência para mim.)
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