Vi agora as imagens do tão falado encontro de Cavaco com os "jovens" (o tal para que não convidou os jovens do Bloco de Esquerda, continuando com o seu "mandato irrepreensível" que tantos admiram...).
Mas... bem... achei estranho que muitos desses "jovens", que se apresentaram em Belém, parecessem ter idade para ser meus pais... Hum...
13 de maio de 2008
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2 comentários:
a juventude não tem idade, desde que muitos dos adultos decidiram abdicar da sua maturidade.
parece que ninguém quer passsar dos 30 anos.
o que é que havemos de fazer?
Mais notável ainda é o senhor presidente interrogar-se incrédulo acerca do desinteresse dos jovens pela política, sem uma sombra de inquietação pessoal, de hesitação gerada num recanto da sua consciência. Pergunto-me o que andava o professor Cavaco a fazer (politicamente) na idade deles? Questiono-me também se a neutralização axiológica da política que operou nos seus governos, transformando-a no domínio cinético das soluções técnicas e numa gestão social feita em infinitos gabinetes não terá (um pouco que seja...) a ver com isso.
A política - sobretudo para nós que pertencemos ao Sul simbólico e epistemológico (que não apenas geográfico) - pertence à "agora"; é uma "longa conversação"(Oakeshott), sem roteiro nem guião, de facto, mas sobretudo feita na praça (nos cafés, como recentemente lembrava o Steiner...), em público, em comum, contrariando a privatização generalizada da vida em que tem insistido recentemente o Bauman. O Presidente da República, que deve ser, acima de tudo um cidadão exemplar, i.é., o "modelo" do cidadão, não foi capaz de conversar com os "jovens", sem o auxílio de um papel, mantendo-se rígido e hirto como sempre, naquele desconforto indisfarçável para "proferir palavras" (a vocação dos grandes homens como Aquiles, a par do "agir", no Homero). Escudou-se em estudos, precisando sempre dessa muleta legitimante do especialista, em vez de, como homem político discretear -sem ser necessariamente ligeiro - com o mínimo de entusiasmo, sobre o que diz respeito à República. Enfim, no mesmo tom desalentado, penso como pode um homem daqueles inspirar alguém, incutir-lhe gosto pela política, levá-lo a acreditar no que quer que seja de catalizador, em termos sociais...Não. Aquele senhor pertence à casta dos tecnocratas, dos "religiosamente amusicais", podiamos brincar (invocando o Weber, que até escreveu especificamente sobre "der Politiker"). Não é naturalmente, nem político (aquele a quem nada na "polis" é alheio, para parafrasear o Terêncio), nem democrata (crente no poder dos "n'importe qui" do J. Rancière). Com esforço, por educação e socialização elementares, acaba por sê-lo. Mas não basta, para fazer algum sentido. E a política é nobre justamente como fautora de sentido.
Não sei o que hei-de dizer aos alunos que chegam à Faculdade todos os anos que os faça ter esperança (talvez o verdadeiro património da esquerda) e os leve a querer participar, a abrir brechas na imanência esmagadora das coisas, conservando o mínimo de ironia rortiana que nos precata contra voluntarismos excessivos...Uma coisa é certa: ninguém, julgo, quer ser como o senhor Aníbal...
Luis A. Malheiro Meneses do Vale
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